Reencontro após dias de pesadelo Funcionária pública recebeu de volta a filha de um ano e dez meses, que foi levada pelo pai em 10 de julho. Ele foi preso e encaminhado ao Cotel

Wagner Oliveira
wagneroliveira.pe@dabr.com.br

Publicação: 26/07/2016 09:00

Criança foi trazida pela delegada Gleide Ângelo e devolvida a Cláudia Cavalcanti após desembarcar no aeroporto (Peu Ricardo/ESP. DP)
Criança foi trazida pela delegada Gleide Ângelo e devolvida a Cláudia Cavalcanti após desembarcar no aeroporto

O abraço do reencontro foi apertado e demorado. Depois de 15 dias longe da filha, a servidora pública Cláudia Cavalcanti, 42 anos, recebeu a menina dos braços da delegada Gleide Ângelo. A criança de um ano e dez meses havia sido levada pelo pai desde o último dia 10. Júlia Alencar e a equipe de policiais pernambucanos chegaram ontem ao Recife, por volta das 12h30. Uma multidão esperava ansiosa para ver mãe e filha juntas, além de cumprimentar a chefe das investigações. O pai da menina, o engenheiro Janderson Barbosa Alencar, 29, preso na noite do último sábado, no estado do Amapá, veio no mesmo voo que a filha e os policiais. Depois de fazer exames no Instituto de Medicina Legal (IML), foi levado para o Cotel, em Abreu e Lima.

Segundo a delegada, ele foi preso em cumprimento a um mandado pelo artigo 237 do Estatuto de Criança e do Adolescente (ECA), que corresponde a subtrair criança ou adolescente com o fim de colocação em lar substituto. A pena é de reclusão de dois a seis anos. “Graças a Deus, trouxemos Júlia de volta. Janderson estava muito perto de deixar o Brasil. Amanhã (hoje), ele já iria sair de Santana, no Amapá, com destino a outro lugar até chegar à Guiana Francesa. Ele me disse que não iria desistir de morar com a menina. Falou isso quando estávamos indo para o aeroporto”, contou Gleide Ângelo.

Dezenas de curiosos e pessoas que se comoveram com a história de Júlia fizeram uma festa quando viram a menina nos braços da mãe e ao lado da delegada. Aplausos, gritos, fotos e muitas filmagens foram o que se viu na área de desembarque. “Delegada, a senhora é rocheda. Eu sabia que iria dar tudo certo”, gritou uma mulher enquanto registrava as cenas. “Senti uma emoção muito grande quando peguei Júlia nos braços e outra maior ainda quando a entregamos à mãe dela. Saímos do Recife dizendo a Cláudia que só voltaríamos com a filha dela. Passamos momentos de desespero. Foi um trabalho muito difícil, mas agora Júlia está em casa novamente”, ressaltou Gleide. Também trabalharam com ela a delegada Fabiana Leandro e o chefe de investigação Raldney Júnior.

Além de rever a mãe, ontem Júlia reencontrou também a avó materna, o tio, a tia e uma prima da mesma idade. Dentro de uma sala da Delegacia do Turista, no aeroporto, recebeu o carinho dos familiares, brincou um pouco e comeu biscoito e banana. “Apesar de estar meio fraquinha, ela ficou feliz quando viu a mãe e todos nós. Ela chorou com emoção”, disse o irmão de Cláudia, o contador Fábio Cavalcanti, 39.

Segundo a polícia, Janderson deixou o Recife no mesmo dia em que pegou Júlia na casa da mãe dela. “Ele pegou a menina às 9h e às 11h já estava dentro do ônibus indo embora para Natal. No dia 14 ele saiu de Natal e foi para Mossoró e depois seguiu para Fortaleza. Daí em diante foi para os estados do Norte. As viagens eram muito longas e a criança ficou muito cansada. Depois que chegou a São Luís, no Maranhão, ele passou a se locomover de táxi e depois de barco. Somente a um taxista ele pagou R$ 1,8 mil”, revelou Gleide Ângelo. Ao todo, pai e filha percorreram 3,5 mil km e pararam em nove cidades de cinco estados.

À polícia, Janderson negou que tivesse feito um saque bancário no valor de R$ 400 mil, como apurado pela investigação inicialmente. “Encontramos R$ 26,6 mil com ele. Janderson também falou que tirou uma quantia de R$ 150 mil há dois meses e que teria gasto grande parte numa viagem internacional. Disse que quando fugiu com Júlia estava com R$ 40 mil”, explicou a delegada.

Também esteve no aeroporto o irmão de Janderson. Para Jefferson Alencar, o engenheiro teve “os motivos dele” para ter levado a menina. “Fui criado com ele. Meu irmão não é bandido. Estão tratando ele como bandido. Não concordo com o que ele fez, mas ele tem os motivos dele. Vocês ouviram o lado da Cláudia e têm que ouvir o dele. Ele vai falar os motivos”, declarou. Janderson voou para o Recife na última fileira do avião, escoltado pela polícia. Ele desceu pela porta traseira da aeronave direto para um ônibus da Infraero, de onde foi levado até uma viatura da Polícia Civil descaracterizada.