EDUCA PE » Quando o rap rima com cordel Criado em 2012 em Olinda, projeto que mistura as duas expressões culturais cresceu e foi incorporado como oficina na rede estadual

Anamaria Nascimento
anamarianascimento.pe@dabr.com.br

Publicação: 17/10/2016 03:00

Professor de história e poeta Edgar Diniz (embaixo à esquerda) criou projeto. Alunas descobriram o poder da interpretação de um texto através do jogo de palavras em estilos diferentes. Alunos também trabalham no resgate de tradição nordestina.  (Fotos: Peu Ricardo/Esp.DP)
Professor de história e poeta Edgar Diniz (embaixo à esquerda) criou projeto. Alunas descobriram o poder da interpretação de um texto através do jogo de palavras em estilos diferentes. Alunos também trabalham no resgate de tradição nordestina.

“Na escola que eu estudo a arte se faz presente. Nós temos maracatu, o cordel e o repente. Teatro e também o rap para contagiar a gente.” Os versos cantados em ritmo de rap e escritos por estudantes da Escola Estadual Guedes Alcoforado são como um manifesto de um grupo de adolescentes que quer ser “visto e ouvido”. O dom musical de meninos e meninas com idades entre 14 e 19 anos veio à tona por meio do projeto Rap e Cordel nas Escolas, do professor de história e poeta Edgar Diniz.

Criado em 2012, o projeto começou na Guedes Alcoforado, em Olinda, mas fez tanto sucesso, que foi adaptado para servir à toda a rede estadual de ensino. “Comecei com o projeto Educando em Cordel, que cresceu e foi visto pela Secretaria Estadual de Educação, que me tirou da escola para que eu pudesse mediar oficinas em toda a rede”, conta o professor. Em 2015, junto ao colega de profissão Sandro Félix, que é DJ, o projeto virou o Rap e Cordel nas Escolas, que mistura as duas expressões culturais.   

O objetivo do projeto é fazer os estudantes conhecerem e respeitarem a variedade linguística e cultural como expressão artística do povo além de reforçar a noção de identidade e o sentimento de pertencimento dos alunos. “Percebemos ainda que o projeto melhorou muito a autoestima dos estudantes. Eles se sentem valorizados, pois protagonizam o processo de aprendizagem”, pontua Edgar.

Apenas este ano o projeto já passou por três escolas estaduais. O primeiro momento da intervenção do professor e poeta na unidade de ensino é a formação interdisciplinar dos professores. Depois, o gestor indica uma turma para um trabalho mais focalizado. “Conversamos sobre as características da literatura de cordel, trabalhamos a interpretação de texto e encerramos com a produção coletiva de um cordel”, explica.
 
Importância
“Para integrar o projeto, o professor pede disciplina dos alunos envolvidos, então participar fez com que meu comportamento mudasse”, conta o aluno Bruno Ferreira, 19.

O escritor e cordelista Arievaldo Vianna ressalta que, desde que surgiram os primeiros folhetos, no século 19, a literatura de cordel tem sido uma poderosa ferramenta de alfabelização e incentivo à leitura do Nordeste. “Hoje, é preciso que haja mais apoio, mais incentivo dos governantes na aquisição de folhetos e na contratação de poetas para realizar palestras sobre esse gênero literário”, defende.

Arievaldo é autor do projeto “Acorda Cordel na Sala de Aula”, que propõe a revitalização do gênero e sua utilização como ferramenta paradidática em turmas de ensino fundamental, médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

“É importante que o professor tenha mais intimidade com o assunto, para não ficar resvalando no terreno da coisa puramente folclórica. O cordel é uma arte viva, em movimento. Tem que ser respeitado como um gênero literário”, afirma.

Guia prático

Como usar a literatura de cordel em sala de aula:

  • 1º passo
    Após se preparar com um bom cordel, ou seja, com uma boa história, o professor deve fazer a mediação de leitura.
  • 2º passo
    Na sala de aula, ele lê a história, do começo ao fim, com o ritmo e as rimas exigidas, atentando tanto para a marcação dos versos quanto para as frases, que sempre devem fazer sentido.
  • 3º passo
    Em seguida, o professor pode ir explorando assuntos, com perguntas básicas do tipo “onde ocorre a história?”; “quando ocorre essa história?”;“quem está na história?”; “o que é corriqueiro nesse universo?”; “e o que altera a normalidade?”; e, assim, por diante.
  • 4º passo
    A partir de cada resposta, o professor vai construindo junto com os alunos os significados e as interpretações. Todas as respostas são úteis para reconstruir o universo do cordel e também os valores e emoções que ele carrega.
Fonte: João Bosco Bezerra Bonfim