Entrevista: Maurício Andrade Doutor em engenharia civil e professor de Economia dos Transportes e Gestão das Infraestruturas da UFPE

Publicação: 21/01/2017 03:00

O transporte fluvial é uma alternativa viável para a mobilidade urbana do Recife?
A questão da viabilidade econômica, técnica e ambiental deve preceder a decisão de realizar qualquer investimento em transportes. Deve-se estudar previamente as demandas do serviço dentro da rede de transportes, os custos operacionais, de obras e de manutenção das infraestruturas necessárias, as alternativas tecnológicas disponíveis, a capacidade de pagamento da população usuária face aos custos. É também indispensável avaliar as possibilidade dos modelos disponíveis de financiamento público ou privado e público-privado do serviço além de sua robustez frente aos riscos das variações cíclicas da economia local e nacional e as responsabilidades institucionais no provimento do serviço. Esses pressupostos na sua integridade não parecem terem sido atendidos no caso do transporte fluvial no Recife e essa é uma das razões para seu insucesso presente.

Como seria o transporte fluvial ideal para o Recife?
Um transporte fluvial ideal viável deveria se compatibilizar de forma efetiva à rede de transportes existente e à política tarifária praticada, sem acrescentar déficits orçamentários ao sistema como um todo e sem exigir dos orçamentos públicos, níveis de subsídios incompatíveis com a oferta possibilitada por esse modo. Boas ideias desconectadas da viabilidade econômica tendem a gerar retrocessos e paralizações, como acontece com o sistema de transportes por teleféricos no Morro do Alemão no Rio de Janeiro, paralisado por demanda insuficiente e problemas de sustentabilidade da empresa operadora. Isso denota um projeto superficialmente estudado, como é comum no Brasil em épocas de grande euforia econômica. Estudos prévios e eficientes de viabilidade previnem problemas futuros.

Qual parcela da população mais seria beneficiada por esse tipo de transporte?
Um dos benefícios mais desejados por todos decorrentes de melhorias em transportes urbanos pode ser medido pela redução do tempo médio de viagem, que logicamente está associado, além da velocidade do modo utilizado, com a distância percorrida. Pela diferença das velocidades médias operacionais dos ônibus nos horários de pico de 10 km/h e a prevista de 18 km/h para as barcas, poderia haver um ganho de até 20 minutos em uma viagem de 11km entre a BR-101 na Iputinga e o Centro do Recife, por exemplo. No caso da comparação com o transporte individual, essas diferenças seriam provavelmente menores.