Duas 'Agamenons' para transportar a população Além de extenso, Capibaribe é o um rio de localização central, que hoje divide a cidade, mas pode, no futuro, se tornar um elo entre suas diferentes regiões

Publicação: 21/01/2017 03:00

Imagine poder se locomover de alguns bairros para o Centro do Recife sem precisar encarar o trânsito das ruas e avenidas da capital pernambucana. Para deixar de ser um sonho distante, essa possibilidade precisa ser pautada pelo poder público como estratégia efetiva para aliviar os problemas de mobilidade urbana da metrópole. Vocação para receber o transporte fluvial o estuário do Capibaribe tem. O rio se estende por 280 km no estado, sendo 16 só na capital pernambucana. Se fosse uma avenida, seria uma das maiores da cidade, com mais do que o dobro do tamanho da Agamenon Magalhães, que tem sete km de extensão e é o principal corredor viário do Recife.

Apesar de todo o potencial para ser usada como artifício para desafogar o trânsito, a navegação no Rio Capibaribe acontece, hoje, principalmente para fins turísticos, com passeios de catamarã que acontecem diariamente pelo centro; até os bairros da Zona Norte ou na Ilha de Deus, Zona Sul. “Um grande diferencial do Capibaribe é o fato de ele ser um rio central. Hoje, ele divide a cidade, mas também pode ser um elo dela”, enfatizou o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE), Roberto Montezuma.

Enquanto a navegabilidade do Capibaribe não sai do papel, um projeto para estimular o uso de meios de transporte não motorizados vem sendo tocado na capital pernambucana: o Parque Capibaribe, realizado pela Universidade Federal de Pernambuco em parceria com a Prefeitura do Recife. O projeto de revitalização urbana no entorno do rio deve criar 32 km (considerando as duas margens) de rotas cicláveis e caminháveis, provando que a capacidade do rio para a mobilidade urbana vai além da navegação.

“As margens estão sendo pensadas como um parque não-linear que entra na cidade. Com a construção de uma travessia para pedestres e ciclistas, seja com a criação de uma ponte ou por barco, o tempo de deslocamento entre a Praça de Casa Forte e a Cidade Universitária, que é de 40 minutos estando de carro ou ônibus, cai para 15 minutos usando modais não motorizados, por exemplo”, disse Montezuma.

Beberibe
A mesma potencialidade, porém, não é encontrada no Rio Beberibe, que integra o projeto Rios da Gente como um “braço” na rota Norte. “O nível de degradação do Beberibe nas áreas urbanas do Recife e Olinda é absurdo. Há prioridades ambientais, de qualidade de vida para a população ribeirinha e de funcionamento da macrodrenagem da bacia que suplantam qualquer possibilidade de se pensar em transporte fluvial no Rio Beberibe agora”, observou o professor de Economia dos Transportes e Gestão das Infraestruturas da UFPE, Maurício Andrade.

Por outro lado, segundo o especialista, seria oportuno discutir formas de aproveitamento das vias marginais e da calha do Beberibe para solucionar o problema de mobilidade urbana multimodal e reforçar a capacidade no corredor da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, por exemplo. “Nesse caso, o transporte fluvial poderia ser uma alternativa a ser avaliada, juntamente ou complementarmente a outras mais tradicionais, como ônibus ou BRT, além, obviamente, do transporte por bicicletas”, sugeriu Andrade.

“O rio está ligado da maneira mais íntima à história da cidade. O rio, o mar e os mangues. Assassinatos, cheias, revoluções, fugas de escravos, assaltos de bandidos às pontes, fazem da história do Capibaribe a história do Recife”, (Gilberto Freyre, Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife)

“A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada. O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão”,  (João Cabral de Melo Neto,  Paisagem do Capibaribe)

O Capibaribe:
  • 280 km de extensão
  • 16 km de extensão só no Recife
    Compare:

    Avenida Norte 10 km
    Avenida Agamenon Magalhães  7 km de extensão
    Avenida Caxangá  6,2 km
    Avenida Conde da Boa Vista 1,6 km
  • 7,4 mil km2 é a área da bacia do Rio Capibaribe (7,58% da área de Pernambuco)
  • 42 municípios pernambucanos são banhados por ele
Passa por 14 bairros do Recife:
  • Apipucos
  • Bairro do Recife
  • Caxangá
  • Casa Forte
  • Derby
  • Graças
  • Jaqueira
  • Madalena
  • Monteiro
  • Poço da Panela
  • Santana
  • Santo Antônio
  • Torre
  • Várzea
  • É perene apenas a partir do município de Limoeiro, no seu baixo curso
  • Nasce na divisa dos municípios de Jataúba e Poção, no Agreste do estado
  • Serve como divisa entre municípios pernambucanos e tem foz no Recife
Principais afluentes pela margem esquerda:
  • Riacho Jataúba
  • Riacho Doce
  • Riacho Topada
  • Riacho do Manso
  • Riacho Cajaí
Principais afluentes pela margem direita:
  • Riacho do Mimoso
  • Riacho Tabocas
  • Riacho da Onça
  • Rio Goitá
  • Rio Tapacurá
Fonte: Atlas de bacias hidrográficas de Pernambuco