A madrugada em uma zona de guerra
Moradores viveram minutos de terror e trabalhadores foram surpreendidos com a destruição provocada pelo ataque à Brinks
Ana Paula Neiva
Thamires Oliveira
local@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 22/02/2017 03:00
Proprietário de uma oficina de veículos na Rua Tapajós, José Nivaldo da Silva, perdeu o teto de algumas salas do estabelecimento por causa das explosões |
Todos os dias, durante a madrugada, o vigilante noturno Reginaldo Barbosa, 43 anos, percorre as ruas de bicicleta para fazer a ronda do bairro onde mora, Areias, na Zona Oeste do Recife. Às 3h30 de ontem, o barulho do apito foi substituído por tiros de armamento pesado e explosões. Temendo pela sua vida, Reginaldo voltou às pressas para seu lar. No caminho, ainda recolheu balas e grampos deixados pelos bandidos que roubavam a transportadora Brinks, na Estância. A população dda região, aterrorizada, se viu refém da insegurança dentro da própria casa.
“Quando ouvi os primeiros tiros, vi que desceram mais de 20 homens armados e encapuzados na esquina da Brinks. Eles se espalharam por toda a avenida e estavam com rádios se comunicando. Eu me recolhi logo. Só escutava o barulho de casa. Foi muito tiro”, contou o vigilante. “É um absurdo. Estamos à mercê dos bandidos”, protestou.
Durante a ação, o quarto de uma criança de um ano e oito meses foi atingido por uma bala em um apartamento próximo à transportadora. O projétil perfurou a janela, passou pelo berço e parou no guarda-roupas. A criança, que dorme no quarto todos os dias, estava doente e, por isso, passou a noite com a mãe. “Por acaso, meu filho não estava no quarto na hora. Ele estava com febre, aí eu o tirei de lá para medicá-lo e dormimos juntos. Quando o coloquei na cama para dormir, escutei um barulho vindo do quarto dele. Quando vi que era tiro, me abaixei para me proteger. Foi um livramento de Deus”, contou a mãe, uma policial civil de 32 anos que preferiu não ser identificada.
A família de Sérgio Lopes, 37 anos, passou por momentos de terror dentro de casa, enquanto os bandidos bloquearam a entrada da rua e atiravam para que os carros retornassem o caminho. Ele, a esposa e os dois filhos, de 15 e 13 anos, foram para o último cômodo e deitaram no chão, na tentativa de se proteger dos tiros. “Dava para escutá-los falando, mandando os carros voltarem. E os tiros não paravam, foram cerca de 30 minutos de disparos intensos e muito medo. Minha maior preocupação era de que eles invadissem as casas para se esconder. Tentei proteger a porta colocando o sofá e a mesa na frente e acalmei os meus filhos”, contou o auxiliar administrativo.
Por volta das 7h, quando acordou, Sérgio viu que o carro do seu irmão, estacionado em frente à casa dele, na Avenida Tenente Felipe Bandeira de Melo, foi perfurado por uma bala. “A gente não sente mais segurança nem dentro de casa. E nos causou prejuízo”. No mesmo condomínio, outros dois carros foram atingidos.
Prejuízo de loja de conveniência foi de R$ 200 mil |
“Dava para escutá-los falando, mandando os carros voltarem. E os tiros não paravam. Foram mais de 30 minutos de tiros intensos e de muito medo”, Sérgio Lopes, auxiliar administrativo