Uma cidade apavorada pelo crime Em ataque de proporções inéditas no estado, bandidos armados com arsenal de guerra explodem transportadora e causam pânico na cidade

Ana Paula Neiva
wagner oliveira
local@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 22/02/2017 03:00

Explosão destruiu parcialmente a sede da transportadora, que teve estrutura do prédio comprometida. Caminhonete foi um dos carros usados pelo bando (fotos: Julio Jacobina/DP )
Explosão destruiu parcialmente a sede da transportadora, que teve estrutura do prédio comprometida. Caminhonete foi um dos carros usados pelo bando

Menos de 24 horas após a cerimônia de posse do novo comandante-geral da Polícia Militar, Pernambuco foi cenário de uma ação criminosa de ousadia sem precedentes no estado. Munidos de um arsenal de armas de grosso calibre e explosivos, um grupo formado por 30 homens usou veículos para bloquear cinco pontos da Zona Oeste, abriu fogo contra postes de energia e câmeras de monitoramento, trocou tiros com a polícia e explodiu o muro de concreto da transportadora de valores Brinks, situada na Avenida Recife, bairro da Estância. Os bandidos, pelo sotaque, seriam do Sudeste ou do Sul.

Em uma madrugada de terror, moradores de pelo menos sete bairros se desesperaram ao som de cerca de dois mil tiros de fuzil, pistola e metralhadora, além de explosões. Famílias foram obrigadas a ficar deitadas por até meia hora no chão de casa à espera do fim do tiroteio, que ganhou enorme repercussão com o compartilhamento de vídeos e áudios com o som dos tiros e relatos desesperados. Pela manhã, moradores e comerciantes puderam ver o estrago provocado pelos bandidos. Eles deixaram para trás sete carros queimados, casas e comércios danificados por buracos de bala e pelo impacto dos explosivos. Também abandonaram um fuzil de fabricação russa e um volume assustador de munição estocado no galpão onde, por uma semana, planejaram o ataque. A polícia espera que o material deixado no local ajude a identificar os bandidos.

A ação realizada em plena capital teve características muito parecidas à série de assaltos a transportadoras do interior de São Paulo em 2016 e desafia a polícia apenas 18 dias após outro crime chocante - as explosões de dois bancos e um conjunto de lojas na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul.

O terror na Zona Oeste começou por volta das 3h. Usando carros, o grupo fez um cerco de 360 graus em volta da empresa. Eles colocaram um caminhão baú atravessado na Avenida Recife, sentido Boa Viagem, e em seguida atearam fogo ao veículo. Grampos de metal foram jogados no chão nas ruas de acesso à transportadora. Pelo menos 12 veículos foram utilizados no assalto. Sete carros foram abandonados durante a fuga, sendo três deles blindados, e outros cinco incendiados para dificultar o acesso da Polícia Militar. Dos sete, quatro veículos foram localizados no fim da manhã num terreno dentro da sede do Clube Campestre do Círculo Militar, às margens da BR-408, em São Lourenço da Mata.

Durante a investida, a Avenida Recife, uma das principais vias de acesso à Zona Sul, ficou interditada. Os ladrões invadiram primeiro um posto de combustível 24 horas, vizinho à transportadora, e fizeram funcionários reféns. A loja de conveniência foi destruída, em um prejuízo estimado em R$ 200 mil.

Casas de moradores foram danificadas pelo impacto (Julio Jacobina/DP )
Casas de moradores foram danificadas pelo impacto
“Acordei muito assustada, pensei que fossem fogos, mas como o barulho continuou fiquei bem quietinha com medo de ser atingida pelos tiros, que foram muitos”, contou uma comerciante, dona de uma lanchonete ao lado do posto, na Rua Tapajós, que pediu para não ser identificada. Com o impacto da explosão, o forro da casa desabou sobre ela. Apesar do susto, a comerciante não se feriu.

Os bandidos trocaram tiros com policiais que faziam um bloqueio do BPTran e outras unidades. Três PMs ficaram feridos e foram socorridos ao Hospital da Restauração. Um deles, baleado na perna, foi operado e deve ser transferido hoje para o Hospital da Polícia Militar, no Derby.

“Com o impacto do explosivo, o prédio da transportadora ficou comprometido”, informou o perito do Instituto de Criminalística, Edwaldo Uchoa. O IC recolheu no local uma máscara de proteção contra gás, provavelmente deixada pelos assaltantes, além de um cabo com pinças, que pode ter sido usado para acionar a dinamite. Durante o tiroteio, um botijão de gás, que estava num depósito do posto, foi atingido por um disparo. A área precisou ser isolada por risco de vazamento. Treze escolas e creches públicas ficaram sem aulas porque os alunos não conseguiram chegar. Hoje, as atividades devem ser retomadas.