As lições que não foram aprendidas Problema presente há séculos em Pernambuco, enchentes continuam castigando sobretudo os mais pobres

ANAMARIA NASCIMENTO
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Publicação: 03/06/2017 03:00

Pernambuco voltou a enfrentar o pesadelo de uma grande enchente. Sete anos depois, os moradores da Mata Sul reviveram o drama de 2010, quando inundações devastaram 68 municípios da região, destruindo casas, escolas, pontes e hospitais, deixando cerca de 80 mil pessoas desalojadas. Este ano, já são 46 mil pessoas atingidas pela cheia: 41.768 desalojados, que deixaram as residências, e 4.363 desabrigados após a enxurrada que também atingiu parte do Agreste.

Além dos estragos no interior, as chuvas causaram transtornos na Região Metropolitana. No Recife, foram registradas as mortes de um adolescente de 14 anos e de uma mulher de 37 em Dois Unidos, após deslizamento de barreira. As outras quatro mortes ocorreram no Agreste. A última foi confirmada na sexta-feira, quando o corpo de Zenilda Maria Damasceno, 48, que estava desaparecida desde o dia 27, foi encontrado sob a Ponte Irmã Jerônima, em Caruaru.

Tragédias como essas se repetem séculos após séculos. Em 1632, houve a primeira enchente oficialmente registrada no estado, com com a “perda de muitas casas e vivandeiros estabelecidos às margens do (Rio) Capibaribe”. Seis anos depois, Maurício de Nassau mandou construir o Dique de Afogados, a primeira barragem no leito do Capibaribe para evitar as inundações constantes. Nos séculos 18, 19 e 20, novas enchentes voltaram a acontecer. Chegamos a 2017, e nada mudou.

Depois da cheia de 1975 no Recife, acompanhada do boato de que a Barragem de Tapacurá teria estourado e as águas invadiriam a capital, outras barragens foram construídas para proteger a Região Metropolitana. No interior, a solução esperada - um “cinturão” de cinco barragens para conter a água - não saiu completamente do papel. Prometida após a cheia de 2010, a construção não foi concluída. Apenas a Barragem de Serro Azul, em Palmares, ficou pronta. O reservatório foi construído no município de Palmares, após as enchentes de 2010. Com capacidade para acumular 303 milhões de metros cúbicos de água, pode abastecer dez municípios, entre eles Palmares, Água Preta e Barreiros. As outras obras, das barragens de Gatos, Igarapeba, Barra de Guabiraba e Panelas, estão paradas. Se soluções definitivas para o problema não forem implementadas, o estado vai continuar convivendo com os transtornos causados pela chuva nos próximos anos.

Sobre o fato de quatro das cinco barragens iniciadas para formar o “cinturão” de controle das águas da Mata Sul e Agreste não terem ficado prontas, o governo do estado respondeu que investiu cerca de R$ 400 milhões de 2011 até o presente, e o governo federal cerca de R$ 350 milhões, considerando os investimentos em ações de controle de cheia, não somente na construção das barragens, mas em obras complementares, como dragagem dos rios, desapropriações, projetos e compensações ambientais. “Considerando que o investimento maior ocorreu na conclusão da barragem de Serro Azul, é importante ressaltar que a mesma reteve até o momento 80 milhões de metros cúbicos de água, percentual estimado em 40% do volume que chegou às cidades atingidas, que evitou que se repetisse a catástrofe de 2010”, informou o governo do estado por nota.