Atenção no Gabinete de Crise

Publicação: 03/06/2017 03:00

No lugar de taças e louças, computadores e planilhas. O Salão de Banquetes do Palácio do Campo das Princesas se transformou no Gabinete Central de Crise, de onde saem decisões e ordens em relação às cidades atingidas pela enchente. O Diario acompanhou uma tarde no escritório estadual para saber como o governo do estado tem enfrentado a situação de emergência nos municípios do interior.

Enfileiradas, as mesas dispostas no amplo salão são ocupadas por servidores de diferentes órgãos. No mesmo ambiente, é possível ver bombeiros, funcionários da Agência de Águas e Clima (Apac), gestores da Coordenadoria de Defesa Civil e policiais atendendo ligações, criando planilhas e coordenando ações. Também estão presentes autoridades das Forças Armadas.

O trabalho começa às 7h e termina por volta das 2h do dia seguinte. Diariamente, o gabinete recebe informações dos 14 escritórios montados em cidades afetadas, como Água Preta, Amaraji, Palmares, Ribeirão, Rio Formoso e São Benedito do Sul. O objetivo da criação da força-tarefa é, de acordo com o governo do estado, facilitar os trâmites para que as respostas dos órgãos sejam dadas de maneira mais eficaz. “Aqui, concentramos esforços para diminuir o tempo de resposta. Por exemplo, decidimos aonde e a que horas uma aeronave vai pousar, quem vai receber o material levado nela, o local onde esse material será guardado e quem vai distribuir o que chegou. Temos nesta sala, pessoas da Controladoria e Procuradoria Geral do Estado. Juntos, procuramos uma melhor forma de resolver trâmites legais. Com isso, eu diria que, no mínimo, encurtamos para um dia um período de 45 dias”, afirmou o coordenador de Defesa Civil do estado, tenente-coronel Luiz Augusto França.

Solidariedade como doação


O drama das famílias que viram a força da água levar tudo o que tinham fez crescer uma onda de solidariedade entre os pernambucanos. De várias cidades do estado, caminhões seguiam lotados de doações para o interior. Roupas, alimentos, água, colchões e até móveis foram doados por pessoas sensibilizadas com as histórias de quem, do dia para a noite, não tinha mais nada. As imagens de moradores das cidades atingidas lutando por comida na lama fez o voluntariado aumentar ainda mais.

Só na ONG Novo Jeito, que já arrecadou 80 toneladas de donativos, mais de 20 pessoas se revezavam para fazer a triagem dos itens deixados por moradores de todas as partes do Recife. Eles recebiam de caminhões lotados de doações de empresários até a entrega de um pacote de macarrão dado por uma senhora que saiu de ônibus de casa só para contribuir.

A dona de casa Elzanira da Silva, 52 anos, era uma das voluntárias na separação de roupas. Ela conhece bem a dor dos moradores da Mata Sul. Viveu, em fevereiro do ano passado, um incêndio na Vila Santa Luzia, bairro da Torre, Zona Oeste do Recife. Moradores da comunidade perderam casas inteiras para as chamas e foram ajudadas por voluntários. “Conheci esse trabalho de doação quando recebemos lá na comunidade. Agora, é a minha vez de retribuir, ajudando essas pessoas que estão sofrendo. Vi a luta das pessoas pelo que passou na TV e no jornal e imediatamente vim ajudar”, disse a voluntária, que fica das 12h às 21h ajudando a separar as peças de roupas que serão doadas.

Quando viu a convocação de voluntários pelas redes sociais, a universitária Rebecca Dantas, 21, deixou tudo o que tinha para fazer e seguiu, com a mãe, para um ponto de coleta de donativos para ajudar. “Estudo arquitetura e aprendo nas aulas sobre como a forma com que as cidades são construídas influencia na vida das pessoas, sobre como as águas se comportam e sobre a importância do planejamento urbano. Nessas horas, porém, a teoria apenas não basta. Quis fazer algo na prática”, disse, ao lado da mãe, a administradora Luci Alves, 53.

O mesmo fez o motorista Flávio Ferreira, de 24 anos. Ele já é voluntário da ONG Novo Jeito e, ao ver a convocação para ajudar as vítimas da enchente, passou a dedicar o tempo ao recolhimento de donativos. “Quando comecei a trabalhar como voluntário nessas ações, percebi que mais recebo o bem do que dou. Eu sentia necessidade de ocupar meu tempo vago fazendo algo relevante e encontrei aqui”, disse. “Além da entrega de alimentos, água, material de limpeza, esse tipo de doação, do tempo, é muito importante. Essa é a maior mobilização em uma tragédia na Novo Jeito, que nasceu durante a enchente de 2010. Naquele ano, um grupo de amigos se juntou para arrecadas as doações”, afirmou a conselheira da ONG, Návila Alencastro.