Raiva pode ter feito uma vítima Mulher morreu após apresentar sintomas da doença, mas o laudo só deve sair na quarta-feira. Último caso com morte no estado foi em 2006

Alice de Souza
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Publicação: 30/06/2017 03:00

Depois de nove anos da cura de um adolescente acometido por raiva, o estado de Pernambuco pode ter registrado mais um caso da doença. Uma mulher de 35 anos, dona de um pet shop, faleceu na noite de ontem depois de dar entrada, no Hospital Oswaldo Cruz (HUOC), na última segunda-feira, com quadro clínico compatível com os sintomas da raiva. O corpo de Adriana Vicente Silva foi encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO), onde o cérebro da vítima será submetido a análise. Os resultados deverão sair em uma semana. Material também foi encaminhado ao Instituto Pasteur, em São Paulo. O resultado da análise deve ser concluído até quarta-feira. A Prefeitura do Recife iniciou bloqueio vacinal de animais domésticos e de rua, no entorno.

Adriana era dona de um pet shop na Rua da Soledade, no bairro da Boa Vista, e teria sido mordida por um gato nas imediações da Praça Oswaldo Cruz, no último dia 26 de abril. Ela teria sido chamada para socorrer o animal, que estaria com suspeita de envenenamento. “Quando ela se agachou para pegá-lo, foi mordida na mama direita. O gato morreu em seguida”, contou a irmã gêmea da vítima, Juliana Vicente. A família chegou a dizer que outra mulher, a responsável por chamar Adriana ao socorro, teria sido mordida pelo mesmo animal.

Segundo a família, apesar do incidente, ela não tomou a vacina e só relatou o ocorrido depois de começar a passar mal, nodia 18 deste mês. Os primeiros sintomas foram dor de cabeça, no corpo e de garganta, falta de apetite, dificuldade de deglutir, febre, produção excessiva de saliva e agitação psicomotora. Uma semana antes de ser internada, ela também apresentou hidrofobia, evitando tomar banho e até beber água. Ela chegou a ser atendida no Hospital Psiquiátrico da Tamarineira e, na madrugada do dia 25, foi encaminhada ao Hospital Agamenon Magalhães (HMA). “Algumas características do quadro clínico, como aversão à água, dificuldade para deglutir e sonolência, são bem marcantes na raiva”, explicou a coordenadora da UTI do Departamento de Doenças Infecto-contagiosas (DIP) do Oswaldo Cruz, Ana Flávia Campos. A unidade de saúde afirmou, em nota, que realizou todos os procedimentos necessários para tentar reverter o quadro gravíssimo em que a paciente chegou. A causa morte secundária atestada foi falência múltipla dos órgãos. Detalhes sobre o sepultamento não foram informados pela família.

Relatos de amigos dão conta de que Adriana costumava socorrer animais de rua. Segundo a ativista da causa animal Goretti Queiroz, os animais de rua não são vacinados, apesar do intenso número de abandonos. Uma estimativa de 2012, subnotificada, atesta cerca de 20 mil cães e gatos pelas ruas do Recife. “Questionamos muito porque, quando há mutirão de castração também não ocorre a vacinação”, revelou. O receio é que a suspeita acelere a matança desses bichos.

A Unidade de Vigilância Ambiental e Controle de Zoonoses do Recife executou o protocolo de bloqueio vacinal. Até o fim de ontem, haviam sido visitados 4.972 imóveis. A vacinação dos animais de rua será iniciada hoje, em uma área de até 5km da área da ocorrência.

A doença
  • A raiva é uma doença transmitida por animais mamíferos por meio de mordidas e arranhaduras
  • O vírus, presente na saliva dos animais, tem atração por células do sistema nervoso
  • Após casos de agressão de animais, a orientação é procurar uma unidade de saúde para ser avaliada pelo médico
  • O tratamento pode ser realizado por meio do uso da vacina antirrábica ou do soro antirrábico
  • A vacinação deve ser feita em no máximo 48 horas depois do incidente
  • O tempo médio de incubação da raiva em humanos é de 1 a 3 meses,
  • Não é recomendado uso da profilaxia da raiva quando o animal causador do acidente estiver saudável ou puder ser observado
Atendimento
Policlínicas Lessa de Andrade (Madalena) e Barros Lima (Casa Amarela)

Fontes: SES