Passaporte carimbado pela perseverança Primeira da família a viajar para o exterior, Maria Eduarda embarcou para o Japão com equipe de robótica

Publicação: 22/07/2017 03:00

Aos 13 anos, Maria Eduarda Oliveira já embarcou para a segunda viagem internacional. Após conhecer a Alemanha em 2016, ela foi, na quinta-feira, para Nagoya, a maior cidade da região de Chubu no Japão. Seu pai, o vigilante Eduardo Barbosa, 35; e sua mãe, a auxiliar de gerência de posto de gasolina Liliane Oliveira, 32, nunca saíram do estado. Estudante do 9º ano da Escola Municipal Rodolfo Aureliano, na Várzea, é a primeira da família a ter passaporte. Os carimbos no documento foram conquistados graças ao desempenho exemplar no grupo de robótica da rede municipal do Recife.

Eduarda é a única menina a integrar a premiada equipe. Ao todo, são oito alunos da Unidade de Tecnologia na Educação e Cidadania (Utec) Gregório Bezerra. O grupo vai participar da competição internacional Robocup 2017, de 27 a 31 de julho. “É uma honra participar dessa equipe. A robótica surgiu em um momento em que eu estava querendo fazer algo no meu tempo livre. Na escola, fizeram uma divulgação desse projeto e eu me interessei”, disse.

Para o professor de matemática Cid Espíndola, coordenador-geral de robótica da rede municipal do Recife, os resultados da equipe nos últimos anos revelam que, quando oportunidades são dadas, os estudantes mostram bom desempenho. É a segunda vez que alunos da rede pública marcam presença na Robocup. Na competição, os alunos da rede estadual vão colocar o robô Bino para percorrer caminhos de forma autônoma. Ele também consegue subir rampas e mover bolas por um gancho. No ano passado, a equipe ficou em oitavo lugar no ranking mundial na competição que aconteceu na Alemanha. “Não importa se o aluno é rico ou pobre. Eles precisam é de oportunidade. Quando elas surgem, esses meninos e meninas agarram e se destacam”, ressaltou Cid. Segundo ele, para se sobressair na robótica, características como interesse, concentração, disciplina e bom relacionamento em grupo são necessárias.

Quando viajam, as responsabilidades aumentam, de acordo com Eduarda. Para a estudante, é preciso, além das características destacadas pelo professor, se preocupar com o comportamento durante um evento no exterior. “Quando nos apresentamos para estudantes de outros países, muitas vezes é o primeiro contato deles com uma pessoa do Brasil. Nossa responsabilidade é representar o país, o estado e a cidade para causar uma boa impressão nos colegas estrangeiros”.

Dez dicas para ajudar no aprendizado

No livro Como ajudar as crianças a aprenderem, lançado neste mês no Brasil, o jornalista e escritor canadense Paul Tough lança ideias para facilitar o processo. Para ele, escolas e as famílias devem se preocupar em proporcionar ambientes com clima favorável ao desenvolvimento dos aprendizes. A obra apresenta resultados de pesquisas internacionais

1. Estratégias
Histórias, projetos e programas-modelo não devem ser reproduzidos sem levar em conta características individuais e cada realidade. “Nenhum programa ou escola é perfeito, porém cada intervenção bem-sucedida contém algumas pistas sobre como e por que funciona”, diz o autor.

2. Habilidades
Falar sobre atributos como garra e perseverança não necessariamente fará com que  se aprendam essas competências. “Certas técnicas que funcionam em matemática ou história são ineficazes com qualidades não cognitivas. Nenhuma criança aprendeu criatividade fazendo trabalhos sobre criatividade.”

3. Ambiente
Os estímulos e o ambiente são importantes ao desenvolvimento. “Pais com mais recursos costumam fornecer mais livros e brinquedos educativos para filhos na primeira infância; já os de baixa renda têm menor probabilidade de morar em bairros com boas bibliotecas, museus e outras oportunidades”

4. Estresse
Uma das principais formas negativas de o ambiente influenciar a criança é o estresse. “A adversidade, especialmente na primeira infância (seis primeiros anos), tem um poderoso efeito no desenvolvimento da intricada rede de resposta ao estresse que cada um de nós possui.”

5. Família
O primeiro e mais essencial ambiente para que as crianças desenvolvam capacidades emocionais, psicológicas e cognitivas é o lar e, mais especificamente, a família. “Começando na infância, elas dependem de respostas dos pais para interpretar o mundo.”

6. Trauma
Da mesma forma que o ambiente doméstico pode ter impacto positivo na formação de crianças, também pode fazer o oposto. “Sabemos que, quando as crianças experimentam o estresse tóxico, principalmente se são muito jovens, isso pode prejudicar seu desenvolvimento de maneiras profundas.”

7. Negligência
Uma das ameaças mais sérias à formação de uma criança é a falta de interesse de pais e cuidadores. “Quando as crianças são negligenciadas, especialmente bebês, seu sistema nervoso interpreta como ameaça ao bem-estar. A negligência pode fazer mais mal do que os maus-tratos físicos.”

8. Intervenção precoce
Para ajudar a melhorar a vida de crianças desfavorecidas, é preciso procurar oportunidades para intervir desde cedo. “Há evidências de que a primeira infância é um período extraordinário tanto em oportunidades quanto em perigo potencial para o desenvolvimento.”

9. Apego
O vínculo entre pais e filhos ajuda a criar nas crianças as sensações de segurança e autoconfiança. “Essa confiança e independência têm implicações práticas no mundo real: bebês que com um ano mostravam sinais de apego seguro às mães tornavam-se crianças mais atentas e envolvidas na pré-escola.”

10. Disciplina
Punições severas se mostraram ineficazes para motivar jovens com problemas a serem bem-sucedidos. “Programas de disciplina poderiam ser mais eficazes  concentrando-se em criar ambiente no qual alunos sem capacidades autorregulatórias pudessem encontrar ferramentas para desenvolvê-las.”