Um épico de heróis da resistência Locadoras de vídeo estão desaparecendo, mas clientes fiéis continuam vasculhando suas prateleiras

Publicação: 09/09/2017 03:00

Há 31 anos no ramo de locação de vídeos, a empresária Regina Alice Brayner, 72 anos, passa as tardes à espera de clientes. A Classic Vídeo, no bairro da Torre, Zona Norte do Recife, já foi uma das melhores do ramo na década de 1990, segundo ela. E hoje é uma das poucas que ainda resistem à concorrência com os canais de assinatura, Netflix e, hoje em menor proporção, com as cópias dos filmes piratas, que também sofreram revés após as opções quase ilimitadas da internet. Em 2014 eram 14 locadoras em funcionamento e hoje se conta nos dedos de uma mão as que ainda não fecharam. O Diario percorreu três locadoras da Zona Norte. Além da Classic Vídeo, também a Unika, no Espinheiro e a Loc Point, na Tamarineira. Nas três, o cenário é desolador, mas para quem ainda duvida há clientes fiéis.

O casal Vigílio Pessoa, 31 anos, e Renata Beltrão, 34, ele bombeiro e ela enfermeira, tem programação certa para os finais de semana em que não estão trabalhando. A cota é de quatro ou cinco títulos para curtir ao sabor da pipoca de micro-ondas. “Gosto de sair e de escolher o filme. Se todo mundo assistir pela internet ninguém mais sai de casa e não há interação. Eu gosto de vir, comentar sobre os filmes e ouvir sugestões”, detalhou Vigílio, que também é contra às cópias piratas.

O público diferenciado é o que ainda mantém as poucas locadoras que resistem. O empresário Geraldo Camelo, dono da Unika, no Espinheiro, já tem planos de agregar outros produtos. “Nós vamos reduzir o tamanho da loja e agregar a venda de açaí e crepe. Não há como se manter apenas com os filmes”, revelou Camelo, que tem a locadora desde 2003.

Os planos de dona Regina e Cláudio Brayner são de manter a Classic Vídeo até onde for possível. Ela conta que o negócio surgiu da paixão do marido pelos filmes clássicos e até hoje ele é colecionador. “Nossos clientes procuram filmes diferenciados. Mesmo assim, o movimento caiu muito e está difícil de manter. O prédio é próprio, mas temos despesa com uma funcionária, energia, água e os impostos”, revelou. A locadora que já funcionou de domingo a domingo das 9h às 22h, hoje só abre de segunda a sábado das 14h às 18h30.

A Loc Point, no bairro da Tamarineira tem um acervo de cerca de 25 mil títulos e funciona todos os dias, inclusive domingos e feriados. “ O meu público não procura filmes comerciais, prefere um estilo mais europeu. Também vem muita gente de escola que procura determinados filmes para fazer trabalho e ainda há aqueles que investiram em home theater e querem assistir filmes de qualidade”, explicou o empresário Jurandir França, 49 anos.

Ele reconhece no entanto, que a procura diminui a cada dia. “Houve uma época em que eu concorria com outras 13 locadoras em um raio de um quilômetro. Hoje só tem a minha”, revelou. Segundo ele, além da concorrência com a internet, Netflix e outros meios há ainda a mudança de perfil da geração, que não quer passar o final de semana em casa trancado assistindo filme, quer sair e interagir. Essa mudança de comportamento também afetou o ramo das locadoras”, revelou. Ele já havia incrementado o negócio com bomboniere, revistas e cds de música, mas já pensa no plano C. “Estou fazendo pesquisas e procurando alternativas. Só a locadora não é suficiente”, contou.

Onde locar

Classic Vídeo (Desde 1986)

Rua Padre Anchieta, 208, Torre
8 míl títulos
DVD Lançamento – R$ 12,00
DVD catálogo – R$ 8,00
Horário: Segunda a sábado das 14h às 18h30 (já funcionou de domingo a domingo das 9h às 22h)

Unika (Desde 2003)
Rua Conselheiro Portela, 248 – Espinheiro
10 mil títulos
DVD lançamento R$ 8,00
DVD catálogo R$ 3,50
Horário: das 10h às 22h

Loc Point (Desde 1994)
Rua Dr. José Maria, 804 – Loja C – Tamarineira
25 mil títulos
DVD lançamento – R$ 7,00
DVD catálogo – 5,00
Horário: das 10 às 9h (seg à sábado)
Domingos e feriados – das 13h às 20h