DIARIO NOS MUNICíPIOS - ESCADA » O berço de um gênio modernista Na década de 1930, o escadense Cícero Dias foi morar em Paris, onde se tornou um dos mais renomados pintores de seu tempo. Museu guarda parte da sua obra

Tânia Passos
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Publicação: 19/06/2018 03:00

Há 15 anos morria o pintor modernista Cícero Dias, que ganhou fama internacional, mas nunca esqueceu suas origens. Ele é filho ilustre do município de Escada, na Zona da Mata Sul. Nasceu no dia 7 de março de 1907 no Engenho Jundiá, onde passou a infância. Foi o sétimo dos 11 filhos do casal Pedro dos Santos Dias e Maria Gentil de Barros Dias, filha do barão de Contendas Epaminondas de Barros Corrêa. Aos 13 anos, o neto do barão foi estudar no Rio de Janeiro, onde conheceu os modernistas e estudou pintura. Mas foi na França, onde a vida e a carreira do pintor escadense com sangue aristocrático mudaria para sempre. Lá se tornou amigo do pintor Pablo Picasso e entrou em contato com o surrealismo que influenciou sua obra. Em Paris, casou-se com a francesa Raymonde com quem teve uma filha, Sylvia, única herdeira, e que até hoje mora na França. Foi a filha do pintor que cedeu ao município de Escada parte do acervo do artista no centenário de nascimento dele em 2007.

O Espaço Cultural Museu Cícero Dias funciona no antigo prédio da Câmara de Vereadores da cidade, na Rua da Matriz, e só foi inaugurado em 2011. O projeto inicial era fazer o museu na casa-grande onde nasceu o pintor no Engenho Jundiá, mas não houve autorização da família. “Infelizmente o engenho está em ruínas, mas sem autorização da família o projeto acabou sendo transferido para a cidade. A vantagem é que fica mais perto do público para as visitas e muitas escolas marcam visitas ao museu”, explicou o diretor do museu Álex Anthony.

Das 30 peças enviadas ao Brasil cedidas pela filha, 22 ficaram em Escada e oito no Recife. São litogravuras, cópias únicas da coleção Suíte Pernambucana. “A filha dele atendeu ao pedido do município para receber o acervo na cidade natal dele. E Escada concorria com Recife e Rio de Janeiro”, explicou Anthony. No térreo do museu, além das litogravuras há fotografias antigas, que revelam vários momentos do artista. Em uma delas, na década de 1990, ele aparece ao lado da esposa Raymonde na entrada de Escada em cima da ponte que corta o Rio Ipojuca.

A trajetória do artista começou cedo. Em 1927, aos 20 anos, ele realizou sua primeira exposição individual, no Rio de Janeiro e, em 1928, abandonou a Escola de Belas Artes, passando a dedicar-se exclusivamente à pintura. Aos 30 anos, executou o cenário do balé de Serge Lifar e Villa Lobos e expôs em coletiva de artistas modernos em Nova Iorque. Ao se fixar em Paris na década de 1930, ele chegou a ser preso pelos alemães durante a ocupação da França.

Já em 1943, ainda em plena Segunda Guerra Mundial, ele participou do Salão de Arte Moderna de Lisboa, onde teve êxito na premiação. No fim da guerra, em 1945, voltou a Paris e ligou-se ao grupo dos abstratos. No mesmo ano, fez exposição em Londres, Paris e Amsterdam. Em 1965 fez uma retrospectiva de sua obra em uma bienal em Veneza, na Itália. E somente na década de 1970, realizou individuais no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Até o fim manteve em seus quadros elementos recorrentes de mulheres, casarios e folhagens e da presença do mar.

Um ano antes de sua morte, em fevereiro de 2002, Cícero Dias esteve novamente na capital pernambucana para o lançamento de um livro sobre sua trajetória artística. Dessa vez ele não foi à sua cidade natal. Ele também fez uma exposição em São Paulo. O pintor morreu no dia 28 de janeiro de 2003 em sua residência na Rue Long Champ, Paris. Estava com sua esposa, a filha e os dois netos. Foi sepultado no cemitério Montparnasse, no Centro de Paris.