DIARIO NOS MUNICíPIOS - CABO » Pesquisa revela forte do século 17 Com base em um antigo mapa de sua mãe, arqueólogo fez monografia sobre fortificação do período de confrontos entre holandeses e luso-brasileiros

JAILSON DA PAZ
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Publicação: 19/06/2018 03:00

Por quase quatro décadas, Maria da Conceição Alves Rocha, 60 anos, guardou um mapa. Recebeu o documento de uma historiadora, no período em que o governo do estado planejava criar o Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, no Cabo de Santo Agostinho, e nunca imaginou o quanto ele seria importante para o filho, Lucas Alves da Rocha, 24. Formado em arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco, ele encontrou no mapa o motivo para a monografia da graduação, defendida no ano passado. O papel indicava que na Vila de Nazaré existiu uma fortificação, o Forte Real de Nossa Senhora de Nazaré, do século 17. Lucas decidiu ir atrás das informações.

Após a análise de mapas, de fotografias antigas e de levantamentos de campo de pesquisadores, Lucas, orientado pela professora Neuvânia Curty Ghetti, concluiu ter encontrado indícios da existência da fortificação. “A vegetação ajudou a preservar o que ficou exposto às intempéries, do forte construído de taipa”, frisou. Na pesquisa, ele se deparou com evidências do fosso e de um dos quatro baluartes do forte. Nos mapas e fotos há referências à igreja dedicada a Nossa Senhora de Nazaré. Alguns documentos, os mais antigos, tratam de uma ermida. Vista do mar, a construção lembrava uma vela branca. As referências dos séculos mais recentes falam do templo nos moldes atuais, o mais bem preservado dos monumentos históricos do parque.

Lucas cresceu ouvindo relatos sobre a igreja e seus arredores. A mãe dele tem “parcela de culpa” nisso. Maria da Conceição tem apego pela Vila de Nazaré, onde nasceu e mora. “Sou nativa desse lugar”, diz. O carinho pela vila se revela no seu contar da história do lugar, tomado pelos holandeses em 1635 e retomado pelos luso-brasileiros em 1640. A reconstrução da capela começou no mesmo ano. Oito anos depois estava concluída. Ao lado dela, aponta a nativa, foi construído um convento. E tem um cemitério ainda em uso. À frente do templo, na Praça da Aurora, com a placa pregada na fachada da igreja, o cruzeiro. Do lado oposto, ao Sul, o casario da vila e as casas dos faroleiros. A cem metros, ou talvez mais perto, o imóvel mais jovem. Distante, próximo ao mar, as ruínas da antiga casa. “Quem pisa aqui tem vontade de ficar”, afirma a mãe de Lucas. Tem mesmo.