Mariano, o guardião da Capela de Nazaré

Publicação: 19/06/2018 03:00

O zelador Mariano Manoel Amâncio, 45 anos, pisou na Vila de Nazaré no ano 2000. Terminada a reforma para qual foi contratado na capela, o ex-morador de Vitória de Santo Antão, na Mata Sul, decidiu ficar. E permanece na vila até hoje. Dois seriam os motivos para a mudança. A energia do lugar, que lhe permitiu vida nova, e os licores. “Depois de beber um litro da bebida de jenipapo, a pessoa não é mais a mesma. Eu, por exemplo, fiquei mais inteligente e bonito”, brinca. Inteligente, bonito e disposto. Mariano é pai dez filhos, de quatro casamentos. Alguns deles nascida após experimentar o licor.

Mariano gostou tanto da bebida que aprendeu, com os nativos da vila, a fabricá-la. Produz de sabores diversos. Do tradicional jenipapo ao de amarula, transformado em carro-chefe de sua barraca, erguida na Praça da Aurora. No ponto, trabalha a sua mulher. Ele se dedica a outros afazeres. Ou melhor, a zelar da capela. Varre, espana e fica atento ao entra e sai de turistas, vindos principalmente do balneário de Porto de Galinhas, em Ipojuca. Das janelas do pavimento superior da igreja, onde há os alojamentos para os frades carmelitas, Mariano “esquece os aperreios” ao olhar o mar em que as dezenas de navios deslizam na água e as praias, no sentido do Recife, a se perder de vista.

Por essas imagens, o bugueiro Jaaziel Ferreira da Silva, 33 anos, convence turistas nacionais e estrangeiros a colocar os pés na Vila de Nazaré. “O cenário é demais! Nunca, em centenas de passeios que fiz, ouvi alguém dizer que não gostou deste lugar”, revelou. Nesta época, Jaaziel realiza de quatro a cinco viagens mensais com hóspedes de pousadas e hotéis de Porto de Galinhas para a Vila de Nazaré, enquanto no verão são de oito a 12. O passeio inclui uma parada entre as duas casas dos faroleiros. É o ponto ideal para se observar o mar, a força da erosão nas encostas de cascalhos e de barro vermelho e a vegetação, a crescer nas fendas abertas pelas chuvas.

Antes de deixarem a Vila de Nazaré, os visitantes dão uma parada na praça da igreja. Experimentam os licores “à disposição dos fregueses” em uma das duas barracas existentes. Uma dela, a de Mariano, que propagandeia os efeitos curativos e afrodisíacos das bebidas e de pimentas. Difícil resistir a tanto bom humor. E não dizer um “não” diante do chamamento escrito sobre o portão do cemitério: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. O único retorno desejado, alega Jaaziel, é o turístico. Além disso, seria agouro. E para de Vila de Nazaré o que se espera, segundo a moradora da Praia de Suape, Marielza Epifânia de Sena, 69, são bons ventos, soprados do mar.