DP NOS MUNICíPIOS - CABO » Paixão pelo barro No Cabo de Santo Agostinho, cerâmica sustenta gerações e se revela em diversas formas, fortalecendo uma tradição que se renova de maneira constante

JAILSON DA PAZ
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Publicação: 19/06/2018 03:00

A matéria-prima: o barro. Os criadores: Albert, Antoniel, Cida, Deó, Diego, D’Melo, Dinho, Durval, Fil, Guel, Jonas, Nena, Sônia, Suely, Tina. Homens e mulheres de três gerações. Das mãos deles, a criação. Cada um a sua maneira dá forma às criaturas que ocupam o chão, as bancadas, os fornos e as prateleiras do Centro de Artesanato Arquiteto Carlos Wilson Campos Júnior, no Cabo de Santo Agostinho. São criaturas moldadas no torno, à mão ou a partir de moldes.

Da argila no torno, Deó, batizado Deoclécio José Mariano, 73 anos, arranca jarros, vasos e cinzeiros. Os movimentos para a concepção das peças são de uma agilidade singular. “Nenhuma peça é igual à outra”, resume. No torno, a tarefa da criação pede gente experiente. Fazê-lo girar une técnica e criatividade. Sem esse duo, os artesãos e as artesãs do centro teriam sucumbido às exigências crescentes do mercado.

Deó entrou no mundo do barro ainda menino. Menino também começou Severino Antônio de Lima, 54 anos, o Mestre Nena. Em comum, além do amor ao fazer cerâmica, ambos têm o domínio do torno. Do equipamento, Nena faz um nascedouro de peças únicas. São pinhas, pêndulos, luminárias e cumbucas, de tamanhos e cores variadas. “Aqui tenho um canto para criar e garantir o sustento”, afirma. O centro é a segunda casa do mestre. Chega cedo. Por voltas das 7h está com os pés no lugar, às margens do km 5 da rodovia PE-060. Parte somente com a chegada da noite. Isso geralmente todos os dias.

A paixão pelo barro tocou D’Melo Sena também cedo. Abraçou o destino há mais de uma década. Foi descobrindo os segredos da arte aos poucos, nos experimentos, criando  rostos e bustos de homens, super-heróis ou gente comum, e de mulheres, plebeias e rainhas. Moldando corações, luminárias. Aos 26 anos, D’Melo, também poeta e bacamarteiro, é da geração que sinaliza para a continuidade da produção da cerâmica artesanal no Cabo de Santo Agostinho por muito tempo. Ao seu lado, Jonas Augusto Ferreira da Silva, 24 anos, e Diego José Gomes, 33 anos.

O Centro de Artesanato do Cabo, em operação desde 2007, é herdeiro da longa história da cerâmica no município. Vem do período colonial, graças à qualidade e à abundância do barro da região. Empregada na produção de telhas e tijolos, a matéria-prima ganhou outras formas com o passar do tempo. Foi sustento de centenas de famílias na cidade, principalmente do Mauriti, bairro onde se concentrava as olarias e os artesãos nas décadas de 70 e 80 do século passado, época áurea da cerâmica no Cabo. Desse tempo vêm Deó e Nena.