DIARIO NOS BAIRROS » Uma praça feita de gente e sossego A Pinto Dâmaso, na Várzea, rodeada por casarões antigos e barracas que vendem frutas, verduras, pastel e espetinho, é bem frequentada dia e noite

Publicação: 17/08/2018 03:00

Ponto de encontro de moradores dos arredores, a Praça Pinto Dâmaso, conhecida como Praça da Várzea, reúne dos mais novos no playground e na quadra poliesportiva aos adultos e idosos, que frequentam a Academia Recife, a pista de cooper e a área da Associação de Dominó Luiz 15. Nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, o espaço público, rodeado por casarões antigos e barracas que vendem frutas, verduras, pastel e espetinho, fica lotado.

O vigilante aposentado, 83 anos, está entre os moradores da Várzea que podem ser encontrados na Pinto Dâmaso diariamente. “Moro no bairro desde 1962 e há pelo menos 30 anos joga dominó todos os dias. Digo que tenho duas casas: a minha e aqui”, brinca. As mesas para jogar ficam espalhadas em vários pontos da praça, mas é preciso obedecer as regras da associação sob o risco de ser expulso dos grupos. Entre as proibições, listadas em cartazes afixados no espaço público, estão “jogar sem camisa, beber ou apresentar sinais de embriaguez, jogar fumando, destratar as pessoas enquanto joga, bater com as pedras do dominó de forma agressiva, chamar palavrão e criticar a jogada do parceiro”.

O auxiliar de produção Anderson Melo, 41 anos, também está sempre por lá. Natural de Maceió (AL), ele mora na Várzea há menos de dois anos. Vai à praça para socializar com os moradores e para andar de bicicleta. “Encontramos idosos, crianças, adultos, pessoas de todas as idades aqui. Percebo que a praça proporciona um convívio social saudável entre os frequentadores. Isso fortalece os laços entre os moradores e gera uma sensação de comunidade. Muito em virtude da praça, por ela estar sempre movimentada, me sinto seguro no bairro”, afirma.

PROJETO

Por pouco, a Praça da Várzea não integra a lista de obras executadas do paisagista Roberto Burle Marx. Na década de 1930, ele elaborou um projeto de ajardinamento para o espaço público. O esboço previa a instalação de parque infantil, coreto, lago central com fonte e um caramanchão para sombrear parte da praça. Mangueiras, ficus-beijamina, oiti-da-praia e palmeira-real foram as espécies escolhidas para a área por Burle Marx. No lugar das escolhas do paisagista, trinta palmeiras-imperiais, em fileiras para dar a ideia de cortina em torno da área, estão nos dois blocos da Pinto Dâmaso, cortada ao meio para permitir a passagem dos ônibus. A praça conta ainda com dois baobás. O mais velho deles, segundo moradores da Várzea, tem mais de 40 anos.

No Recife, a lista de obras do paisagista é extensa e inclui grandes marcos urbanos da capital pernambucana, onde ele assinou 39 projetos de jardins públicos e particulares entre 1935 e 1958. Seis de seus jardins foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan): praças de Casa Forte; do Derby; Salgado Filho (Praça do Aeroporto); Euclides da Cunha, na Madalena; Jardins do Campo das Princesas e Jardins da Farias Neves (Dois Irmãos).