Canais do Recife são rios e riachos impermeabizados

Publicação: 12/10/2018 03:00

A denominação popular é canal, mas é geograficamente um riacho. Nos mapas do Recife, o corpo do Canal do Arruda, o maior meio de drenagem da Zona Norte, corresponde ao Riacho Vasco da Gama/Peixinhos. A troca do nome também ocorreu com outros cursos d’água da cidade. Em lugar de ser identificado como rio, o Jordão, por exemplo, se transformou no Canal do Jordão, tendo sido impermeabilizado.

“Um dos pontos mais críticos é que muita gente acha que os canais da cidade foram feitos para transportar esgoto, mas na verdade são riachos”, disse o professor de drenagem urbana e hidráulica, Jaime Cabral, do Centro de Engenharia e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Para reverter o quadro de poluição desses cursos d’água, ele defende o investimento em campanhas educativas, para se convencer pedagogicamente as pessoas, e em saneamento básico.

O processo de urbanização da segunda metade do século 20 foi o grande responsável pela degradação dos rios e riachos da Região Metropolitano. No Recife, alguns riachos, para facilitar o escoamento e reduzir gastos, forram retificados. Em 2016, segundo cadastro da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), 76 dos 98 riachos identificados na cidade possuíam algum tipo de revestimento.

Revestido em quase todo percurso, o Canal do Arruda, ou melhor, o Riacho Vasco da Gama/Peixinhos, deságua no Rio Beberibe, também canalizado em parte de sua extensão. Além do Vasco da Gama/Peixinhos outros 18 riachos urbanos correm para o Beberibe, que, embora tenha sofrido requalificações em alguns trechos, sofre com despejos irregulares de lixo e a ocupação indevida das margens.

Ao estudar os riachos urbanos do Recife, Renata Laranjeiras Gouveia e Vanice Santiago Fragoso Selva ressaltam que o revestimento dos canais segue uma ótica higienista. Isso por considerar a canalização e a retificação como um meio de dar maior celeridade à passagem da água e assim evitar a veiculação de determinadas doenças. Em contraponto, o revestimento impede a infiltração da água nos lençóis freáticos, causando alagamentos e impedindo que rios e riachos cumpram o seu papel natural.