Enfermaria: da tensão à euforia

Publicação: 14/12/2019 03:00

Betânia Costa, superintendente de enfermagem do hospital Otávio de Freitas, estava apreensiva antes do mutirão. Checava os detalhes, batia à porta de cada leito hospitalar para acalmar pacientes, verificava detalhes da mobilização médica para fazer a correção da coluna dos 23 pequenos e jovens pacientes. As famílias, entre tensão e expectativa, esperavam para conhecer médicos que nunca viram e a quem entregariam seus filhos. “Mas precisava vencer”, conta Lucinaldo Barbosa, 48 anos, pai de Érika Carvalho, que viajou 486 quilômetros da cidade de Mirandiba até Recife em busca de ajuda para a filha.

Lucinaldo e a mãe Dôra respiravam aliviados no final da semana. “Vai mudar muito. É uma menina tímida, tem muitos amigos e a escoliose prejudicava demais ela”, justifica. A saída de Érika e dos primeiros pacientes do bloco cirúrgico, demonstrando capacidade para sentar de forma firme, mostrando a linha da coluna no lugar, gerou euforia nas duas alas nas quais foram alojados. “Uma emoção!”, narrou Betânia Castro.

Joseane Martins, mãe da jovem Mayara Martins, 18 anos, estava inquieta. Moradora do pequeno povoado de Boas Novas, zona rural de Bezerros, 100 quilômetros do Recife, estava na expectativa se a filha seria submetida à cirurgia. Articulava-se para garantir o procedimento. A equipe médica havia selecionado 20 pacientes e três deles ficariam como reserva – para caso de algum do grupo principal resfriar ou ter qualquer impedimento. Não havia previsão para Mayara se operar, portanto. “Mas eu queria muito”.

Foi quando a empresa Medtronic, principal patrocinadora dos implantes e instrumentos cirúrgicos utilizados no mutirão, percebeu o impasse e decidiu ampliar a doação de última hora. Mayara e mais dois colegas também seriam atendidos. “Só queria qualidade de vida”. Estimam os médicos que equipamentos para apenas uma desta cirurgia custam em torno de R$ 100 mil. Confiante de que passaria à lista principal, Mayara nem parecia que estava prestes a ser submetida à cirurgia. O sorriso dela impressionava.

Dentro do bloco cirúrgico, o ortopedista Carlos Romeiro, contam colegas da equipe médica, comemorou e continuou a repetir: “Vamos, esse pessoal veio aqui para fazer por nossas crianças”. E a equipe do hospital local e os visitantes mantinham o pique. Em média, cada médico trabalhou por 15 horas seguidas durante os últimos cinco dias.