PE: mais de um caso de maus-tratos contra animais por dia

Publicação: 19/02/2021 03:00

Pernambuco registra a marca de cerca de 100 casos por mês de maus-tratos a animais. O número triste, ainda subnotificado, é um apanhado de denúncias feito pela Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (Depoma). Cinco meses após ser sancionada, a Lei 1.095, que assinalou medidas mais severas, ainda não conseguiu frear esta realidade criminosa. Culturalmente, segue vista como algo de menor potencial ofensivo, esbarrando na omissão e dificuldade para a identificação dos suspeitos. No Recife, hoje, a expectativa é pelo depoimento do jovem estudante de Direito, suspeito da morte, com notória crueldade, de cinco gatos, em uma via movimentada da Capital. Para além da necessária punição, entender a mente de quem se propõe a atos assim ainda é objeto de estudo para especialistas.

“São homens e mulheres das mais diversas classes sociais, com diferentes cores de pele, profissões e idades. Hoje nós encontramos indivíduos que, aparentemente, se dispuseram a adquirir, adotar ou acolher um animal. Mas que em determinado momento se colocam para torturar, espancar, mutilar e até matar os próprios bichos. E acabam fazendo isso também com animais de rua ou aqueles que eles nem sabem a origem”, explica a delegada Patrícia Porpino, à frente da Depoma. “As penas saltaram, dos três meses iniciais para até cinco anos de reclusão, além de multa. E hoje já prevemos um flagrante delito, sem arbitrar fiança. Instrumentos nós temos, o que falta é a adesão da sociedade”, afirma.

A delegada reconhece avanços na repressão a este tipo de prática, o que atribui a facilitação do acesso dos cidadãos comuns aos canais de denúncia. “Atualmente, além do caminho de apenas comparecer a uma unidade policial , é possível repassar informações a polícia de diversas formas, seja pelo whatsapp, pelo computador ou pelo telefone, tendo a garantia do anonimato. A repressão se tornou maior, mas faltam medidas de conscientização desde as crianças e jovens, entendendo que os animais também são seres vivos como nós”, afirma.

Na contramão da ilicitude e do desrespeito aos gatos, cachorros, cavalos, jumentos e todo tipo de animais encontrados nas ruas, diversos grupos da Região Metropolitana seguem reunindo forças para acolher e dar um pouco de dignidade aos amigos de quatro patas. Na tradicional Avenida Beira Rio, cortando bairros como a Madalena e Torre, na Zona Norte do Recife, o encontro no coreto ou a caminhada na pista de cooper divide espaço com cerca de 50 gatos. Por lá, reduto conhecido como abrigo há anos, cerca de 10 voluntários se revezam para evitar que os felinos, a maioria vítima do crime de abandono por seus donos, venham a morrer.

É a missão da aposentada, Maria Eunice Pereira, de 62 anos, uma das mais engajadas. Diariamente, ela deixa o seu lar, no bairro da Benfica, e se coloca, por horas, à disposição dos animais. “Nós organizamos os abrigos, cobrimos da chuva, limpamos os dejetos e preparamos uma comida gostosa e balanceada para que fiquem bem fortes”, conta, demonstrando satisfação. “Apesar de estarem bem cuidados, aqui é um ambiente de rua e o nosso propósito seria mesmo de poder dar a cada um deles um lar”, ressalta. O time do bem também conta com a corretora de imóveis, Gilvani Viana, 50, que reside no Parnamirim e divide o tempo com as atividades do trabalho e a convivência com os filhos. Para ela, as ações precisam ir além. “Além de consultas com veterinários, nos mobilizamos, juntos, para conseguir a castração, evitando esta superpopulação. As pessoas precisam entender que o nosso interesse aqui é de ajudar, assumindo um papel que deveria ser do poder público”, lembra. (Marcílio Albuquerque)