Terreiro em São José da Coroa Grande é incendiado Na manhã do dia 1º, o Terreiro das Salinas, de tradição Jeje-nagô, sofreu um incêndio. Praticantes dizem que foi ato de racismo. Polícia investiga

Publicação: 04/01/2022 03:00

Na manhã do último sábado, o Terreiro das Salinas, de tradição Jeje-nagô, no Município de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul do estado, foi vítima de um incêndio. Após a realização de rituais religiosos durante a passagem do ano, membros deixaram o terreiro. Por volta das 7h, um vizinho viu o incêndio e rapidamente informou os frequentadores. Constituído basicamente por palha e madeira, as chamas se espalharam rapidamente. A praticante Gilmara Santana foi a primeira pessoa a chegar. Segundo ela, o terreiro foi consumido em menos de uma hora. “Fomos lá para orar na passagem do ano e saímos por volta da meia-noite e meia. No dia seguinte, fomos avisados do incêndio. Era uma fumaça densa, com cheiro de produtos inflamáveis. Queimou tudo muito rápido, não deu tempo de chamar os bombeiros”, disse.

Os procedimentos jurídicos e legais estão sendo tomados com apoio do Projeto Oxé, de atendimento jurídico e psicossocial contra o racismo. Na manhã de ontem, foi feita a abertura no Boletim de Ocorrência na Delegacia de São José da Coroa Grande, que será responsável pelo inquérito policial. Também foi feita a entrada de um pedido de investigação junto ao Ministério Público de Pernambuco.

A assessoria do terreiro, por meio de nota, disse que o ato foi de racismo. “Não é de hoje que os terreiros das religiões de matriz africana, afro-brasileira e afro-indígena tem sido alvo constante das violências, intolerâncias e racismo religioso que tenta impedir a realização de nossos rituais, da adoração aos nossos orixás e entidades sagradas. No entanto, ver a nossa casa de axé, nosso local sagrado, onde depositamos nossa fé, onde construímos cada canto com nosso suor e devoção em chamas é violento e perturbador”, afirma a nota divulgada pelas redes sociais.

A nota oficial do terreiro continua a acusação: “Fomos vítimas de forma brutal do racismo religioso… O que aconteceu foi uma tentativa de apagamento, de silenciamento e opressão, mas que não nos impedirá de continuar a cultuar nosso sagrado”.

Também por meio de nota, a Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), organização formada por cerca de 20 coletivos, entidades e instituições negras e antirracistas pernambucanas, manifestou solidariedade ao Terreiro das Salinas.