A interrupção do carnaval também afetou foliões que aproveitavam o período momesco para relembrar a sociedade sobre importantes questões coletivas. No Recife, a troça Empatando Tua Vista surgiu em 2014 em meio a discussões urbanísticas voltadas para a valorização da arquitetura e qualidade de vida.

A agremiação, que desfilava pelas ruas com os componentes vestidos de prédios e torres representando a verticalização desordenada, chegou a ser impedida de brincar por uma patrulha da Polícia Militar em 2017, numa censura que gerou revolta.

Durante esses dois anos sem poder ir às ruas, o grupo tem participado de debates em diversos canais de comunicação buscando acompanhar as decisões do poder público. “Através da união com outras agremiações e a presença nos espaços de debates, podemos não só relembrar como planejar, na medida do possível, a volta da Folia às ruas”, afirma o cientista político e integrante da troça, Flavius Falcão.  

Aos 28 anos, ele conta que conheceu o grupo através de movimentos sociais e desde 2015 participa da troça. Para Flávius tem sido doloroso ficar sem carnaval nesse período, pois a tradição de folia é algo de família. “Trago comigo a herança foliã de gerações passadas que foram e são carnavalescas. Tudo começou com meu bisavô, Luiz Marinho Falcão, que foi Rei Momo por décadas em Timbaúba, na Mata Norte. Este tem sido um tempo de saudade e vontade recolhida”, diz.