INDEPENDÊNCIA DO BRASIL - 200 ANOS »
A independência além do Ipiranga
Painel em Santo Amaro, no Recife, retrata a Revolução Pernambucana, de 1817, quando a província se declarou independente do restante do país. Em reação à revolta, Dom João VI ordenou execuções e o uso da força militar
JAILSON DA PAZ
jailson.paz@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 07/09/2022 06:05
As referências ao passado de movimentos libertários de Pernambuco estão no traçado urbano do Recife. São ruas, avenidas, praças e monumentos. Para quem procura entender a história não encontrará dificuldade em relacionar Gervásio Pires e Padre Roma, que emprestam seus nomes a ruas, aos esforços de muitos pela implantação de ideais republicanos e maior autonomia da província. Em alguns casos, até pela independência da província do resto do Brasil, o que ocorreu em 1817.
A questão é que, assim como 1817, as questões políticas de 1821 e 1824 em Pernambuco foram deixadas de lado nas páginas da Independência do Brasil escritas a partir do eixo Rio-São Paulo. O entendimento da emancipação nacional centrada no 7 de setembro de 1822, segundo o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) George Cabral, ignorou os olhares da periferia do país. Sobrevalorizou a figura de dom Pedro I e de seu ministério, com José Bonifácio.
George Cabral define o processo da Independência como complexo e de muitas facetas. Diferente da visão de homogeneidade da história oficial. “A Independência vai além do 7 de setembro de 1822, do grito de dom Pedro às margens do Ipiranga”, diz. O historiador, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), afirma que movimentos libertários importantes para a emancipação do país ocorreram no Maranhão, Bahia e Pernambuco, por exemplo.
“Naquele momento, a realidade era de diversos Brasis e alguns projetos de nação eram diferentes do que resultou do 7 de setembro. Alguns dos projetos eram mais vanguarda do que o capitaneado por dom Pedro, príncipe regente”, esclareceu o professor. Se prevalecesse os ideias políticos majoritários dos movimentos pernambucanos, o Brasil independente ao menos não teria a face centralizadora do governo dom Pedro e o ministro José Bonifácio de Andrada e Silva. “Em Pernambuco se queria um regime constitucional. Podia até ser monarquista, mas com autonomia”.
Mas o modelo de independência costurado no eixo Rio-São Paulo não foi apenas de poder centralizado na Corte. Foi excludente, centrado nos valores de homens brancos, que, ao contrário das intenções das lutas dos negros, mantiveram a escravidão e o tráfico negreiro. Em Pernambuco, a elite que abraçou o projeto nacional de dom Pedro I se beneficiou deste comércio.
Independências em Pernambuco
1817
6 de março
Começa a Revolução Republicana de Pernambuco
29 de março
Lei Orgânica da República de Pernambuco é publicada. Em Salvador (Bahia), Padre Roma é executado
2 de abril
Bandeiras revolucionárias da República de Pernambuco são abençoadas
19 de maio
As forças leais ao Império tomam o Recife e a República de Pernambuco chega ao fim
12 de junho
Domingos José Martins, José Luís de Mendonça e padre Miguel Joaquim de Almeida e Castro (Padre Miguelinho) são fuzilados em Salvador (Bahia)
10 de julho
Padre Pedro de Souza Tenório (Vigário Tenório), José de Barros Lima (Leão Coroado) e Domingos Teotônio Jorge são enforcados no Recife
21 de agosto
Amaro Gomes da Silva, Francisco José da Silveira e José Peregrino Xavier de Carvalho, líderes da Revolução de 1817 na Paraíba, são enforcados no Recife
1821
22 de fevereiro
As Cortes Constitucionais anistiam os revolucionários pernambucanos de 1817, que permaneciam presos em Salvador
26 de abril
Dom João VI parte do Rio de Janeiro para Lisboa, seguindo determinação das Cortes Constitucionais
29 de agosto
Início do movimento, em Goiana, que resulta na formação da Junta de Governo baseada nas regras constitucionais
5 de outubro
Começo da Convenção de Beberibe
26 de outubro
Junta de Governo é eleita em Olinda
1822
9 de janeiro
Dia do Fico: Dom Pedro, príncipe regente, decide permanecer no Brasil desobedecendo as Cortes Constitucionais
3 de junho
Dom Pedro convoca a Assembleia Constituinte do Brasil
7 de setembro
Grito do Ipiranga
16 de setembro
Junta de Governo presidida por Gervásio Pires Ferreira é dissolvida
17 de setembro
Junta de Governo provisória é eleita em Pernambuco, tendo Francisco de Paula Gomes dos Santos sido eleito presidente
23 de setembro
A Junta de Governo, com Francisco Paes Barreto na presidência é eleita.
12 de outubro
Dom Pedro I é aclamado imperador do Brasil
1823
12 de novembro
Dom Pedro I determina o fechamento da Assembleia Constituinte
13 de dezembro
Novo governo de Pernambuco é eleito, tendo Manuel de Carvalho Paes de Andrade como presidente. A decisão vai de encontro ao governo imperial
1824
31 de março
Porto do Recife é bloqueado pela frota imperial para que os pernambucanos aceitem o governador nomeado por Dom Pedro I
22 de junho
Frota imperial bombardeia o Recife
2 de julho
É proclamada a Confederação do Equador
A questão é que, assim como 1817, as questões políticas de 1821 e 1824 em Pernambuco foram deixadas de lado nas páginas da Independência do Brasil escritas a partir do eixo Rio-São Paulo. O entendimento da emancipação nacional centrada no 7 de setembro de 1822, segundo o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) George Cabral, ignorou os olhares da periferia do país. Sobrevalorizou a figura de dom Pedro I e de seu ministério, com José Bonifácio.
George Cabral define o processo da Independência como complexo e de muitas facetas. Diferente da visão de homogeneidade da história oficial. “A Independência vai além do 7 de setembro de 1822, do grito de dom Pedro às margens do Ipiranga”, diz. O historiador, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), afirma que movimentos libertários importantes para a emancipação do país ocorreram no Maranhão, Bahia e Pernambuco, por exemplo.
“Naquele momento, a realidade era de diversos Brasis e alguns projetos de nação eram diferentes do que resultou do 7 de setembro. Alguns dos projetos eram mais vanguarda do que o capitaneado por dom Pedro, príncipe regente”, esclareceu o professor. Se prevalecesse os ideias políticos majoritários dos movimentos pernambucanos, o Brasil independente ao menos não teria a face centralizadora do governo dom Pedro e o ministro José Bonifácio de Andrada e Silva. “Em Pernambuco se queria um regime constitucional. Podia até ser monarquista, mas com autonomia”.
Mas o modelo de independência costurado no eixo Rio-São Paulo não foi apenas de poder centralizado na Corte. Foi excludente, centrado nos valores de homens brancos, que, ao contrário das intenções das lutas dos negros, mantiveram a escravidão e o tráfico negreiro. Em Pernambuco, a elite que abraçou o projeto nacional de dom Pedro I se beneficiou deste comércio.
Independências em Pernambuco
1817
6 de março
Começa a Revolução Republicana de Pernambuco
29 de março
Lei Orgânica da República de Pernambuco é publicada. Em Salvador (Bahia), Padre Roma é executado
2 de abril
Bandeiras revolucionárias da República de Pernambuco são abençoadas
19 de maio
As forças leais ao Império tomam o Recife e a República de Pernambuco chega ao fim
12 de junho
Domingos José Martins, José Luís de Mendonça e padre Miguel Joaquim de Almeida e Castro (Padre Miguelinho) são fuzilados em Salvador (Bahia)
10 de julho
Padre Pedro de Souza Tenório (Vigário Tenório), José de Barros Lima (Leão Coroado) e Domingos Teotônio Jorge são enforcados no Recife
21 de agosto
Amaro Gomes da Silva, Francisco José da Silveira e José Peregrino Xavier de Carvalho, líderes da Revolução de 1817 na Paraíba, são enforcados no Recife
1821
22 de fevereiro
As Cortes Constitucionais anistiam os revolucionários pernambucanos de 1817, que permaneciam presos em Salvador
26 de abril
Dom João VI parte do Rio de Janeiro para Lisboa, seguindo determinação das Cortes Constitucionais
29 de agosto
Início do movimento, em Goiana, que resulta na formação da Junta de Governo baseada nas regras constitucionais
5 de outubro
Começo da Convenção de Beberibe
26 de outubro
Junta de Governo é eleita em Olinda
1822
9 de janeiro
Dia do Fico: Dom Pedro, príncipe regente, decide permanecer no Brasil desobedecendo as Cortes Constitucionais
3 de junho
Dom Pedro convoca a Assembleia Constituinte do Brasil
7 de setembro
Grito do Ipiranga
16 de setembro
Junta de Governo presidida por Gervásio Pires Ferreira é dissolvida
17 de setembro
Junta de Governo provisória é eleita em Pernambuco, tendo Francisco de Paula Gomes dos Santos sido eleito presidente
23 de setembro
A Junta de Governo, com Francisco Paes Barreto na presidência é eleita.
12 de outubro
Dom Pedro I é aclamado imperador do Brasil
1823
12 de novembro
Dom Pedro I determina o fechamento da Assembleia Constituinte
13 de dezembro
Novo governo de Pernambuco é eleito, tendo Manuel de Carvalho Paes de Andrade como presidente. A decisão vai de encontro ao governo imperial
1824
31 de março
Porto do Recife é bloqueado pela frota imperial para que os pernambucanos aceitem o governador nomeado por Dom Pedro I
22 de junho
Frota imperial bombardeia o Recife
2 de julho
É proclamada a Confederação do Equador