Fazer exame é um exercício de paciência Pesquisa do Ipec mostra que a demora para conseguir consulta, exame ou cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior problema de saúde no país

Adelmo Lucena

Publicação: 18/03/2024 03:00

“As fichas acabaram”, “marcação de exame só na próxima semana” e “não tem nada que eu possa fazer” são algumas das falas mais ouvidas por pacientes que tentam marcar exames em postos e unidades de saúde em Pernambuco. Uma das maiores dificuldades encontradas hoje na saúde pública é a fila de espera para marcação de exames.

Uma pesquisa desenvolvida pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) com base na opinião de pacientes mostra que a demora para conseguir consulta, exame ou cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal problema de saúde no país.

O estudo mostrou que entre as principais queixas dos pacientes da rede pública de saúde estão a superlotação dos hospitais, falta de leitos e de medicamentos, má infraestrutura e, principalmente, a demora para conseguir vagas de exames e outros tipos de atendimento médico.

A rede privada não fica atrás. O levantamento feito pelo Ipec revela que este é o único problema em comum entre os pacientes das redes pública e privada. Além deste problema, os usuários de planos de saúde e de hospitais particulares criticam a falta de médicos, valor baixo de reembolso e baixa cobertura de exames. Por este último motivo, muitas pessoas que utilizam a rede privada recorrem ao SUS para conseguir exames.

“Consegui realizar meus exames, mas a demora foi grande. Levei quase um ano para fazer um exame de colonoscopia. Eles (profissionais de saúde) alegam que é por conta do número de pacientes. Outro problema são os exames de sangue. O médico solicita e você vai marcar, mas só faz com dois, três meses após a marcação. É um absurdo isso, mas acontece muito”, relata o auxiliar de lavanderia, José Luiz, de 46 anos, morador do Recife.

A situação é ainda mais delicada para pessoas que vivem no interior do estado, onde o acesso aos serviços de saúde são ainda mais precários e precisam recorrer à capital, como é o caso da estudante de pedagogia Marciana Brasileiro, de 32 anos, moradora de Buíque, no Agreste de Pernambuco.

“Não consegui fazer o exame de ressonância da minha filha pelo SUS. Estamos desde o começo da pandemia neste vai e vem e fizemos o exame dela por uma unidade particular pois estávamos esperando o exame há um ano”, relatou a estudante enquanto corria para pegar o ônibus de volta para a cidade onde mora, que fica a 280 km do Recife.