Psicóloga explica por que criminosos têm fãs Pessoas tendem a nutrir relações de admiração por figuras públicas envolvidas em crimes se tiverem crenças que justifiquem comportamentos antiéticos

Adelmo Lucena

Publicação: 07/09/2024 03:00

A relação entre fã e ídolo voltou ao centro das discussões após fãs de Deolane Bezerra, presa na quarta-feira (5), se manifestarem na porta do presídio em sua defesa. A advogada e influenciadora digital, de 36 anos, foi detida pela Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) em um hotel no bairro de São José, em Recife, sob suspeita de envolvimento com uma organização criminosa investigada por lavagem de dinheiro.

Diversos fãs de Deolane foram até a Colônia Penal Feminina do Recife, no bairro de Iputinga, Zona Oeste da capital, para pedir sua soltura. Com cartazes e coros clamando por justiça e declarando seus sentimentos, os admiradores demonstraram como se sentem diante da prisão preventiva da influenciadora.

Com a repercussão do caso, usuários de redes sociais criticaram o fanatismo em torno de Deolane, afirmando que sentiam vergonha da situação, sugerindo que os fãs estariam sendo pagos.

A relação entre ídolo e fã começa por uma identificação e também está ligada ao sentimento de recompensa do fã, que se mantém atento às atualizações sobre a pessoa que admira. O ser humano possui um sistema de recompensa ligado ao processamento de informações que trazem prazer ou satisfação. Esse mecanismo faz com que o fã consuma cada vez mais notícias e produtos relacionados ao ídolo.

Eles também tendem a ver nos ídolos exemplos de pessoas que gostariam de ser ou valores que seguem.

“A identificação com o ídolo pode oferecer um senso de conexão com valores e padrões pessoais desejados, reforçando uma autoimagem positiva e validando os próprios objetivos e valores. Além disso, ídolos podem desempenhar funções importantes no funcionamento emocional e motivacional dos fãs”, complementa a psicóloga comportamental Brunna Laís.

FÃS DE CRIMINOSOS

Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Chico Picadinho, Ted Bundy e Jeffrey Dahmer. Todos foram condenados por assassinatos e, mesmo assim, possuem admiradores ao redor do mundo.

“Um dos fatores chaves na abordagem cognitivo-comportamental são crenças distorcidas ou pensamentos automáticos que influenciam a percepção de figuras controversas. Algumas pessoas podem desenvolver uma visão positiva de um criminoso se tiverem crenças que justifiquem ou minimizem comportamentos antiéticos, como acreditar que as regras são injustas. Isso pode normalizar o comportamento de um criminoso”, explica a psicóloga Brunna.

Ela também observa que a admiração por pessoas que infringem a lei pode ser resultado de um efeito dominó.

“Se um grupo demonstra admiração por um criminoso, a pressão social pode levar outros a adotarem atitudes semelhantes para  ganhar aceitação. Além disso, a busca por narrativas alternativas pode atrair pessoas a apoiar figuras controversas, especialmente se essas narrativas oferecerem explicações simples para problemas sociais complexos”, conclui.