Festa do Morro começa com muita emoção O Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, celebra 120 anos de devoção e fé três meses depois do desabamento do teto em que 2 pessoas morreram

Malu Mendes

Publicação: 29/11/2024 03:00

Começou ontem, 90 dias após a tragédia que destruiu o Santuário do Morro da Conceição, a festa que celebra 120 anos de devoção e fé. O primeiro dia do evento foi marcado por emoções intensas, com a presença de fiéis e de uma das vítimas do acidente que deixou marcas profundas na comunidade religiosa, além da tradicional Procissão da Bandeira.

Danúbia da Silva, moradora do bairro, sofreu escoriações durante a queda do teto no dia 30 de agosto e retornou ao local para cumprir sua tradição anual: trabalhar na festa para sustentar a família.

“É um pouco estranho estar aqui, mas estou viva, bem e fazendo o que sempre fiz desde criança, que é trabalhar. Acordei cedo e estou aqui vendendo água, velas e calendários para os religiosos. Eu penso que, se tive a chance de estar viva, é meu dever seguir em frente e ficar firme. Acredito que o que me salvou foi a energia desse lugar, muito especial”, contou Danúbia, emocionada.  

O acidente deixou 21 pessoas feridas e duas mortas: Antônio José dos Santos, de 54 anos, e Maria da Conceição França Pinto, de 68. O evento deste ano é visto como um símbolo de resiliência e fé. Danúbia relembrou os momentos de terror:

“Primeiro, um barulho que parecia tiro, depois um desmoronamento da parte da entrada até o altar. Eu me machuquei na cabeça e tive arranhões pelo corpo, mas estou bem. Me recuperei rápido, é uma pena que duas pessoas tenham morrido”.

Para os organizadores e devotos, a festa é uma oportunidade de reafirmar a esperança e os laços da comunidade. A celebração, que acontece até o dia 8 de dezembro, ganhou um peso ainda maior este ano.

Maria de Pompeia, de 70 anos, voluntária da igreja há uma década, destacou a força da fé coletiva. “Particularmente este ano, por conta da tragédia, a expectativa é de ter muito mais pessoas. Isso a gente já sentiu antes da festa, pelo número de pessoas que vieram rezar aos pés de Nossa Senhora. ”.  

MOBILIZAÇÃO
A fé se traduz também em ações concretas, como as iniciativas dos voluntários. Cauã Vinícius, de 18 anos, seminarista, ressaltou a importância do trabalho para a continuidade do evento:

“Este ano, principalmente, por conta da tragédia, ficamos muito comovidos com a situação das pessoas. Sempre tivemos esperança de que dias melhores viriam”.

A irmã Maria Graça Menner, que trabalha há mais de 25 anos no Morro, reforçou o papel da fé no enfrentamento da tragédia. “Perdemos duas pessoas, infelizmente, mas, se não fosse o poder da religiosidade, a tragédia poderia ter sido muito pior. Com certeza, a fé das pessoas ajudou”.