CARNAVAL DP 2025 » Um calunga cheio de charme e misticismo Às 0h do domingo de carnaval é o momento do Homem da Meia-Noite ocupar as ruas do Sítio Histórico de Olinda arrastando uma multidão

MAREU ARAÚJO

Publicação: 01/03/2025 03:00

O desfile do calunga gigante de 93 anos é cercado de vários simbolismos (DIVULGAÇÃO)
O desfile do calunga gigante de 93 anos é cercado de vários simbolismos

Pontualmente à 0h do domingo de Carnaval, o calunga gigante desfila pelas ruas do Sítio Histórico de Olinda. De fraque, cartola, gravata borboleta, dente de ouro, com ele um relógio que marca a hora de sua saída e a chave da cidade, que será entregue ao Cariri Olindense, por volta das 2h da manhã.

Ele é o Homem da Meia-Noite, que pelas ruas irá passear, sua fantasia será verde e branca para animar o carnaval. Em dois de fevereiro deste ano, a agremiação completou 93 anos. A agremiação saiu pela primeira vez em 1932 após um grupo de olindenses, liderados por Luciano Anacleto de Queiroz, terem ficado revoltados por perderem a eleição pela diretoria do Cariri. A partir daí, as histórias da criação do Clube de Alegoria e Crítica o Homem da Meia-Noite divergem.

VERSÕES
Uma versão diz que Anacleto, apaixonado pelo cinema, decidiu criar o boneco para homenagear o filme ‘O ladrão da Meia-Noite’. Já a segunda conta que o músico Benedito Bernardino da Silva - que criou a música oficial do calunga e o primeiro boneco -  ao ver constantemente um homem elegante, com dente de ouro e vestido de verde e branco na madrugada do domingo, decidiu segui-lo e percebeu que ele pulava as janelas das casas do Sítio Histórico para namorar com as senhoritas na madrugada.

Mas a rixa com o Cariri não durou muito tempo. “Foi interessante a volta por cima que eles deram e o nível de cordialidade que chegaram. O Homem caminha pelas ruas, levando a chave para o Cariri, que sairá às 4h da manhã do domingo. É maravilhoso passar a noite toda lá em Olinda acompanhando”, afirmou Maria Alice Amorim, autora do livro ‘Patrimônios Vivos de Pernambuco’.

MISTICISMO
Em todo Carnaval, desde então, mais e mais foliões seguem o gigante. Ano passado, por exemplo, estima-se que cerca de 400 mil pessoas percorreram o trajeto de 5 km ao lado do gigante. Para Maria Alice, vários elementos tornam o Homem tão atraente, seja por toda a cultura dos bonecos gigantes, inaugurada por ele, ou atributos místicos que estão além do olhar visível.

“Ele, também, abre o Carnaval. Sua composição, o figurino, a postura ‘física’, é simbólica. E claro, o frevo é um elemento muito forte, ele arrasta multidões. O Homem vem acompanhado da orquestra, dos clarins que o anunciam, tudo isso é de uma beleza e de uma magia fenomenal. Todos ficam encantados”, comentou.

O gigante nasceu no mesmo dia em que se comemora Iemanjá, considerada no Candomblé como a rainha dos marés e a mãe dos orixás, por isso, tem bastante ligação com a religiosidade e levanta a bandeira do respeito às várias faces da fé. Não à toa que muitos foliões consideram o calunga como uma entidade e chegam a se arrepiar e chorar de tamanha emoção ao vê-lo desfilar pelas ladeiras.

Para este ano, o Homem da Meia-Noite anunciou que fará um resgate do lirismo, da poesia e da beleza dos carnavais pernambucanos. “Lembrando de uma época onde a música e o amor pela folia andavam de mãos dadas nos bailes, nos clubes, nas ruas e nas ladeiras do Sítio Histórico. Com o tema “O Bom Sebastião”, disseram em nota. Além disso, fará homenagem, também, a Getúlio Cavalcanti, autor da música.