INSTITUIçõES CENTENáRIAS DE PE » O palco que conta histórias há 175 anos No coração do Recife, o Teatro de Santa Isabel é considerado um dos mais bem conservados do país e objeto de desejo de grandes artistas

LARISSA AGUIAR

Publicação: 04/08/2025 03:00


Erguido no coração do Recife, o Teatro de Santa Isabel completou, em 2025, 175 anos de história. Mais do que um monumento arquitetônico tombado, o espaço é símbolo vivo da cultura pernambucana e um dos palcos mais respeitados do Brasil. Desde sua inauguração, em 1850, com uma companhia de ópera portuguesa, o teatro testemunhou e protagonizou episódios decisivos da vida artística e política do país.

A idealização do Santa Isabel surgiu ainda no século XIX, sob o comando do então governador da província de Pernambuco, Francisco do Rego Barros, o Conde da Boa Vista. Inspirado por sua vivência na França, Rego Barros sentiu a necessidade de dotar o Recife de um espaço à altura da efervescência cultural da capital. Para isso, convidou o arquiteto francês Louis Léger Vauthier, responsável pelo projeto original. “Ele queria um teatro com grande pompa, como viu na Europa, e assim nasceu o Santa Isabel”, explica Romildo Moreira, atual diretor da casa.

Construído sem a utilização de mão de obra escravizada, um marco importante em um país ainda mergulhado no sistema escravagista, o teatro foi batizado em homenagem à Princesa Isabel, então com apenas sete anos. Em 1949, foi tombado como patrimônio nacional e passou a pertencer oficialmente à Prefeitura do Recife.

Desde o início, o Teatro de Santa Isabel esteve inserido nos grandes debates sociais do Brasil. “Joaquim Nabuco discursou aqui. Ele promovia eventos para arrecadar fundos com o objetivo de comprar a liberdade de pessoas escravizadas. No térreo do teatro, temos hoje um espaço de memórias onde uma placa registra esse momento: ‘Aqui ganhamos a causa da abolição’, como disse Nabuco”, destaca Romildo. 

O Santa Isabel atravessou o tempo como poucos. Tornou-se palco de importantes espetáculos e continua a ser referência para artistas locais, nacionais e internacionais. “Todo mundo quer se apresentar aqui. E muitos artistas, quando terminam seus espetáculos, nos agradecem emocionados. A atriz Renata Sorrah, por exemplo, disse que gostaria que todos os teatros tivessem a importância do Santa Isabel”, conta o diretor.

Hoje, o teatro mantém programação contínua e diversa. Recebe desde montagens independentes até apresentações da Orquestra Sinfônica do Recife, a mais antiga do país em atividade ininterrupta, salvo o período da pandemia. “Há muitos espetáculos gratuitos. Muita gente ainda acha que só temos eventos caros, mas isso não é verdade. A Orquestra, por exemplo, é gratuita. Basta chegar uma hora antes para pegar o ingresso”, reforça Romildo.

A agenda é tão disputada que, segundo ele, “não há mais datas disponíveis até 21 de dezembro deste ano”. Mesmo com a intensa movimentação, a conservação do espaço é prioridade. “Fazemos, todos os anos, uma manutenção geral em fevereiro, quando não há apresentações. Em 2026, vamos restaurar parte do Salão Nobre, mas sempre respeitando os critérios técnicos, já que se trata de um prédio tombado”, explica.

Do ponto de vista arquitetônico, o Santa Isabel integra o seleto grupo dos 14 teatros-monumentos do Brasil e é considerado um dos mais bem conservados. Com capacidade para 850 pessoas, mantém sua imponência neoclássica com elementos preservados, como o lustre francês e o mobiliário centenário.

Para Romildo, dirigir o Santa Isabel é mais do que uma função: é uma missão de preservar um símbolo de resistência cultural. “O Teatro é a materialização do que Pernambuco representa para o Brasil em termos de cultura, história e protagonismo”.