Sem carta e sem água: o menor bairro do Recife Pau Ferro, formado por apenas 89 moradores, é festejado por seus moradores por ser um refúgio tranquilo. No entanto, a localidade carece de serviços públicos

ADELMO LUCENA

Publicação: 04/08/2025 03:00


“É um lugar para se desconectar do cotidiano da cidade”.  Assim o bairro Pau Ferro, localizado no limite entre Recife e Camaragibe, é definido por seus moradores. Com o menor número de habitantes e também registrando a menor densidade demográfica da capital pernambucana, segundo dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o bairro é formado por matas, um vale, ruas de terra e casarões. 

Com apenas 89 moradores distribuídos em 33 imóveis, Pau Ferro está localizado na divisa com o município de Camaragibe, entre os bairros da Guabiraba (o maior do Recife) e Oitenta (em Camaragibe), nas proximidades do Centro de Treinamento do Retrô Futebol Clube.  Para se ter uma noção do contraste, a Guabiraba tem uma área de 4.617 hectares e dentro dele caberiam cerca de 104 bairros do tamanho de Pau Ferro. 

O bairro também é considerado o último reduto rural da cidade do Recife. A população local é composta, principalmente, por granjeiros, comerciantes e caseiros que trabalham nas propriedades da região.  

“Vim morar aqui porque meu marido tinha o sonho de vir para cá. Estou em Pau Ferro há mais de 20 anos e criei meus filhos aqui. A localidade é muito boa, temos muita paz, silêncio, ouvimos os pássaros cantando e tem um contato com a natureza que os outros lugares do Recife não tem”, conta a enfermeira Cristiane Cavello, de 57 anos.

“A gente mora em Pau-Ferro porque gosta da tranquilidade, mas o bairro não tem calçamento. Não temos água fornecida pela Compesa e o abastecimento é feito por meio de poço. Nem os Correios e nenhum outro tipo de entrega chegam aqui”, explica Cristiane.  O acesso à região é feito principalmente pelas estradas de Pau-Ferro e de Aldeia, vias que, em sua maioria, não possuem pavimentação. Os moradores utilizam de carros próprios ou bicicletas para se deslocar, uma vez que há carência no serviço de Ctransporte público no local. 

Vindo de Aracaju a trabalho, o caseiro André Alves de Jesus, de 42 anos, mora há seis anos em Pau Ferro e diz que, apesar da falta de infraestrutura no bairro, não pretende se mudar do local.  “Moro aqui há seis anos e gosto muito porque vou dormir tranquilo, sem a agitação da cidade. Mas a questão do transporte público é complicada. Também não tem posto de saúde aqui perto. E quando chove a rua fica cheia de poças. Mas um serviço que funciona muito bem aqui é a coleta de lixo, de segunda a sábado”, destaca.

Já a arquiteta Fabiana Araújo de Sousa, de 48 anos, teve a oportunidade de, ainda jovem, construir a casa onde mora. Aos 21 anos ela se mudou junto com o marido e a filha, que ainda era bebê, para a localidade e afirma que o ponto forte do bairro é o contato com a natureza e a privacidade. 

“A cada dia, tem uma evolução aqui, porque quando  a gente veio não tinha luz na rua, não chegava entrega de farmácia, nem água mineral e nem gás de cozinha. A gente tinha que pegar o carro e buscar lá longe.. Não me vejo mais em um apartamento, porque agora tenho a oportunidade de olhar o jardim, dar uma volta e plantar”, relata a arquiteta, que tem como quintal um enorme vale.

“Fiz um acordo na minha empresa para ficar dois dias de home office porque eu tenho que passar 3 horas em engarrafamento daqui pra Boa Viagem. Eu realmente tenho que sair de casa entre 6h e 6h20 pra poder chegar no horário certo”, explica

RESPOSTAS
Em relação à falta de abastecimento de água no local, a Compesa informou, em nota, que as áreas ainda não atendidas pela companhia vão entrar no projeto de concessão dos de distribuição de água, cujo processo se encontra em andamento. 

Já a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) informou que vai fazer um levantamento das ações adequadas para a melhoria da pavimentação das vias do bairro. Por fim, a Secretaria de Defesa Social informou que o bairro de Pau Ferro integra a Área Integrada de Segurança 5 (AIS-5), sob responsabilidade do 11º Batalhão da Polícia Militar e da 5ª Delegacia Seccional da Polícia Civil e é servido de rondas diárias, policiamento ostensivo e outras operações de segurança.