Prédio desaba após ter sido desocupado
O edifício, em Jaboatão, tinha sido vistoriado no último domingo e os moradores foram obrigados a deixar os imóveis por causa dos riscos
BARTÔ LEONEL e MARÍLIA PARENTE
Publicação: 07/05/2025 03:00
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Parte do prédio que caiu na manhã de ontem, menos de 48 horas depois de ter sido totalmente esvaziado |
Interditado e esvaziado no último domingo (4), o prédio Kátia Melo, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, acabou desabando parcialmente às 10h51 de ontem, sem vítimas. O horário foi informado pela Defesa Civil da cidade. O prédio do tipo caixão, que tinha 16 apartamentos, foi vistoriado 48 horas antes pelo próprio órgão, quando foram identificados vários sinais de deterioração, como fissuras, abatimento de piso e indícios de movimentação na estrutura.
Momentos depois do desabamento, os bombeiros deram início a uma varredura nos escombros para garantir que o imóvel estivesse desocupado. Além disso, dois imóveis vizinhos, sendo uma residência e um ponto comercial, foram temporariamente interditados pela Defesa Civil.
Entre os moradores do Kátia Melo que tiveram que sair de casa às pressas no domingo, a aposentada Alneide Maria de Lira relatou ter se desesperado para conseguir levar seus móveis até a casa de uma amiga. “Eu chorei muito quando soube que tinha desabado. Chorei por livramento”, conta, ao Diario de Pernambuco.
Segundo a aposentada, ela recentemente havia contratado um serralheiro para consertar um portão de ferro emperrado. Foi o profissional quem teria feito o primeiro alerta sobre os riscos de desabamento do imóvel. “Ele disse que aquele problema era comum em edifícios que estavam cedendo. Falei com uma vizinha e ela contou que estava com o mesmo problema”, afirma.
TRAGÉDIA
Em nota o prefeito Mano Medeiros prestou solidariedade às famílias afetadas. “A desocupação imediata, determinada pela equipe, foi essencial para evitar uma tragédia. As equipes treinadas e capacitadas agiram desde as primeiras horas do domingo, com os primeiros sinais de alerta. Depois, prosseguiram orientando a saída das famílias e a interdição do edifício, o que garantiu a segurança dos moradores”, disse ele
A Prefeitura de Jaboatão informou ainda que cerca de uma hora e meia antes do sinistro acontecer, equipes da Defesa Civil ainda prestavam atendimento às famílias no local. Já o secretário executivo de Defesa Civil, Elton Moura, contou que que populares alertaram o órgão, no domingo, para problemas no edifício.
Segundo ele, o plantão acionou as autoridades e enviou uma equipe até o local para fazer o “acompanhamento” da situação. Formada por técnicos e assistentes sociais, equipes ouviram os moradores. Dos 16 apartamentos, 12 já estavam desocupados, mas os outros apartamentos ainda estavam com pessoas. “Por volta das 21h de domingo, todos os apartamentos já estavam desocupados, e aí nós interditamos o prédio”, lembra.
Elton também explicou os próximos passos. “Entramos em contato com a administradora do prédio para serem tomadas as providências, tanto da guarda do local quanto para contratação de uma equipe de engenharia, para fazer um laudo técnico sobre a instabilidade dessa estrutura. Caso a administradora não cumpra esse prazo, será acionada pela Procuradoria-Geral de Jaboatão. O passo seguinte será definir qual a técnica que será utilizada para a demolição do prédio, explicou.
OBRAS
A gerente de fiscalização do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Pernambuco (Crea-PE), Denise Maia, esteve no local do desabamento ainda na manhã de ontem. Segundo ela, o conselho apura a informação de que obras foram realizadas recentemente na edificação.
Ela afirmou que o Crea-PE recebeu apenas a informação sobre a interdição do imóvel e entrou em contato com a Defesa Civil. A ideia, segundo ela, era fazer uma ação conjunta dos dois órgãos para ver a situação do prédio.
“A gente chegou aqui por volta de 9h. Nós verificamos que a situação do prédio tinha se agravado em relação à última vistoria da Defesa Civil, que ocorreu domingo, quando o prédio foi interditado”, disse. Denise contou que ainda havia moradores retirando objetos. Ela disse que solicitou a eles que saíssem do prédio, pois existia um risco iminente de um colapso estrutural.
“Fiquei aqui até umas 10h20, na frente do prédio, conversando com a síndica do edifício, perguntando a ela sobre as reformas que ocorreram dentro do prédio. Existem esses indícios de que houve reformas com modificações de parede e essas paredes são estruturais, e não podem ser retiradas sem um acompanhamento técnico”, comento.
A gerente informou que a equipe do Conselho verificou um esmagamento da estrutura, logo no início do prédio, um afundamento e travamento. “Quando começa a afundar a gente vê um travamento das portas, é o primeiro indício e a porta principal já estava emperrada e a gente subindo nas escadas conseguia ver outros tipos de rachaduras inclusive tinham algumas marcações que a gente faz na própria estrutura para verificar essa movimentação e a gente viu que existia uma movimentação”, declarou.
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