Prédios-caixão viraram sinônimo de tragédia
Nos últimos 50 anos, a Região Metropolitana do Recife registrou 18 desabamentos desse tipo de edifício, com um saldo de 50 mortos no total
Publicação: 07/05/2025 03:00
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Em 2023, um prédio desse tipo desabou no Janga, em Paulista, e deixou 11 mortos |
Morar em prédio do tipo caixão no Grande Recife virou sinônimo de perigo. O grave problema voltou ao cenário, na manhã de ontem, com o desabamento do Edifício Kátia Melo, em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Levantamento feito pelo Diario de Pernambuco mostra que aos menos 18 edificações caíram na Região Metropolitana do Recife (RMR), deixando ao menos 50 mortos nos últimos 50 anos.
Até 2023, esses imóveis abrigavam 11% da população da Região Metropolitana. Naquele mesmo ano, em menos de três meses, dois prédios desabaram. Em 7 de julho, no pior deles, um edifício de três andares desmoronou no bairro do Janga, em Paulista, e deixou 11 mortos. À época, a prefeitura afirmou que “o imóvel estava interditado desde 2010 e havia sido reocupado por grupos de sem-teto”.
O termo caixão é uma referência ao formato de caixa desses edifícios. Segundo a definição técnica de engenheiros, os prédios desse tipo usam “alvenaria resistente na função estrutural”, em vez de concreto armado. Ou seja, nesse tipo de imóvel, as próprias paredes sustentam a estrutura, sem o uso de vigas ou pilares.
CUSTOS
Na RMR, esse estilo de prédio se popularizou a partir da década de 1970. Um dos motivos foi a redução de tempo e custo para a construção.
Um mapeamento feito pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) apontou que cerca de 5,3 mil desses prédios foram construídos, principalmente, no Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista e cerca de 3,3 mil deles apresentaram algum risco de desabamento na época do estudo, em 2007. Antes disso, em 2005, a construção do prédio-caixão acabou sendo proibida.
Mas o problema persistia, porque muitos moradores não deixaam os imóveis por não ter para onde ir. Depois de muitas idas e vindas, no ano passado, o governo do Estado oficializou um acordo com o governo federal que garantiu o pagamento de indenizações e o destino dos prédios-caixão em Recife, Olinda e Paulista. Em julho de 2024, as primeiras indenizações, no valor de R$ 120 mil, começaram a ser pagas para 13 mil famílias proprietárias. Ao todo, o governo federal destinou R$ 1,7 bilhão para esses processos.
RESGATE
Mas segundo Carlos Wellington Pires, pesquisador do próprio Itep-PE e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), essas construções podem ser recuperadas, mas o resgate não tem sido priorizado pelos governos. “Foram desenvolvidos modelos de recuperação. Esses modelos já estão em atividade. A gente está dando apoio a várias construtoras e empresas de consultoria que já usam essa metodologia de reforço”, diz ele que também participou do levantamento.
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