Publicação: 09/08/2025 03:00
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Acervo do Diario guarda fotografia da passagem da Seleção campeã pelo Rio de Janeiro |
O Recife foi a primeira cidade do país a receber os jogadores da Seleção Brasileira campeões da Copa do Mundo da Suécia de 1958. Os craques do escrete nacional desembarcaram nos Guararapes, foram homenageados e retribuíram o carinho do torcedor pernambucano na maior manifestação popular que a capital pernambucana viu até então. Uma linda festa.
Mas até ela acontecer, muita água rolou nos bastidores. E como faz parte do bom jornalismo mostrar o fato por todos os ângulos, o Diario de Pernambuco publicou, com exclusividade, detalhes sobre o que se passou até o primeiro jogador da Seleção Brasileira colocar o pé para fora da aeronave da Panair, após a aterrissagem.
Adonias Moura, que por décadas foi o editor de Esportes do Diario, assinou a reportagem de todo processo que culminou no desembarque dos campeões mundiais no Recife. “História que poucos sabem”, antecipa o ‘chapéu’, acima do título “Paulo Machado de Carvalho só permitiu desembarque sob ameaça e com medo do povo”, referindo-se ao chefe da delegação brasileira.
Tudo começou com um telegrama enviado pelo general Kruel, chefe da Polícia do Rio de Janeiro, ao governador de Pernambuco, general Cordeiro de Farias, no dia anterior. A mensagem proibia o desembarque da Seleção Brasileira no Recife, conforme orientação do presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange.
A parada na capital seria por motivos técnicos, a fim de reabastecer e realizar eventuais procedimentos de manutenção, com toda delegação nacional permanecendo no interior da aeronave. Em seguida, levantaria voo com destino ao Rio de Janeiro, a Capital Federal, onde o presidente da República Juscelino Kubitschek a aguardava para saudação oficial aos campeões.
Ao tomar conhecimento da proibição, o matreiro presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Rubem Moreira, convocou a imprensa e anunciou, com os mínimos detalhes, todo um esquema de desfile dos jogadores campeões por ruas e avenidas do Recife, convocando os torcedores a participarem das homenagens em solo pernambucano.
Quando o DC-7C tocou a pista de aterrissagem do Aeroporto dos Guararapes, um mar de gente, ansioso e turbulento, já aguardava o momento de ver de perto os craques brasileiros. Rubem Moreira esperava sensibilizar o chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho. Quem sabe, ao ver aquela festa gigante do torcedor pernambucano para recepcionar os campeões do mundo, ele poderia ceder, ao menos, algumas horas, de permanência da delegação em solo recifense.
Após a troca de cumprimentos protocolares entre o staf da CBD e as autoridades locais (o governador Cordeiro de Farias e prefeito Pelópidas Silveira) e o próprio presidente da FPF, Paulo Machado se manteve irredutível: a delegação da Seleção não botaria os pés fora do avião. Rubem Moreira partiu, então, para o que poderíamos chamar de o seu plano B.
“Tendo dito que não sairia do aeroporto, o sr. Paulo Carvalho de Machado foi praticamente arrastado para o balcão internacional da Panair onde foi escorado na parede pelo presidente da Federação Pernambucana de Futebol, que o avisou que ninguém se responsabilizaria com a atitude do povo, logo fosse anunciado o regresso imediato da delegação”, contou Adonias Moura na sua reportagem.
“O sr. Rubem Moreira afirmou ao desportista paulista que mais de 10 mil pessoas estacionavam nas proximidades do aeroporto, e que a força encarregada do policiamento não levantaria um dedo contra as mesmas, garantindo apenas a integridade do aparelho pousado na pista”, complementou o texto.
Paulo Machado entendeu o argumento de Rubem Moreira e os jogadores da Seleção puderam participar da grande festa. de comemoração pelo primeiro título de copa do mundo do Brasil.