Uma vez em 1968 O ano ficou marcado na história como o que não teve fim. Até hoje reverberam ações e reações daquele período, que inspirou movimentos em diversos países do mundo ocidental

BRENO PESSOA
breno.pessoa@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 22/05/2018 09:00

Um ano de insurgência, rebeldia e, para alguns, também de loucura, entre outras possíveis classificações. 1968 deixou marcas em movimentos populares, na cultura, comportamento e, enfim, na sociedade. Com mobilizações em diversas partes do mundo, a geração de 68 teve como grande marco as manifestações de maio, na França, período lembrado em exposição audiovisual que fica em cartaz a partir de hoje até o dia 22 de julho, na pinacoteca do Instituto Ricardo Brennand (Alameda Antônio Brennand, s/n, Várzea). O espaço funciona de terça-feira a domingo, das 13h às 17h. Os ingressos custam R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia entrada).

A mostra No coração de maio de 1968 é dividida em dois segmentos: um com 43 fotografias feitas por Philippe Gras (1942-2007), que registrou as mobilizações em Paris, outro com a série documental Maio de 68, uma estranha primavera, do historiador e cineasta Dominique Beaux. A exposição faz parte de projeto organizado pela Associação dos Amigos de Philippe Gras e pela Produtora Filmes dos Quatros Planetas, além de contar com o apoio do Institut Français e da Aliança Francesa.

Descobertas nos arquivos pessoais do fotografo após sua morte, as imagens que compõem a exposição se destacam não só pelo valor histórico como pelo refino artístico. Já o documentário de Beaux é caracterizado pela variedade de vozes nos depoimentos, que vai de manifestantes desconhecidos e policiais a líderes de sindicatos, políticos e representantes de outras esferas do poder.

Em complemento à exposição, o Instituto Ricardo Brennand também vai realizar, entre os dias 26 e 29 de junho, das 8h30 às 12h30, o curso Os intelectuais de maio de 1968, a respeito de pensadores que influenciaram o movimento francês. As aulas serão ministradas pelo historiador e epistemólogo François Dosse. Informações pelo (81) 2121-0352.

CONTEXTO
A origem das mobilizações francesas em maio de 1968 remonta a uma série de greves de operários em diversos pontos do país, movimento que tinha grande apoio popular. Paralelamente, o governo tentava implantar uma reforma no ensino superior para tentar adequar a formação de estudantes às necessidades da economia, já que o mercado de trabalho vinha enfrentando dificuldades para absorver os novos profissionais formados. Uma das frentes mais ativas de resistência vinham de alunos da Universidade de Paris-Nanterre, que foi palco de ações que se opunham à prisão manifestantes envolvidos em protestos contra a Guerra do Vietnã.

A mobilização ganhou corpo em outras universidades, incluindo a tradicional Sorbonne, que foi palco de ocupação estudantil fortemente repreendida pela polícia. No dia 3 de maio daquele ano, um confronto entre estudantes e policiais no Quartier Latin, bairro conhecido por ser residência estudantil e de intelectuais, terminou com 600 estudantes presos e mais de 100 feridos.

Movimentos similares se deram em outros países ocidentais, como Alemanha, Reino Unido, México, Argentina e Chile. No Brasil, por exemplo, a Polícia Militar e agentes do Dops reprimiram violentamente, no dia 3 de maio, uma passeata de estudantes e trabalhadores realizada em Salvador, na Bahia. Na pauta da manifestações, pedidos pelo fim da ditadura milita e revogação do aperto salarial.