O quebra-cabeça do Recife holandês
Peças do período do domínio holandês em Pernambuco estão espalhadas por diversos museus do Recife
Publicação: 24/11/2018 03:00
O período do domínio holandês em Pernambuco pode ser remontado, como em um quebra-cabeça, por peças espalhadas em museus do Recife. Pontos turísticos da cidade também guardam memórias e patrimônios da época. Para quem quer reviver esse capítulo da história pernambucana, o roteiro pode começar por Santo Antônio. Quando Maurício de Nassau chegou à colônia, ele criou a Cidade Maurícia (Mauritsstad) na área hoje ocupada pelo bairro do Centro do Recife.
Foi onde Nassau mandou construir a atual Ponte Maurício de Nassau, então chamada de Ponte do Recife. Nesse local, a população viu um “boi voar”. Antes da inauguração da primeira ponte de grande porte do Brasil, o conde de Nassau divulgou amplamente que um boi voaria no local. O objetivo era ter um público grande e arrecadar dinheiro com a cobrança de pedágios para amenizar o prejuízo no orçamento no projeto. No dia do evento, 28 de fevereiro de 1644, o administrador cumpriu com o que prometeu. Usando cordas e roldanas, fez um boi empalhado passar de um lado para o outro da ponte.
No Instituto Ricardo Brennand, bairro da Várzea, está o maior número de peças do período do domínio holandês. Na sala de exposição Frans Post, ficam guardadas 15 das 158 obras do artista (única coleção que cobre as quatro fases do trabalho do artista). No museu, é possível ainda ver um documento original em pergaminho datado de Brademburgo 1676 e assinado por Maurício de Nassau. Uma reprodução da Nau Zuphen, embarcação que conduziu a comitiva do alemão a serviço dos Países Baixos a Pernambuco, também está na coleção.
Uma biblioteca sobre o Brasil holandês, com livros impressos na Holanda, Portugal, Inglaterra e Espanha, também pode ser vista no espaço cultural. “Estas coleções foram organizadas por Bia Corrêa do Lago, autora de amplo estudo sobre Frans Post e curadora desta primeira exposição do acervo do Instituto, tornada possível graças ao apoio do Ministério da Cultura”, destaca o presidente do instituto, Ricardo Brennand, em textos expostos nas paredes do museu.
Moedas, cachimbos com a marca da Companhia das Índias Ocidentais e um globo terrestre original da época (além dele, só há outros dois, na Holanda) também estão guardados no Recife. “A história do Brasil holandês seria outra sem a presença do conde João Maurício de Nassau. Durante sete anos, governou o Nordeste e conseguiu disciplinar e pacificar a população da região, defender e ampliar os territórios conquistados e também garantir a produção e comercialização do açúcar”, explica a apresentação da exposição.
O Forte do Brum, construído pelos portugueses em 1626 e finalizado com a participação holandesa em 1630, também remonta à época. A Praça da República - cuja origem reporta ao período de Maurício de Nassau, concebido com o início do plantio de um parque natural para o Palácio de Friburgo -; o Sítio da Trindade - ponto de resistência dos portugueses durante a dominação holandesa - e o Monte dos Guararapes - onde aconteceram as Batalhas dos Guararapes, que culminaram com a expulsão dos holandeses - são outros locais que guardam pedaços dessa história.
Para saber mais sobre o Brasil holandês
Filmes
Doce Brasil Holandês (2010), de Monica Schmiedt
Duas historiadoras, a brasileira Kalina Vanderlei e a alemã Sabrina Van der Ley, encontraram-se no Recife para investigar as raízes e as contradições do mito que se criou acerca da invasão holandesa a Pernambuco, no século 17. Maurício de Nassau é definido por alguns moradores de Recife como “o melhor prefeito que a cidade já teve”.
O Rochedo e a Estrela (2007), de Katia Mesel
O documentário aborda a expansão do judaísmo em Pernambuco durante o domínio holandês no século 17. O filme mostra a importância dos “cristãos novos” (judeus batizados a força pelo governo português) e da luta de Mauricio de Nassau pela liberdade religiosa, o que permitiu, posteriormente, a criação da primeira sinagoga das Américas, a Zur Israel.
Livros
O Brasil Holandês (2002), de Evaldo Cabral de Mello
De acordo com a obra, a presença do conde Maurício de Nassau no Nordeste brasileiro, no início do século 17, transformou Recife em uma cidade desenvolvida. A obra reúne passagens de documentos da época, desde as primeiras invasões na Bahia e Pernambuco até sua derrota e expulsão. Os textos - apresentados e contextualizados pelo historiador Evaldo Cabral de Mello - foram escritos por viajantes, governantes e estudiosos.
Viagem ao Brasil (1644-1654): O diário de um soldado dinamarquês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, de Peter Hansen Hajstrup
Editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), o livro é a primeira versão para o português de uma obra rara do período de dominação holandesa e tem como base o manuscrito de um militar de baixa patente que passou dez anos em Pernambuco e conseguiu sair vivo de confrontos como as batalhas de Tabocas, Casa Forte e Guararapes. Livro reproduz pinturas de artistas holandeses famosos, como Frans Post e Albert Eckhout.
Exposições
Frans Post e o Brasil Holandês (Instituto Ricardo Brennand)
Na sala de exposição Frans Post, do Instituto Ricardo Brennand, estão 15 das 158 obras do artista (única coleção que cobre as quatro fases do trabalho de Post), considerado, junto com Albert Eckhout, o mais relevante artista neerlandês a serviço de Nassau na comitiva que o acompanhou a Pernambuco. Ele chegou ao Brasil em 1637, aos 40 anos, e veio com Nassau com o objetivo de montar uma grande coleção de desenhos com motivos brasileiros para mecenas europeus.
Endereço: Rua Mário Campelo, 700, Várzea, Recife
Horário: de terça a domingo, das 13h às 17h
Entrada: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia entrada)
Cinco Pontas (Museu da Cidade do Recife)
A mostra apresenta gravuras do período holandês, quando a Europa pouco sabia sobre as terras de cá, mostram como os estrangeiros enxergavam o Recife. Duas telas de Baltazar da Câmara e Murillo La Greca também compõem o acervo, bem como desenhos de Frans Post, mapas históricos, fotografias, textos, achados arqueológicos feitos no interior do Forte das Cinco Pontas (balas, cachimbos, conchas) e objetos de demolição da Igreja dos Martírios.
Endereço: Forte das Cinco Pontas, s/n, São José, Recife
Horário: de terça a domingo, das 9h às 17h
Entrada: gratuita
Foi onde Nassau mandou construir a atual Ponte Maurício de Nassau, então chamada de Ponte do Recife. Nesse local, a população viu um “boi voar”. Antes da inauguração da primeira ponte de grande porte do Brasil, o conde de Nassau divulgou amplamente que um boi voaria no local. O objetivo era ter um público grande e arrecadar dinheiro com a cobrança de pedágios para amenizar o prejuízo no orçamento no projeto. No dia do evento, 28 de fevereiro de 1644, o administrador cumpriu com o que prometeu. Usando cordas e roldanas, fez um boi empalhado passar de um lado para o outro da ponte.
No Instituto Ricardo Brennand, bairro da Várzea, está o maior número de peças do período do domínio holandês. Na sala de exposição Frans Post, ficam guardadas 15 das 158 obras do artista (única coleção que cobre as quatro fases do trabalho do artista). No museu, é possível ainda ver um documento original em pergaminho datado de Brademburgo 1676 e assinado por Maurício de Nassau. Uma reprodução da Nau Zuphen, embarcação que conduziu a comitiva do alemão a serviço dos Países Baixos a Pernambuco, também está na coleção.
Uma biblioteca sobre o Brasil holandês, com livros impressos na Holanda, Portugal, Inglaterra e Espanha, também pode ser vista no espaço cultural. “Estas coleções foram organizadas por Bia Corrêa do Lago, autora de amplo estudo sobre Frans Post e curadora desta primeira exposição do acervo do Instituto, tornada possível graças ao apoio do Ministério da Cultura”, destaca o presidente do instituto, Ricardo Brennand, em textos expostos nas paredes do museu.
Moedas, cachimbos com a marca da Companhia das Índias Ocidentais e um globo terrestre original da época (além dele, só há outros dois, na Holanda) também estão guardados no Recife. “A história do Brasil holandês seria outra sem a presença do conde João Maurício de Nassau. Durante sete anos, governou o Nordeste e conseguiu disciplinar e pacificar a população da região, defender e ampliar os territórios conquistados e também garantir a produção e comercialização do açúcar”, explica a apresentação da exposição.
O Forte do Brum, construído pelos portugueses em 1626 e finalizado com a participação holandesa em 1630, também remonta à época. A Praça da República - cuja origem reporta ao período de Maurício de Nassau, concebido com o início do plantio de um parque natural para o Palácio de Friburgo -; o Sítio da Trindade - ponto de resistência dos portugueses durante a dominação holandesa - e o Monte dos Guararapes - onde aconteceram as Batalhas dos Guararapes, que culminaram com a expulsão dos holandeses - são outros locais que guardam pedaços dessa história.
Para saber mais sobre o Brasil holandês
Filmes
Doce Brasil Holandês (2010), de Monica Schmiedt
Duas historiadoras, a brasileira Kalina Vanderlei e a alemã Sabrina Van der Ley, encontraram-se no Recife para investigar as raízes e as contradições do mito que se criou acerca da invasão holandesa a Pernambuco, no século 17. Maurício de Nassau é definido por alguns moradores de Recife como “o melhor prefeito que a cidade já teve”.
O Rochedo e a Estrela (2007), de Katia Mesel
O documentário aborda a expansão do judaísmo em Pernambuco durante o domínio holandês no século 17. O filme mostra a importância dos “cristãos novos” (judeus batizados a força pelo governo português) e da luta de Mauricio de Nassau pela liberdade religiosa, o que permitiu, posteriormente, a criação da primeira sinagoga das Américas, a Zur Israel.
Livros
O Brasil Holandês (2002), de Evaldo Cabral de Mello
De acordo com a obra, a presença do conde Maurício de Nassau no Nordeste brasileiro, no início do século 17, transformou Recife em uma cidade desenvolvida. A obra reúne passagens de documentos da época, desde as primeiras invasões na Bahia e Pernambuco até sua derrota e expulsão. Os textos - apresentados e contextualizados pelo historiador Evaldo Cabral de Mello - foram escritos por viajantes, governantes e estudiosos.
Viagem ao Brasil (1644-1654): O diário de um soldado dinamarquês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, de Peter Hansen Hajstrup
Editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), o livro é a primeira versão para o português de uma obra rara do período de dominação holandesa e tem como base o manuscrito de um militar de baixa patente que passou dez anos em Pernambuco e conseguiu sair vivo de confrontos como as batalhas de Tabocas, Casa Forte e Guararapes. Livro reproduz pinturas de artistas holandeses famosos, como Frans Post e Albert Eckhout.
Exposições
Frans Post e o Brasil Holandês (Instituto Ricardo Brennand)
Na sala de exposição Frans Post, do Instituto Ricardo Brennand, estão 15 das 158 obras do artista (única coleção que cobre as quatro fases do trabalho de Post), considerado, junto com Albert Eckhout, o mais relevante artista neerlandês a serviço de Nassau na comitiva que o acompanhou a Pernambuco. Ele chegou ao Brasil em 1637, aos 40 anos, e veio com Nassau com o objetivo de montar uma grande coleção de desenhos com motivos brasileiros para mecenas europeus.
Endereço: Rua Mário Campelo, 700, Várzea, Recife
Horário: de terça a domingo, das 13h às 17h
Entrada: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia entrada)
Cinco Pontas (Museu da Cidade do Recife)
A mostra apresenta gravuras do período holandês, quando a Europa pouco sabia sobre as terras de cá, mostram como os estrangeiros enxergavam o Recife. Duas telas de Baltazar da Câmara e Murillo La Greca também compõem o acervo, bem como desenhos de Frans Post, mapas históricos, fotografias, textos, achados arqueológicos feitos no interior do Forte das Cinco Pontas (balas, cachimbos, conchas) e objetos de demolição da Igreja dos Martírios.
Endereço: Forte das Cinco Pontas, s/n, São José, Recife
Horário: de terça a domingo, das 9h às 17h
Entrada: gratuita
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