Conte a sua história
Autores renomados da nova cena literária, Socorro Acioli e Stênio Gardel participam de evento que será realizado no Recife
Allan Lopes
Publicação: 01/04/2024 03:00
Só você pode contar a sua história. Essa simples, porém significativa, orientação é o mantra de Socorro Acioli que foi transmitido a Stênio Gardel, ambos importantes nomes da literatura contemporânea brasileira. A dupla é atração do evento promovido pela Companhia das Letras que acontecerá amanhã no auditório da Livraria Jaqueira, no Bairro do Recife, às 20h. Haverá bate-papo e sessão de autógrafos dos mais recentes títulos dos escritores: Oração para desaparecer e A palavra que resta. A entrada está sujeita à capacidade do espaço e será assegurada mediante a distribuição gratuita de senhas, que terá início às 11h.
Socorro e Stênio, ambos nascidos no Ceará, são representantes de uma nova geração literária, cuja influência se reflete nos hábitos de leitura no Nordeste. De acordo com a pesquisa Panorama do Consumo de Livros, divulgada em dezembro passado, a região ocupa a segunda posição em frequência de leitura (28%), sendo superada apenas pelo Sudeste (45%). As regiões Sul (14%), Norte (8%) e Centro-Oeste (7%) apresentam índices inferiores. “Somos peças pequenas de um projeto maior que é difundir a consciência literária no país”, comenta a escritora, que é graduada em Jornalismo.
Sem abrir mão da essência investigativa, Socorro incorpora elementos jornalísticos em suas obras de ficção. “Metade do meu trabalho vem do jornalismo”. Oração para desaparecer, por exemplo, é uma obra inspirada na relação entre Brasil e Portugal, mais precisamente no distrito de Almofala, onde a Igreja Nossa Senhora da Conceição foi construída pelos portugueses em troca de uma imagem de santa forjada em ouro encontrada pelo povo tremembé. No entanto, a igreja foi soterrada pelas dunas logo em seguida, um episódio que se atribui à vingança dos ‘encantados’ (entidades) pelo massacre dos tremembés.
No livro, uma mulher acorda sem lembranças em Portugal após ser enterrada viva, iniciando uma jornada para entender sua identidade brasileira e os eventos que a levaram até lá. Conforme a história se desenrola, ela descobre uma conexão intrigante com o soterramento da Igreja de Almofala. “É curioso como um livro dessa temática está sendo tão lido neste momento da nossa história”. Em 2023, Oração para desaparecer foi o livro mais vendido da Festa Literária de Paraty (Flip). Socorro Acioli também apareceu na lista com A cabeça do santo, obra lançada em 2014 e que será adaptada para o cinema.
A conexão entre ela e Stênio Gardel vai além da mera coincidência de serem do mesmo estado. Socorro começou a ministrar oficinas literárias em 2013, ao mesmo tempo em que Stênio trabalhava como servidor público no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, mas isso não o impediu de frequentar as aulas e perseguir o seu sonho de se tornar escritor. Em 2016, durante uma das oficinas conduzidas por Socorro, ele deu os primeiros passos no texto de A palavra que resta, obra vencedora na categoria de tradução no National Book Awards - o mais importante prêmio do mercado editorial nos Estados Unidos.
Stênio explica que Socorro o inspirou a não deixar de escrever. “Ela dizia: ‘Conte a história que só você pode contar’. Foi muito libertador perceber que ninguém vai contar as histórias como eu quero”. Nas páginas de A palavra que resta, o autor estreia no universo do romance, narrando a jornada de Raimundo, cujo romance secreto foi tragicamente interrompido em sua juventude. Por conta do analfabetismo, ele guardou por 50 anos uma carta que nunca conseguiu ler.
Assim como Stênio, o protagonista é homossexual e nordestino - algo que seria impensável ser celebrado na literatura há alguns anos, apesar das barreiras ainda existentes atualmente. “Os autores finalmente têm espaço reservado para suas vozes e histórias. Espero que seja algo permanente e mantenha constância. É uma forma de ir contra a corrente, principalmente se levar em conta a história recente do Brasil, onde uma parcela da sociedade institui preconceitos e violências contra pessoas e grupos minoritários”, afirma o escritor.
Socorro e Stênio, ambos nascidos no Ceará, são representantes de uma nova geração literária, cuja influência se reflete nos hábitos de leitura no Nordeste. De acordo com a pesquisa Panorama do Consumo de Livros, divulgada em dezembro passado, a região ocupa a segunda posição em frequência de leitura (28%), sendo superada apenas pelo Sudeste (45%). As regiões Sul (14%), Norte (8%) e Centro-Oeste (7%) apresentam índices inferiores. “Somos peças pequenas de um projeto maior que é difundir a consciência literária no país”, comenta a escritora, que é graduada em Jornalismo.
Sem abrir mão da essência investigativa, Socorro incorpora elementos jornalísticos em suas obras de ficção. “Metade do meu trabalho vem do jornalismo”. Oração para desaparecer, por exemplo, é uma obra inspirada na relação entre Brasil e Portugal, mais precisamente no distrito de Almofala, onde a Igreja Nossa Senhora da Conceição foi construída pelos portugueses em troca de uma imagem de santa forjada em ouro encontrada pelo povo tremembé. No entanto, a igreja foi soterrada pelas dunas logo em seguida, um episódio que se atribui à vingança dos ‘encantados’ (entidades) pelo massacre dos tremembés.
No livro, uma mulher acorda sem lembranças em Portugal após ser enterrada viva, iniciando uma jornada para entender sua identidade brasileira e os eventos que a levaram até lá. Conforme a história se desenrola, ela descobre uma conexão intrigante com o soterramento da Igreja de Almofala. “É curioso como um livro dessa temática está sendo tão lido neste momento da nossa história”. Em 2023, Oração para desaparecer foi o livro mais vendido da Festa Literária de Paraty (Flip). Socorro Acioli também apareceu na lista com A cabeça do santo, obra lançada em 2014 e que será adaptada para o cinema.
A conexão entre ela e Stênio Gardel vai além da mera coincidência de serem do mesmo estado. Socorro começou a ministrar oficinas literárias em 2013, ao mesmo tempo em que Stênio trabalhava como servidor público no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, mas isso não o impediu de frequentar as aulas e perseguir o seu sonho de se tornar escritor. Em 2016, durante uma das oficinas conduzidas por Socorro, ele deu os primeiros passos no texto de A palavra que resta, obra vencedora na categoria de tradução no National Book Awards - o mais importante prêmio do mercado editorial nos Estados Unidos.
Stênio explica que Socorro o inspirou a não deixar de escrever. “Ela dizia: ‘Conte a história que só você pode contar’. Foi muito libertador perceber que ninguém vai contar as histórias como eu quero”. Nas páginas de A palavra que resta, o autor estreia no universo do romance, narrando a jornada de Raimundo, cujo romance secreto foi tragicamente interrompido em sua juventude. Por conta do analfabetismo, ele guardou por 50 anos uma carta que nunca conseguiu ler.
Assim como Stênio, o protagonista é homossexual e nordestino - algo que seria impensável ser celebrado na literatura há alguns anos, apesar das barreiras ainda existentes atualmente. “Os autores finalmente têm espaço reservado para suas vozes e histórias. Espero que seja algo permanente e mantenha constância. É uma forma de ir contra a corrente, principalmente se levar em conta a história recente do Brasil, onde uma parcela da sociedade institui preconceitos e violências contra pessoas e grupos minoritários”, afirma o escritor.