PRIMEIRA NEGRA » Ana Maria Gonçalves, a nova imortal da ABL

André Guerra

Publicação: 11/07/2025 03:00

O livro Um Defeito de Cor é destaque de sua carreira (LÉO PINHEIRO/DIVULGAÇÃO)
O livro Um Defeito de Cor é destaque de sua carreira
Em 127 anos de história da Academia Brasileira de Letras, nenhuma mulher negra havia feito parte da instituição. Isso acaba de mudar com a chegada da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, que ocupará a cadeira de nº 33. Ela se torna também a 13ª pessoa do sexo feminino eleita para vestir o fardão da ABL, todas seguindo o caminho aberto pela pioneira jornalista e escritora cearense Rachel de Queiroz, que tomou posse em 1977.

A autora do premiado livro Um Defeito de Cor (2006) - amplamente estudado como um dos mais importantes na discussão sobre racismo, ancestralidade e relações de classe no Brasil - recebeu 30 votos e ocupará o lugar do professor e filólogo Evanildo Bechara, que faleceu em maio, aos 97 anos. Estavam inscritos para a vaga: Eliane Potiguara, que ficou com o único outro voto disponível, Ruy da Penha Lobo, Wander Lourenço de Oliveira, José Antônio Spencer, Remilson Soares Candeia, João Calazans Filho, Célia Prado, Denilson Marques da Silva, Gilmar Cardoso, Roberto Numeriano, Aurea Domenech e Martinho Ramalho de Melo.

Destacando a presença forte de Ana Maria Gonçalves no cenário internacional, em debates sobre raça e literatura, a Academia Brasileira de Letras exaltou em publicação nas redes sociais a importância do romance Um Defeito de Cor, eleito o melhor livro de literatura brasileira do século 21 pela Folha de S. Paulo.

A entrada da mineira abre um espaço importante de representatividade na ABL, que ainda possui como seus únicos integrantes negros o cantor e compositor Gilberto Gil e o escritor Domício Proença Filho, enquanto o ambientalista e filósofo Ailton Krenak se tornou no ano passado o primeiro membro indígena da instituição. Passos essenciais para que o debate literário cresça e se diversifique em um país tão plural.