Um símbolo pernambucano como herança definitiva

Publicação: 04/03/2017 09:00

Nova roma de bravos guerreiros: Bandeira revolucionária em muito se assemelha ao pavilhão estadual atual, ostentado com orgulho pelos pernambucanos no Brasil e no exterior. Versão moderna foi instituída no centenário do movimento (Nando Chiappetta/DP )
Nova roma de bravos guerreiros: Bandeira revolucionária em muito se assemelha ao pavilhão estadual atual, ostentado com orgulho pelos pernambucanos no Brasil e no exterior. Versão moderna foi instituída no centenário do movimento

Um dos principais legados da Revolução de 1817 é a bandeira de Pernambuco. Idealizada pelos revolucionários, foi oficializada um século depois pelo governador Manuel Antônio Pereira Borba (1915-1919) como um dos símbolos oficiais do estado. A cor azul do retângulo superior simboliza a grandeza do céu pernambucano; a cor branca representa a paz; o arco-íris em três cores (verde, amarelo, vermelho) representa a união de todos os pernambucanos; a estrela caracteriza o estado no conjunto da Federação; o sol é a força e a energia de Pernambuco. Já a cruz representa a fé na justiça e no entendimento.

Na versão original, a bandeira estampava três estrelas, que representavam as províncias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. A versão atual, oficializada pelo decreto nº 459/1917, na comemoração do centenário, apenas deixou uma estrela acima do arco-íris. “Ela foi apresentada ao povo onde hoje é a Praça da República. Na comemoração dos 100 anos da revolução, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano solicitou que fosse adotada como a bandeira oficial do estado. Em 1937, porém, no Estado Novo, Getulio Vargas ordenou que os estados eliminassem suas bandeiras, considerando apenas a nacional como símbolo”, conta o historiador George Cabral.

Durante o período do Estado Novo, o instituto pediu para adotar a então bandeira estadual como símbolo da entidade. “Nessa época, as bandeiras estaduais estavam proibidas, mas não as de associações. Assim, nos anos do Estado Novo, nossa bandeira só tremulava na sede do instituto”, afirma Cabral. Uma flâmula confeccionada em 1917, por ocasião do centenário, é uma das relíquias guardadas até hoje no acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, na Rua do Hospício.

Hotsite reúne perfis dos personagens

Dois séculos atrás, em 6 de maio de 1817, pernambucanos formaram o primeiro governo livre brasileiro. Os perfis dos personagens que fizeram essa história acontecer foram revistos e contadas pelo Diario de Pernambuco ao longo do ano passado e nos primeiros meses de 2017. Os leitores podem encontrar todos os textos no site blogs.diariodepernambuco.com.br/historiape.

Ajudar a divulgar a história do estado, a popularizá-la e a incentivar o estudo e o debate em torno dela é o objetivo do projeto Pernambuco, História & Personagens, realizado pelo Diario em parceria com o governo do estado. De Duarte Coelho a Miguel Arraes, o hotsite reúne 50 biografias de personagens marcantes na história no estado. A iniciativa faz parte das comemorações do Bicentenário da Revolução de 1817.

Ruas e avenidas que receberam nomes de personagens da revolução

 (Editoria de arte/DP)
1. Rua Frei Caneca

Joaquim da Silva Rabelo nasceu em 1779, no Recife. Ingressou como noviço no Convento do Carmo aos 17 anos e ordenou-se em 1801, trocando o sobrenome Rabelo por Amor Divino. Ficou conhecido pelo apelido que ganhou na infância, vendendo as panelas e canecas fabricadas pelo pai. Participou da Revolução de 1817 como um dos secretários do Governo Provisório de Pernambuco e foi fuzilado em 13 de janeiro de 1825 depois de três carrascos negarem-se a enforcá-lo. Batiza uma rua no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife.

2. Avenida Cruz Cabugá
Quando a revolução irrompeu no Recife, Cruz Cabugá assumiu o posto de diretor do Erário, uma espécie de ministro da Fazenda do governo republicano. Fez uma série de intervenções na economia local e embarcou para os Estados Unidos, tornando-se o primeiro embaixador do povo brasileiro junto a uma nação estrangeira. A primeira missão do embaixador de Pernambuco era tentar conseguir do governo de lá o reconhecimento da república. Dá nome a uma das principais avenidas do Centro do Recife, que corta o bairro de Santo Amaro.

3. Rua Manoel de Carvalho
Conselheiro do governo revolucionário de 1817, Manoel de Carvalho foi presidente de Pernambuco e principal líder da Confederação do Equador, em 1824. Rico proprietário, de uma tradicional família pernambucana e membro da maçonaria, foi um radical defensor do republicanismo em 1817. Foi um dos poucos líderes revolucionários que conseguiram escapar da morte ou da prisão, pois se escondeu até conseguir embarcar clandestinamente para os Estados Unidos. Uma rua no bairro dos Aflitos tem seu nome.

4. Rua Gervásio Pires
Até 1817, Gervásio Pires cuidava dos negócios da família, quando os revolucionários que assumiram o governo de Pernambuco ofereceram o posto de diretor do Erário. Aos 52 anos, o negociante aceitou a incumbência, mas acabou sendo condenado a quatro anos de prisão na Bahia após a derrota republicana. No cárcere, recebeu o apelido de “o mudo de Pernambuco”, pois não falava na cadeia. Uma rua que corta a Avenida Conde da Boa Vista, na área central do Recife, ganhou o nome do negociante.

5. Rua Padre João Ribeiro

Quando a Revolução de 1817 triunfou, foi criado em Pernambuco um governo provisório, composto por cinco membros que representavam os comerciantes, os agricultores, os juristas, os militares e os religiosos — neste caso, João Ribeiro. Enforcou-se durante a fuga dos líderes republicanos. O crânio do padre João Ribeiro esteve guardado no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco, onde ficou exposto ao público até 2001, quando foi levado para ser sepultado no Engenho Paulista. Dá nome a uma rua no bairro da Boa Vista.

6. Rua Domingos José Martins

Nascido em um vilarejo chamado Caxangá (hoje, Cachoeiro do Itapemirim), no Espírito Santo, filho de pai militar, Domingos José Martins cresceu na Bahia, onde se tornou comerciante. Quando os pernambucanos proclamaram uma república, ele - já morando no Recife - foi eleito um dos cinco governadores provisórios. Hoje, Domingos Martins é nome de rua, no Bairro Recife, e de cidade, no Espírito Santo. Em 2009, foi inscrito no “Livro dos Heróis da Pátria”, através de projeto do então deputado federal Maurício Rands.

Números:
  • 1,6 mil mortos e feridos na revolução
  • 800 degredados, quantidade maior que a de pessoas expulsas na Inconfidência Mineira
  • 74 dias foi o tempo que durou o sonho do primeiro governo livre brasileiro