Uma aventura romântica, libertária e democrática Estado inicia celebração dos 200 anos da revolução que ousou mudar o Brasil

texto: Paulo Santos de Oliveira | pso1952@gmail.com

Publicação: 04/03/2017 09:00

A Revolução de 1817, em Pernambuco, feita por gente boa e idealista, também foi muito alegre, com o povo festejando nas ruas. E deu aos brasileiros uma república, um governo próprio, constituição, exército, marinha, polícia e embaixador no exterior, além de fazer valer os Princípios da Declaração dos Direitos do Homem, recentemente proclamados na França, tudo pela primeira vez. Reprimida com extrema violência, à custa de centenas de prisões, execuções e degredos, mesmo assim ela apressou a independência do Brasil, em 1822, além de influenciar outros movimentos como Convenção de Beberibe, em 1821, a Confederação do Equador, em 1824, até a Revolução Praieira, de 1848. E legou aos pernambucanos a sua bandeira e a sua Data Magna, o dia 6 de março.    

A separação do Brasil de Portugal vinha sendo planejada há bastante tempo, em segredo, pela maçonaria. O movimento deveria eclodir em abril de 1817, durante a Semana Santa, simultaneamente no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro, as três vilas mais ricas e povoadas do país. A trama, porém, foi delatada ao governador de Pernambuco, Caetano Pinto Montenegro, por um comerciante apelidado de “Carvalhinho”, o que causou seu nascimento precoce.

Atendendo às pressões dos oficiais portugueses, Caetano Pinto ordenou as prisões dos líderes patriotas, no dia 6 de março. Os civis, como Domingos Martins e Cruz Cabugá, entre outros, passaram, então, a ser detidos e encaminhados à Cadeia Pública, localizada no prédio onde hoje se abriga o Arquivo Público do Estado, na Rua do Imperador, no Recife. Já os oficiais militares dos dois regimentos profissionais, ou “de linha” - o da Infantaria, sediado em Olinda, e o de Artilharia, no Recife - começaram a ser recolhidos aos fortes do Brum e de Cinco Pontas, respectivamente. E foi no quartel da Artilharia, situado onde hoje fica o Edifício JK, no início da Avenida Dantas Barreto, que a bomba explodiu.

O capitão José de Barros Lima, mais conhecido como “Leão Coroado”, devido aos seus cabelos longos e sua fama de valente, ao receber a ordem de prisão dada pelo seu superior, o brigadeiro Manoel Barbosa, não se submeteu. Em vez disso, sacou a espada da bainha e matou o português. E após alguns momentos de perplexidade geral, o capitão Pedro Pedroso, um mulato escuro, também muito corajoso, tomou a frente, tirou a espada melada de sangue das mãos do camarada e, erguendo-a bem alto, proclamou a revolução...  

O movimento deveria eclodir no mês de abril, mas a trama foi delatada

 (SHILTON ARAUJO/ESP.DP)

A história vista pelos olhos dos pernambucanos
Óculos do capitão José de Barros Lima, o “Leão Coroado”, um dos principais personagens da Revolução de 1817, integram hoje acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, bem como sua espada e a bandeira do movimento libertário que durou 74 dias

Nesta edição

Um autêntico “Romeu e Julieta”

Domingos e Maria Teodora namoraram em segredo por quatro anos e o seu casamento foi, talvez, o mais importante que já houve no Brasil

A “revolução dos padres”
Os homens mais cultos e preparados do país deram uma grande contribuição ao movimento

Honestidade e republicanismo
Os patriotas de 1817 deixaram muitos bons exemplos para os políticos de hoje

Heróis e mártires
Qual foi o destino dos revolucionários após a derrota da República

O que foi 1817
Uma tentativa de criar outro país, bem diferente daquele que surgiu em 1822