Testemunhas dos dias de luta Pernambuco guarda série de edificações, monumentos e marcos urbanos ligados à revolta republicana de 1817

Anamaria Nascimento
local.pe@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 04/03/2017 09:00

Há 200 anos, Pernambuco era um país. Em 6 de março de 1817, um grupo de revolucionários declarou independência e importou os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa. A insatisfação com a Coroa portuguesa fez com que surgisse a primeira república em território brasileiro, mais de 70 anos antes da proclamação da República pelo marechal Deodoro da Fonseca. Durante 74 dias, a capitania pernambucana teve bandeira própria, constituição, liberdade de imprensa e até embaixador nos Estados Unidos.

No bicentenário da Revolução de 1817, historiadores insistem que é preciso popularizar esse capítulo entre os pernambucanos. “A Inconfidência Mineira, que foi um movimento muito menos organizado que o pernambucano, ganhou mais destaque nacional. Tiradentes foi alçado a herói nacional, e os pernambucanos não são mencionados em algumas obras. A maioria dos livros didáticos que circulam no país é produzido no Sudeste e isso atrapalha a difusão dessa história”, afirma o historiador George Cabral, presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP).

Tudo começou quando o capitão José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado, matou o brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro, responsável pelo Forte das Cinco Pontas, após rejeitar voz de prisão por participar de uma conspiração para libertar Pernambuco da Coroa portuguesa. Depois do assassinato, o Leão Coroado tomou o quartel e deu início à revolução. Tinha início ali a história da nação Pernambuco.

O sonho do primeiro governo livre brasileiro, no entanto, só durou 74 dias. “Foi um movimento que conseguiu tomar o poder. Naquele momento da história, nenhum outro movimento colonial havia conseguido isso. O principal legado deixado pela revolução, mesmo que o governo não tenha durado, é a ideia de que o estado deve servir ao povo e não o contrário. Sobretudo nos tempos atuais, esse legado é muito importante”, destaca Cabral.

Relíquias que marcam essa história podem ser encontradas na sede do IAHGP, na Rua do Hospício. A entidade guarda a espada e os óculos redondos de lentes de vidro verde que pertenceram ao Leão Coroado, além de quadros que retratam os comerciantes Domingos José Martins (1781-1817) e Gervásio Pires (1765-1838). Um exemplar do Preciso, único documento impresso pelos revolucionários, em que eles detalham as ações a serem realizadas pelo governo recém-constituído, também pode ser visto no instituto.

A partir do dia 12, os objetos relacionados à Revolução de 1817 ficarão no Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas, bairro de São José. A exposição 1817 - Revolução Republicana permanecerá em cartaz até 5 de março de 2018.

"O principal legado deixado pela Revolução de 1817, mesmo que o governo não tenha durado, é a ideia de que o estado deve servir ao povo e não o contrário"
George Cabral, historiador da UFPE

Releituras
A Arte Plural Galeria expôs, desde janeiro, obras inéditas de 12 artistas plásticos de várias gerações, pernambucanos ou radicados no estado. Eles foram convidados pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) para criar telas ou desenhos inspirados no momento histórico. As obras foram reunidas na mostra 17 por 12 e também ilustram o calendário deste ano da Cepe.

Pontos-chave

Forte do Brum foi palco de conflitos e também refúgio de integrantes do movimento (Shilton Araujo/Esp.DP )
Forte do Brum foi palco de conflitos e também refúgio de integrantes do movimento

Forte do Brum

O Forte do Brum foi palco de vários conflitos que ocorreram em Pernambuco no século 19. Na Revolução Pernambucana, após o assassinato do Brigadeiro Barbosa de Castro pelo Capitão José de Barros (o “Leão Coroado”), o governador e capitão-general da Província de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, refugiou-se no Forte do Brum. De lá, ele fugiu para o Rio de Janeiro.

Praça da República era conhecida como Campo da Honra (Shilton Araujo/Esp.DP )
Praça da República era conhecida como Campo da Honra
Praça da República

A área abriga o Monumento aos Heróis da Revolução Pernambucana de 1817, de Abelardo da Hora, inaugurado em 1994. Durante a revolução, a Praça da República era conhecida como Campo da Honra, onde foi apresentada a bandeira da república pernambucana e onde foram enforcados líderes do movimento, como Leão Coroado, Vigário Tenório e Domingos Teotônio.

Seminário de Olinda
Fundado em 1800, foi o maior centro irradiador de ideias democráticas do país, na época. Foi o local onde leigos e clérigos se tornaram revolucionários, inspirados pelas ideias da Revolução Francesa. O conjunto arquitetônico formado pela Igreja de Nossa Senhora da Graça e o antigo seminário fica no ponto mais alto de Olinda, no Alto da Sé.

Forte das Cinco Pontas
A fortaleza localizada no bairro de São José foi cenário do estopim da revolução. Lá, no dia 6 de março de 1817, o capitão José de Barros Lima matou o brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro, responsável pelo forte, após rejeitar voz de prisão por participar de uma conspiração para libertar Pernambuco da Coroa portuguesa. Nas proximidades do forte, Frei Caneca foi fuzilado anos depois. É possível visitar o local, onde foi colocado um busto do revolucionário.