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A conta do crescimento desordenado
Décadas de falta de planejamento causaram impactos ambientais em Boa Viagem. Grupo de pesquisadores tenta entender e refrear esse processo
Rosália Vasconcelos
rosalia.vasconcelos@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 09/11/2018 09:00
O impacto que o crescimento urbano desordenado pode ter em um bairro ou em uma cidade nem sempre é visto a olho nu. A falta de planejamento de uma região traz consequências mais graves, além do que parece óbvio, como engarrafamentos, problemas com a gestão do lixo e rede de drenagem insuficiente para atender a demanda.
Dentro dessa perspectiva, um grupo de pesquisadores do departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) vem trabalhando desde 2002 sobre como o processo de ocupação do bairro de Boa Viagem trouxe efeitos irreversíveis para o meio ambiente e para a população. Algumas propostas foram elaboradas pelos profissionais no sentido de amenizar alguns desses impactos.
Os pesquisadores puderam reunir os impactos do desenvolvimento não planejado de Boa Viagem em dois grupos. “O primeiro diz respeito aos efeitos da urbanização em terra firme, como a supressão total das áreas de restingas, alagados, a redução da floresta do manguezal e a perda de vegetação nativa. A impermeabilização do solo e a interferência na circulação do ar, provocadas pela excessiva verticalização, formam grandes ilhas de calor, sobretudo nos trechos onde há amplos estacionamentos. Além disso, os prédios tomam sol o dia inteiro e de noite não conseguem dissipar totalmente o calor que acumulam, interferindo na temperatura interna do bairro, sobretudo no verão, com consequências diretas no conforto térmico e na saúde das pessoas”, cita a professora e pesquisadora do departamento de Oceanografia da UFPE, Mônica Ferreira da Costa.
Para se ter uma ideia, hoje Boa Viagem apresenta um índice de 5,17% de área verde, que inclui qualquer espaço com vegetação, gramas, pequenas árvores, indicando uma impermeabilização quase total do solo. No bairro vizinho, o Pina, esse percentual é de 36,78%, graças à resistência dos manguezais, de acordo com levantamento feito pela Secretaria municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente.
“A infraestrutura urbana não se desenvolveu na mesma proporção e velocidade do aumento populacional no bairro. O mau gerenciamento dos resíduos sólidos, além da grande quantidade de dejetos de animais, por exemplo, têm trazido sérios problemas como a contaminação dos aquíferos, como os canais e manguezais”, acrescenta Mônica. Além da UFPE, trabalham no projeto pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Faculdade Nova de Lisboa.
Além dos impactos provocados na área continental, os pesquisadores identificaram aqueles que avançam em direção ao mar. “As construções erguidas na Avenida Boa Viagem imobilizaram o pacote sedimentar (areia solta da praia), necessário para absorver a energia do mar quando vem uma onda mais forte, uma tempestade ou uma ressaca. Esse crescimento da cidade para cima da praia e a supressão da areia obrigaram a realização de obras para preservar o patrimônio público (áreas urbanizadas, como o calçadão) e o privado (prédios e casas) das erosões, mas que trazem um enorme impacto para o ambiente marinho. Sem contar o alto preço que se paga, tanto do ponto de vista financeiro quanto social. Muitas vezes o governo realiza com dinheiro público obras para proteger empreendimentos particulares”, reflete Mônica.
Ela lembra que há trechos do pacote sedimentar da orla que ainda estão preservados, na altura do Terceiro Jardim de Boa Viagem até o Pina.
Outro ponto destacado como efeito da verticalização no meio ambiente natural é a sombra que se faz na areia da praia, programada para ser exposta ao sol. “A areia possui microorganismos. O sol e o calor são os responsáveis por matar esses microorganismos e equilibrar o ecossistema. Como o sol só incide diretamente na faixa de terra por uma parte do dia, a areia fica contaminada, sobretudo por causa dos animais e do lixo proveniente do comércio”, acrescenta Mônica Ferreira da Costa.
De acordo com o pós-doutorando Mateus Magarotto, que também trabalha na pesquisa, a falta de regulamentação e controle das atividades comerciais na faixa de areia trazem sérias consequências para o meio ambiente. “Os barraqueiros utilizam motores de captação de água do lençol freático para que as pessoas tomem banho e eles possam lavar seus utensílios, contaminando o lençol freático e podendo levar à escassez de sua água”, alerta Magarotto.
A primeira fase do trabalho se deteve a observar como se deu o processo de desenvolvimento urbano da Avenida Boa Viagem da década de 1940 até hoje, como foi sendo a substituição das casas por pequenos edifícios, seguido pelas torres, e quais impactos essas mudanças trouxeram para a área em frente ao mar. Na segunda etapa, foi observada a urbanização no interior do bairro, que aconteceu de forma não sustentável e à mercê dos interesses da iniciativa privada, dentro da mesma lógica da orla.
“A verticalização se deu primeiro na orla, depois na Rua dos Navegantes, no entorno da Praça de Boa Viagem, seguindo para a faixa de terra entre os rios Setúbal e Jordão. Interessante observar que nas avenidas Conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira, muitas casas residenciais foram abrindo espaço para atividades comerciais e são os trechos menos volumétricos do bairro”, destaca Mateus.
Dentro dessa perspectiva, um grupo de pesquisadores do departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) vem trabalhando desde 2002 sobre como o processo de ocupação do bairro de Boa Viagem trouxe efeitos irreversíveis para o meio ambiente e para a população. Algumas propostas foram elaboradas pelos profissionais no sentido de amenizar alguns desses impactos.
Os pesquisadores puderam reunir os impactos do desenvolvimento não planejado de Boa Viagem em dois grupos. “O primeiro diz respeito aos efeitos da urbanização em terra firme, como a supressão total das áreas de restingas, alagados, a redução da floresta do manguezal e a perda de vegetação nativa. A impermeabilização do solo e a interferência na circulação do ar, provocadas pela excessiva verticalização, formam grandes ilhas de calor, sobretudo nos trechos onde há amplos estacionamentos. Além disso, os prédios tomam sol o dia inteiro e de noite não conseguem dissipar totalmente o calor que acumulam, interferindo na temperatura interna do bairro, sobretudo no verão, com consequências diretas no conforto térmico e na saúde das pessoas”, cita a professora e pesquisadora do departamento de Oceanografia da UFPE, Mônica Ferreira da Costa.
Para se ter uma ideia, hoje Boa Viagem apresenta um índice de 5,17% de área verde, que inclui qualquer espaço com vegetação, gramas, pequenas árvores, indicando uma impermeabilização quase total do solo. No bairro vizinho, o Pina, esse percentual é de 36,78%, graças à resistência dos manguezais, de acordo com levantamento feito pela Secretaria municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente.
“A infraestrutura urbana não se desenvolveu na mesma proporção e velocidade do aumento populacional no bairro. O mau gerenciamento dos resíduos sólidos, além da grande quantidade de dejetos de animais, por exemplo, têm trazido sérios problemas como a contaminação dos aquíferos, como os canais e manguezais”, acrescenta Mônica. Além da UFPE, trabalham no projeto pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Faculdade Nova de Lisboa.
Além dos impactos provocados na área continental, os pesquisadores identificaram aqueles que avançam em direção ao mar. “As construções erguidas na Avenida Boa Viagem imobilizaram o pacote sedimentar (areia solta da praia), necessário para absorver a energia do mar quando vem uma onda mais forte, uma tempestade ou uma ressaca. Esse crescimento da cidade para cima da praia e a supressão da areia obrigaram a realização de obras para preservar o patrimônio público (áreas urbanizadas, como o calçadão) e o privado (prédios e casas) das erosões, mas que trazem um enorme impacto para o ambiente marinho. Sem contar o alto preço que se paga, tanto do ponto de vista financeiro quanto social. Muitas vezes o governo realiza com dinheiro público obras para proteger empreendimentos particulares”, reflete Mônica.
Ela lembra que há trechos do pacote sedimentar da orla que ainda estão preservados, na altura do Terceiro Jardim de Boa Viagem até o Pina.
Outro ponto destacado como efeito da verticalização no meio ambiente natural é a sombra que se faz na areia da praia, programada para ser exposta ao sol. “A areia possui microorganismos. O sol e o calor são os responsáveis por matar esses microorganismos e equilibrar o ecossistema. Como o sol só incide diretamente na faixa de terra por uma parte do dia, a areia fica contaminada, sobretudo por causa dos animais e do lixo proveniente do comércio”, acrescenta Mônica Ferreira da Costa.
De acordo com o pós-doutorando Mateus Magarotto, que também trabalha na pesquisa, a falta de regulamentação e controle das atividades comerciais na faixa de areia trazem sérias consequências para o meio ambiente. “Os barraqueiros utilizam motores de captação de água do lençol freático para que as pessoas tomem banho e eles possam lavar seus utensílios, contaminando o lençol freático e podendo levar à escassez de sua água”, alerta Magarotto.
A primeira fase do trabalho se deteve a observar como se deu o processo de desenvolvimento urbano da Avenida Boa Viagem da década de 1940 até hoje, como foi sendo a substituição das casas por pequenos edifícios, seguido pelas torres, e quais impactos essas mudanças trouxeram para a área em frente ao mar. Na segunda etapa, foi observada a urbanização no interior do bairro, que aconteceu de forma não sustentável e à mercê dos interesses da iniciativa privada, dentro da mesma lógica da orla.
“A verticalização se deu primeiro na orla, depois na Rua dos Navegantes, no entorno da Praça de Boa Viagem, seguindo para a faixa de terra entre os rios Setúbal e Jordão. Interessante observar que nas avenidas Conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira, muitas casas residenciais foram abrindo espaço para atividades comerciais e são os trechos menos volumétricos do bairro”, destaca Mateus.
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