Santa Cruz é sinônimo de polo têxtil Cidade do Agreste responde por 30% do da produção no estado e tem marcas espalhadas pelo país

THATIANA PIMENTEL
thatiana.pimentel@ diariodepernambuco.com.br

Publicação: 14/01/2017 03:00

Santa Cruz do Capibaribe, cidade onde nasceu a feira da sulanca, vive o auge da sua influência no cenário de confecções brasileiro.  As marcas locais se espalharam pelo país, principalmente no Nordeste, Norte e Centro-Oeste. O que pouca gente sabe, até mesmo entre os pernambucanos, é que, sozinha, Santa Cruz responde por 30% de tudo o que é produzido no Polo Têxtil de Pernambuco, o que representa R$ 2,4 bilhões por ano do Produto Interno Bruto (PIB)  do estado.

Considerando que o nosso polo é o segundo maior do país, perdendo apenas para São Paulo, é fácil chegar à conclusão de que Santa Cruz do Capibaribe é a maior cidade produtora de confecções em malha de todo Norte e Nordeste brasileiro e caminha para chegar, em 2020, à maior produção de malha do Brasil, segundo dados da própria prefeitura. Nem a seca afeta a produção local, já que a maioria das fábricas de Santa Cruz não depende de água para lavagem do jeans, como a vizinha Toritama. A cidade é quase um oásis produtivo em meio ao deserto do Agreste pernambucano. Até a feira da sulanca, que ficou conhecida em todo o país, foi a primeira a se modernizar. Há dez anos se transformou no Moda Center Santa Cruz, hoje, o maior centro atacadista de confecções do Brasil.  Uma em cada cinco cidades pernambucanas possui empreendedores no espaço, que reúne 11 mil boxes, de 54 localidades produtoras. A gestão é feita pelos próprios feirantes, com recursos do pagamento de taxas mensais.

Em sua trajetória, o Moda Center vem registrando um aumento de 10% nas vendas por ano. Índice repetido no ano passado e uma estimativa de crescimento entre 8% e 10% este ano também, independentemente da retração econômica. O espaço já recebeu, inclusive, mais de 140 mil pessoas espalhadas em 120 mil metros quadrados de área construída em apenas dois dias de feira. Ao todo, são 150 mil empregos diretos gerados no local. Agora, a feira e suas principais marcas olham para o futuro e encaram a crise econômica com investimentos e inovação.

“Já dominamos o mercado C, D e E. Em 2017, queremos consolidar nossa atuação no mercado B e, para isso, precisamos de formalização, automação e profissionalização das empresas locais. Estes são os maiores desafios de Santa Cruz e de todas as cidades do polo têxtil”, afirma Allan Carneiro, síndico do espaço. Segundo ele, a formalização está sendo agilizada com a sala do empreendedor, montada em parceria com o Sebrae dentro do shopping. “Em três anos, já tivemos mais de 1,2 mil inscrições na categoria microempreendedor individual.”

Apesar disso, grande parte dos comerciantes de Santa Cruz continua na ilegalidade. O que desfavorece o crescimento das marcas pois, com a formalização, as empresas conseguem recursos para investir no negócio, em linhas de crédito do Banco do Nordeste e do BNDES, e contratar mão de obra qualificada. Vale ressaltar que quase 80% de toda a mão de obra capacitada recebe treinamento na escola do Senai no município.

Já a automação, o desafio número dois, precisa de investimentos dos empreendedores locais em máquinas e softwares e mão de obra especializada. E tudo isso depende muito da formalização, uma vez que os investimentos são altos e, para tal, os empresários precisam de crédito. Por fim, Santa Cruz enfrenta ainda a necessidade de profissionalizar as fábricas, para atender com produtos adequados a uma exigente classe B e encarar o aumento nas vendas do varejo, que chega a 30% da produção. “Acreditamos que a tendência do Moda Center é vender mais para o consumidor final, continuando também com seus clientes de atacado”, diz Allan Carneiro. “Com a crise, as pessoas estão correndo atrás de preços baixos para manter o consumo e é justamente isso que oferecemos”, reforça.

Conheça o polo em Santa Cruz

Curiosidades

  • A primeira produção de Santa Cruz do Capibaribe foi de alpercatas e colchas com retalhos de tecido, em 1930;
  • As confecções da cidade começaram quase por acaso, quando um fabricante de colchas recebeu retalhos maiores, que vinham, na época (1930) do Recife, Olinda e Camaragibe. Ele resolveu fazer shorts dos retalhos e deu início à primeira produção de roupas da cidade;
  • O termo sulanca foi criado na cidade de Santa Cruz do Capibaribe para identificar as peças produzidas com helanca vinda do Sul do país (Sul + helanca = sulanca), maioria nas fábricas de confecções, em 1950;
  • As chamadas feiras da sulanca tiveram início também em Santa Cruz, em 1960, quando as ruas Siqueira Campos e Avenida João Francisco Aragão começaram a abrigar bancos de madeira com peças de fabricantes locais. O nome, na época, era Feira de Capibaribe.
Fonte: Arranjo Produtivo Local (APL) de Confecções do Agreste de Pernambuco

Números
  • O Brasil é o 5º maior produtor de têxtil do mundo, perdendo apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
  • O Polo Têxtil de Pernambuco é o segundo maior do país, perdendo apenas para o Polo Têxtil de São Paulo
  • Todas as 187 cidades do estado produzem e comercializam no polo
  • O polo arrecada U$ 8 bilhões por ano, agrega
  • 32 mil unidades produtivas e recebe até oito milhões de visitantes por ano
  • O Agreste pernambucano corresponde a 77% da produção de todo o polo sendo:
    38,1% de Santa Cruz do Capibaribe
    24,1% de Caruaru
    14,8% de Toritama.
  • Os principais estilos comercializados são moda praia, fitness, bike, jeans, social, feminina, masculina, vestidos de noiva, enxovais, cama, mesa, banho, plus size, surf wear, moda íntima, infantil.
Fonte: Núcleo Têxtil de Pernambuco e Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit)