As últimas horas antes de votar o impeachment Junto com agosto, se encerra hoje o processo de impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff

Aline Moura
alinemoura.pe@dabr.com.br

Publicação: 31/08/2016 06:00

Neste último dia do mês de agosto termina um momento histórico da política brasileira. Hoje, com o país dividido e marcado por uma crise sem precedentes, acontece o julgamento final do processo de impeachment aberto contra a presidente Dilma Rousseff (PT), afastada do cargo desde o último 12 de maio. A sensação é de que 2015 nunca acabou, mas o tempo não tem dado tréguas. O resultado do passo das horas será visto no desfecho de um processo que se arrasta há quase nove meses, precisamente desde de 2 de dezembro do ano passado. Por meio do voto digital - palavra que soa amarga para muita gente num ano eleitoral -  81 senadores  decidem se Dilma permanece ou não no cargo e se o presidente interino, Michel Temer (PMDB), assume definitivamente o poder.

Se o impedimento for mesmo aprovado, como preveem os cálculos do governo interino, Dilma sofrerá o impeachment por 59 votos - mais de um terço dos parlamentares, como exige a Constituição brasileira. Contudo, não é algo fácil de cravar e garantir, correndo o risco de um erro histórico. Se tudo estivesse sacramentado, aliás, Temer não teria feito acordos de última hora com alguns senadores - oferecendo cargos de segundo escalão para seus aliados. Nem tampouco Dilma teria passado o dia entre reuniões e telefonemas no Palácio da Alvorada, contando com a interlocução do ex-presidente Lula, que também estava lá.

A gravidade de todo esse embate é saber que dificilmente um dos lados vencedores sairá sem contas a pagar, porque a dívida política é alta e tem juros embutidos. Não é à toa que depois de tantas discussões (somente ontem 66 senadores se inscreveram para fazer discursos de aproximadamente 10 minutos na tribuna), ainda tinha parlamentar afirmando não saber como iria votar até o fechamento desta edição, dizendo-se indeciso depois de falar durante um dia inteiro e logo após uma segunda-feira na qual Dilma discursou por 45 minutos e respondeu a perguntas por quase 13 horas no Congresso.

Enquanto os senadores faziam novos discursos, ontem, um deles passando mal e vomitando (Randolfe Rodrigues - Rede), Dilma e Lula telefonavam para os “indecisos”, Temer avisava sobre a importância da viagem que faria à China, ainda hoje, e a Câmara dos Deputados aprovava a reforma administrativa do governo que ainda não assumiu.

No decorrer do dia, após o veredicto, Dilma deve fazer um pronunciamento e Temer fará a primeira viagem internacional como efetivo, para a reunião do G-20, ao lado do ministro José Serra (Relações Exteriores) e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Aliados da presidente afastada contaram que ela assistirá ao julgamento final no Palácio da Alvorada, com as pessoas mais próximas, e Temer fará o mesmo.

Segundo o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a sessão do processo de impeachment deve começar às 11h. Antes da votação, o ministro que comanda o julgamento há cinco dias, fará um resumo do processo e quatro senadores, dois de cada lado, vão discursar por cinco minutos para defender sua posição contra ou a favor do impedimento final da presidente. Cada um com o desafio de controlar as últimas horas e o governo até 2018 - ou mais. (Com agência)