A chave para os segredos Odebrecht terá de identificar na Lava-Jato todas suas contas e doações eleitorais nos últimos 16 anos

Publicação: 21/01/2017 03:00

O acordo de leniência entre a empreiteira Odebrecht e a Operação Lava-Jato, firmado em dezembro e que veio a público nesta sexta-feira, determina que a empresa identifique todas as suas contas no exterior e as doações eleitorais feitas pelo grupo nos últimos 16 anos. Foram oito eleições no período, quatro delas presidenciais, desde 2000. Ao longo desses anos, a Odebrecht virou uma das principais financiadoras de campanha do país.

A empresa deve entregar ao Ministério Público Federal uma lista consolidada das doações, indicando o valor, a data, o beneficiário e quem autorizou o pagamento. O acordo ainda prevê que a empreiteira faça uma lista de todos os beneficiários de propina que atualmente tenham foro privilegiado. Ambas as listas devem ser entregues em 60 dias a partir da assinatura - ou seja, até o início de fevereiro deste ano.

A cúpula da Odebrecht levou aproximadamente um ano para romper o silêncio sobre o assunto e admitir os erros ao mercado desde a prisão do então presidente, Marcelo Odebrecht, em junho de 2015. Apesar do movimento, especialistas ouvidos pelo Correio Braziliense/Diario têm dúvidas sobre o futuro da empresa e da marca do grupo, fundado em 1944. A certeza é que o abalo foi grande e, se ela sobreviver, poderá não ter a mesma força de outrora.

A Lava-Jato, iniciada em 2014, afetou em cheio os negócios da Odebrecht, que vem encolhendo. A recessão na qual o país está mergulhado também ajudou nesse processo, pois o setor da construção é um dos mais afetados.

“Eu não poderia afirmar agora que é líquido e certo que a marca vai sumir, mas, certamente, ela vai perder valor. Mas ainda é cedo para saber de quanto será essa perda”, afirma Kátia Martins Valente, professora de gerenciamento de crise da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Dados dos relatórios anuais da Odebrecht revelam que o patrimônio líquido do grupo, que é o valor da empresa para os acionistas, foi abalado com o escândalo de corrupção. Encolheu quase 20% entre 2014 e 2015, passando de R$ 17,1 bilhões para R$ 13,7 bilhões.

O especialista em estratégia empresarial Sérgio Lazzarini, professor do Insper, evita sentenciar o grupo à morte ou qualquer outra empresa envolvida na Lava-Jato. “Ainda é cedo para afirmar se as empreiteiras envolvidas sobreviverão ou não. O impacto na marca, de forma geral, é bastante negativo, principalmente porque os governos são os maiores contratantes dessas empresas em diversos países”, explica, lembrando que o encolhimento de operações das construtoras brasileiras no exterior apenas está começando.

“A onda de quebra de contrato pode aumentar. A sobrevivência dessas empresas também dependerá do ambiente de negócios no Brasil. Se ele mudar, com mais controle e punição, será importante para definir o futuro dessas companhias”, complementa. (Da redação com Correio Braziliense e agências)

Cenário
  • 53 mil funcionários no Brasil e no exterior
  • 26,9% de aumento na receita bruta entre 2014 e 2015
  • R$ 132,5 bilhões a receita bruta em 2015
  • 25% foi o percentual da dívida bruta consolidada no mesmo período
  • R$ 110 bilhões foi o valor referente a essa dívida. Esse valor equivale a 8 vezes o patrimônio do grupo, ou seja, algoimpagável do ponto de vista contábil
  • R$ 62,1 bilhões, em 2014, era a dívida líquida
  • R$ 76,3 bilhões é o valor referente a junho de 2016
  • 24,6% de acréscimo