De volta ao interior sob queixas de prefeitos Seguindo uma nova versão do Todos por Pernambuco, Paulo Câmara enfrentará gestores que reclamam do atraso na liberação de recursos do FEM

CLÁUDIA ELOI
claudia.eloi@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 21/01/2017 03:00

O governador Paulo Câmara (PSB) está se preparando para colocar em março o “pé na estrada” e percorrer as cidades do interior, dentro de um novo formato do programa Todos por Pernambuco. Ao passar pelos municípios, no entanto, o socialista terá que “preparar o ouvido” para escutar as queixas dos atuais prefeitos, dos empreiteiros e da população por causa do atraso no repasse no Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM). Segundo os gestores, a suspensão da liberação da verba está provocando a paralisação de algumas obras e a cobrança dos prestadores de serviços, que reivindicam o recebimento pelos serviços executados.

Se na versão anterior a proposta do Todos por Pernambuco era ouvir a população para referenciar o planejamento estratégico do governo, a iniciativa agora será de prestação de contas do que foi realizado e do que deixou de ser feito por causa da crise financeira. Tudo será cuidadosamente apresentado sem que o PSB esqueça de “pavimentar” sua popularidade rumo à disputa de 2018. Paulo Câmara está em seu primeiro mandato e se prepara para a reeleição.

A Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão (Seplag) garantiu que o FEM não foi suspenso, que a liberação dos recursos segue critérios técnicos e o pagamento das parcelas ocorre de acordo com o cronograma de execução das obras. “O FEM prevê a liberação de R$ 732 milhões em suas três edições (2013/2014/2015) dos quais R$ 398 milhões já foram repassados. E mesmo num cenário de restrição fiscal, o Governo Paulo Câmara (2015/2016) repassou R$ 127, 2 milhões aos municípios, sendo que R$ 62,1 milhões em 2015 e R$ 65 milhões em 2016”, informou o secretário Márcio Stefanni. “O governo Paulo Câmara vem fazendo um grande esforço para garantir os repasses do FEM, por entender que eles são importantes para a realização de investimentos no atual momento de fragilidade das finanças. Quando todas as exigências são cumpridas e ainda assim ocorre atraso, este decorre da falta de caixa, já que a arrecadação foi fortemente afetada pela crise”, justificou Márcio Stefanni.

Os argumentos do governo, no entanto, não convenceram os prefeitos. O de Garanhuns, Izaias Régis (PTB), por exemplo, denunciou não apenas atraso na liberação das parcelas do FEM 2, referente a 2014, como acusou o PSB de discriminar os municípios de oposição ao governo. O petebista assegura que cumpriu todas as exigências, apresentou a documentação necessária e as obras já foram vistoriadas pelos técnicos, mas até agora o restante do recurso não foi liberado. Segundo Izaías, por causa da falta de repasse, algumas obras estão paralisadas. No caso de Garanhuns, são 4 contratos (a construção do campo de futebol do Parque Euclides Dourado e mais três obras de pavimentação) que somam R$ 2,7 milhões. “A prefeitura deu a contrapartida, já licitei, mas não podemos concluí-las porque falta o restante do recurso. Tem prefeito que já recebeu o terceiro FEM e eu estou lutando para liberar o segundo”, criticou.

O prefeito de Canhotinho, Felipe Porto (PSD), revelou que todo dia liga para o setor responsável pela liberação das parcelas do FEM na Seplag, mas a resposta é sempre a mesma: a de que não há previsão de pagamento e que a verba só será liberada se tiver o aval do secretário da Casa Civil, Antônio Figueira. A Cota do FEM 3 (2015) para Canhotinho está orçada em cerca de R$ 1,1 milhão, mas a prefeitura só recebeu 30% do valor, segundo o prefeito.

De acordo com Porto, o município já realizou 90% das obras de pavimentação da cidade, porém só foi liberada a primeira parcela de um total de quatro. “A vistoria já foi feita e aprovada pelo governo, mas os recursos referentes à 3ª e à 4ª parcela não saíram”, informou o pessedista, acrescentando que os credores fizeram o serviço e querem receber.

A situação não está inquietando apenas os atuais gestores. Prefeitos que perderam a eleição também estão com “cobradores” na porta. Um deles é o ex-prefeito de Angelim, Marco Calado (PSD). “Recebemos a primeira parcela do FEM 2 no valor de R$ 200 mil, mas o custo total da obra é R$ 450 mil. Deixei a prefeitura com a obra de pavimentação concluída, mas sem terminar de pagar. Os empreiteiros estão pedindo e ainda hoje esperam uma solução”, reclamou.

O FEM
  • O Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM) foi criado pelo ex-governador Eduardo Campos em 2013 com o objetivo de reforçar o caixa dos municípios
  • O FEM segue a mesma linha do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), criado pelo governo federal, e leva em consideração o número de habitantes de cada cidade para receber o recurso
  • O FEM é liberado em 4 parcelas. A primeira, no percentual de 30%, é liberada em até 15 dias após a aprovação do projeto. A segunda, também de 30%, é repassada em 60 dias depois da primeira. A terceira é de 20% e depende de uma declaração do prefeito da da aplicação dos recursos. Já a última (20%) só será paga após a apresentação do termo de recebimento de obra
  • O FEM/PE prevê a liberação de R$ 732 milhões em suas três edições (2013/2014/2015), dos quais R$ 398 milhões já foram repassados. O FEM 2015 ainda se encontra em estágio inicial, pois dos 248 planos aprovados, apenas três foram concluídos e 225 possuem de 0% a 30% de execução, segundo a Seplag
FEM 2013
R$ 228 milhões

Valor total repassado
R$ 222.864.738
Restos a pagar
R$ 5.135.262

FEM 2014
R$ 241 milhões

Valor total repassado

R$ 165.924.352
Restos a pagar
R$ 75.075.648

FEM 2015
R$ 263 milhões

Valor total repassado

R$ 9.276.795
Restos a pagar
R$ 253.723.205

Obs: Por enquanto, não há previsão de lançamento de uma nova edição do fundo, segundo a Seplag