Livros: TCE-PE avalia superfaturamento Auditoria inicial apontou compra de material didático para professores por quase o dobro pela Prefeitura do Recife. Gestão municipal nega irregularidades

Jorge Cosme

Publicação: 28/03/2025 03:00

Valor unitário do item foi R$ 310,94, mas o preço razoável foi estipulado em R$ 116 (REPRODUÇÃO/TCE-PE)
Valor unitário do item foi R$ 310,94, mas o preço razoável foi estipulado em R$ 116

O conselheiro do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE) Luiz Arcoverde Filho solicitou, ontem, um parecer complementar no processo que trata de um suposto superfaturamento na compra de livros para professores pela Prefeitura do Recife. A gestão João Campos (PSB) nega irregularidades e contesta as informações da primeira auditoria do órgão.

Há cerca de seis meses, uma nota técnica da Auditoria de Controle Externo do TCE-PE apontou que a Prefeitura pagou R$ 646.615,98 a mais na aquisição de 3.317 unidades do material didático do professor pela Secretaria de Educação do Recife junto à empresa Mind Lab. Segundo o documento, o valor unitário do item foi R$ 310,94, mas o preço razoável foi estipulado em R$ 116.

O cálculo para apontar a incompatibilidade do preço levou em conta a comparação com os custos do material didático do aluno, adquirido a R$ 58 cada. Para a equipe de auditoria, os manuais dos professores só deveriam custar até duas vezes esse valor, dado que “não apresentam diferenças significativas” em relação ao dos alunos. Todo o excedente, portanto, foi considerado como “superfaturamento”.

Os auditores do TCE-PE também alegaram que houve subutilização do material. Mais de 50% dos alunos e 40% dos professores não acessaram uma vez sequer a plataforma digital da Mind Lab no exercício de 2022, segundo a auditoria. Do total de estudantes, apenas 20,8% realizaram a “Avaliação Socioemocional da Mind Lab”.

Inicialmente, a auditoria havia identificado um prejuízo de R$ 3.327.600, mas o valor foi corrigido na nota técnica de setembro de 2024.  Foram classificados como responsáveis pela compra o secretário de Educação do Recife, Fred Amâncio; a secretária-executiva de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação do Recife à época, Juliana de Paula Guedes de Melo Santos; e a empresa Mind Lab. A Secretaria de Educação do Recife anunciou em 18 de março que Fred deixará o comando da pasta na próxima segunda-feira (31). Segundo a nota, ele aceitou a proposta de uma “grande instituição do terceiro setor”.

Para pedir o opinativo complementar, o conselheiro Luiz Arcoverde Filho, que é relator do processo, justificou que novas peças processuais foram acrescidas por diversos participantes após parecer anterior. A 2ª Procuradoria de Contas não tem prazo determinado para responder o pedido.

Em nota, o TCE-PE reforça que o processo de auditoria especial ainda não foi apreciado pelo relator e que se trata de uma etapa preliminar. O débito de R$ 646 mil é uma sugestão da auditoria, que poderá ou não ser aceita na fase de julgamento, de acordo com a Corte de Contas.