Que língua eles falam?

ANA CLÁUDIA DOLORES // anadolores.pe@dabr.com.br

Publicação: 07/07/2013 03:00

 (JULIO JACOBINA/DA/D.A PRESS)
O recifense teve uma semana dura. Desde as primeiras horas da segunda-feira, a cidade ficou vazia, sem ônibus. O que, no início, parecia uma luta legítima pela melhoria da qualidade do serviço, dos salários e das condições de trabalho, foi se revelando como uma briga política e econômica envolvendo empregados, sindicalistas, patrões e governo. No olho do furacão, estava o usuário do transporte público confuso, a pé e cansado de uma peleja que, cada vez mais, distanciava-se do interesse coletivo. Afinal, se o que se deseja é um serviço digno e tarifas coerentes, por que, então, não estamos falando a mesma língua?

No sistema de transporte público do Recife e das grandes cidades brasileiras, há muitas questões que precisam ser esclarecidas. Uma delas é saber o porquê de o usuário, até hoje, carregar nas costas todo um sistema, sem nenhum apoio do setor produtivo ou do estado para subsidiar as passagens. Será que poderíamos pagar menos por esse serviço?

Como se chega ao valor da tarifa hoje? Na Região Metropolitana do Recife, nunca foi feita uma licitação para selecionar, de forma transparente, as empresas que têm o direito de operar esse serviço. Na primeira vez que o estado tentou, no início do ano, nenhum candidato apareceu. A quem interessa manter a atual disposição das peças no tabuleiro?

Como todos já perceberam, a sociedade acordou e as travas das caixas-pretas começam a ser rompidas. E essa deve ser a próxima. O Ministério Público, em todo o país, já anunciou que vai investigar as contas do sistema. Vamos descobrir, então, que língua eles falam e começar a impor a nossa.