A História da Criméia pernambucana Engenho localizado no município de Escada, na Mata Sul, abriga 34 famílias de agricultores

JAILSON DA PAZ

Publicação: 23/03/2014 03:00

Iraci acredita que outro lugar com o mesmo nome tenha %u201Cinvejado%u201D o do lugar onde ela conheceu a casa grande (ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS)
Iraci acredita que outro lugar com o mesmo nome tenha %u201Cinvejado%u201D o do lugar onde ela conheceu a casa grande
Pernambuco tem sua Criméia. Longe da Ásia, o nosso pedaço de terra também viveu dias tensos… e de ocupação, como na agora república autônoma da Rússia. Se junto ao Mar Negro, soldados russos desfilam para marcar território e expulsar as forças armadas da Ucrânia, aqui o território é reservado aos sem-terra desde 1996. Nos últimos 18 anos, 43 famílias de agricultores ganharam o direito de cultivar a terra, mas, na briga para lidar com as plantações, nunca souberam a origem do nome do lugar a que tem direito de explorar. Para os antigos sem-terra, à Criméia pernambucana, localizada em Escada, Mata Sul, basta a antiga e ainda vigente denominação de engenho.

“Sempre ouvi dizer que esse lugar foi um engenho. Eu mesmo conheci a casa grande. Outra Criméia deve ter invejado o nome daqui”, acredita a agricultora Iraci Maria da Silva José, 58 anos. Iraci participou das três ocupações do engenho no primeiro semestre de 1996 e, recentemente, achou estranho telejornais citando outra Criméia. “Falam que essa é do outro lado do mundo”. E foi de lá que partiu a inspiração para o surgimento do nome do engenho.

A origem do nome bate no século 19, quando ocorreu a Guerra da Criméia (1853-1856). O desenrolar do conflito entre a Rússia e a coalizão do Império Turco-Otomano, Reino Unido, França e Sardenha ganhou as páginas do Diario. E alimentou a curiosidade dos pernambucanos, que acompanhou a tudo atentamente. Daí, segundo o historiador Pedro Veloso Costa, o surgimento da Torre Malakoff, no Recife, nome vindo de uma das torre fortificada de Sebastopol, cidade portuária da Crimeia banhada pelo Mar Negro. Sebastopol ainda é lembrado na área rural do Cabo de Santo Agostinho, onde fica um engenho com tal nome.

Difícil mesmo é ditar o endereço do engenho no comércio. Segundo Keila Gomes, 17, quase ninguém acerta na escrita. “É comum as pessoas separem o nome do engenho em dois: Sebastião e Topol”, contou. Do velho engenho, Sebastopol nada preserva. Se o passado já não encontra eco na memória dos atuais moradores dos engenhos Criméia e Sebastopol, os recentes conflitos na Ucrânia acenderam a curiosidade para o passado. “Achei engraçado quando ouvi que existia um outro lugar com o nome de Criméia”, revelou Vandeci Cardoso, 60, presidente da associação dos assentados do engenho de Escada. Quem também vive lá é José Soares da Silva, 79. Ali, no meio do canavial e da mata, ele encontra araçás e pode tirar “lascas” de madeira. “Essa é a Quiriméia que conheço”, revelou.