Raphael Guerra
Tânia Passos
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Publicação: 20/04/2014 03:00
O início da decadência do Bairro do Recife se deu com o esvaziamento das atividades portuárias, mas, antes disso, as famílias que residiam nos prédios e sobrados em estilo neoclássico deixaram o bairro e passaram a ocupar outras áreas, como Boa Vista, Derby e Casa Forte, para fugir das zonas de prostituição que se instalaram no entorno do Porto. O bairro ficou desabitado e a imponência histórica se apagou por algumas décadas.
Somente no fim da década de 1980, quando houve a primeira tentativa de revitalização, com o polo gastronômico, os olhares começaram a se voltar novamente para ele. Nos últimos 25 anos, a ilha passou a sediar o poder municipal, se tornou endereço do Tribunal Regional Federal, Polícia Federal e Correios, além de shopping, centros culturais e o próprio Porto Digital. Apesar disso, ainda não conseguiu trazer de volta os moradores. O único núcleo habitacional é o da comunidade do Pilar.
Até o fim do ano, o município deve apresentar um plano urbanístico para o bairro. O desafio é torná-lo um espaço atrativo a qualquer hora do dia. O conjunto de experiências consolidadas e outras que ainda não saíram do papel serão essenciais para a formação do tecido urbano. “O bairro ideal é a aquele que quando as luzes dos serviços e comércio se apagam, se acendem as das moradias”, destacou a urbanista Amélia Reynaldo, que participou do projeto de revitalização na década de 1980 e fez o plano do Complexo Turístico Cultural Recife e Olinda.
As intervenções urbanas em curso, do projeto Porto Novo, do governo do estado, prometem mudar o cenário atual. “O bairro está recebendo empreendimentos privados de serviço e lazer”, comemorou o secretário de Planejamento do Recife, Antônio Alexandre. Segundo ele, a vitalidade do bairro será determinada pela capacidade de atrair pessoas. “O polo gastronômico não se sustentou sozinho. Foi um aprendizado”.
Ocupação começou em torno da atividade portuária |
A Prefeitura do Recife também pretende colocar em prática instrumentos legais como o IPTU progressivo, que aumenta a medida da degradação do imóvel; as operações de crédito, que permitem investimentos privados, e ainda a transferência do direito construtivo, através da qual o município poderá ceder outro espaço ao proprietário. “A ideia é atrair a iniciativa privada para investir em um bairro histórico, que será dotado de vários equipamentos urbanos”, concluiu.
Linha do tempo
Polo gastronômico dos anos 1990 não vingou |
Até 1540
O Bairro do Recife, então conhecido como bairro marítimo, era um povoado de Olinda formado por pescadores e familiares. Contava apenas com três armazéns e 40 casas
1548
O tráfico de escravos africanos serviu de motor para o auge da economia açucareira. A Rua da Senzala Velha (atual Rua da Guia) e a Rua da Senzala Nova (hoje Avenida Marquês de Olinda) são ocupadas por estrangeiros, pescadores, comerciantes e prostitutas
1630
Com o avanço da produção açucareira, acontece a invação holandesa em Pernambuco
Com 1,5 mil habitantes - alguns dormindo em casas e outros muitos em navios -surge a necessidade de ampliar o número de residências e ocupações de taipas e alvenaria de tijolos, chegando a 380. Os bairros de Santo Antônio e São José começam a ser ocupados
Surge a primeira Sinagoga das Américas, localizada na Rua dos Judeus, atual Rua do Bom Jesus
1654
Os holandeses são expulsos de Pernambuco
Começam as construções de sobrados portugueses com influência holandesa, altos e estreitos, de altura variada, com dois a quatro pavimentos. No térreo ficavam estabelecimentos comerciais, no primeiro andar escritórios e nos demais andares as residências
1710
Recife é elevada à categoria de vila, com cerca de 20 mil pessoas morando
1808
Com a abertura dos portos às nações amigas, o Bairro do Recife passa a ser ocupado por estrangeiros, entre eles os franceses, que constroem escritórios e lojas
1850
Com o fim do regime escravocrata e a chegada das primeiras embarcações a vapor, é construída a Torre Malakoff, símbolo do Recife Antigo, com o objetivo de ajudar na defesa militar
1910/1913
Surge o projeto de expansão do porto. O desenvolvimento do Bairro do Recife amplia drasticamente a prostituição de mulheres e aumenta a sujeira espalhada
1940/1950
Surgem sobrados em ruas como Bom Jesus e Guia, num período de ampliação da área boêmia, com prostíbulos e boates, paralelamente ao perfil comercial e financeiro local
1970
Elaborado o Plano de Preservação dos Sítios Históricos da Região Metropolitana do Recife, com a preocupação de preservar a memória da cidade
1980
Com o início do trabalho no Complexo de Suape, o Porto do Recife vive um declínio. O movimento de marinheiros e comerciantes diminui, dando início ao processo de decadência do bairro
1987
Surge o Plano de Reabilitação do Bairro do Recife para dar continuidade às ações voltadas à preservação e ao turismo
2000/2010
O Bairro do Recife vive um período de abandono, com fechamento de bares, boates e outros estabelecimentos comerciais
2010/2014
O bairro, que não costuma ser usado como ligação geográfica entre outras áreas da cidade, começa a virar um laboratório urbano
O bairro do Recife hoje
974
imóveis não residenciais
602
habitantes (segundo Censo 2010)
516
terrenos
4,7
quilômetros quadrados de extensão
78
imóveis residenciais