Publicação: 21/06/2015 03:00
O debate esquenta
O debate está na praça. No centro, a maconha. De um lado, os defensores da ervinha. Eles querem liberar a cannabis. Lutam para que ela deixe de ser crime. Do outro, os acusadores. Exigem que a verdinha continue condenada. Enquanto uns e outros esperneiam, pintou uma questão. Trata-se do substantivo que ora aparece com uma grafia, ora com outra. Afinal, é descriminação ou descriminalização?
Consultados, Aurélio, Houaiss & cia. acendem o sinal verde para as duas formas. Ambas dão o recado claro: querem que a maconha seja tratada como o cigarro e o álcool. Droga lícita, poderia ser comprada em supermercado ou drogaria. Que tal?
Sem confusão
Olho vivo, moçada! Há duas palavras muiiiiiiiiiiiiito parecidas. Só uma letra as distingue. Trata-se de descriminação e discriminação. O prefixo des-, que aparece em descriminação, é o mesmo que aparece em desobediência e deslealdade. Significa não. Discriminação, por sua vez, quer dizer tratar de maneira diferente: Gabeira e Fernando Henrique defendem a descriminação da maconha. A Constituição considera crime a discriminação racial.
Diálogo de gerações
“A literatura nasce da literatura. Cada obra nova é continuação, por consentimento ou contestação, das obras anteriores. Escrever é, pois, dialogar com a literatura anterior e com a contemporânea.” (Leyla Perrone-Moisés)
Dois recados
São João ou são-joão? Depende. Ao escrever São João, falamos do santo. Ao grafar são-joão, a novela muda de enredo. Trata-se da festa que os nordestinos organizam como ninguém. O plural? É são-joões.
É assim
As festas juninas são tão legais que os brasileiros as encompridaram. Agora elas avançam pelo mês de julho. Viram julinas.
Sem vez
A discussão pintou na UnB. Estudantes comentavam o material distribuído. Uns achavam que os textos não tinham nenhuma relação com a disciplina em estudo. Outros discordavam. Consideravam-nos pra lá de úteis.
— Ao meu ver, disse um, o problema é a abrangência no tratamento dos temas."
— Ao meu ver?, estranharam alguns. Não mesmo. A forma é a meu ver.
O achismo pegou fogo. Dividida, a turma fez uma aposta. Quem perdesse pagaria o lanche. Onde buscar a resposta? Foram ao dicionário. Lá estava, escancarado no Aurélio: “A meu ver, Pedro não tem razão”. Na hora da dolorosa, ouviram-se gemidos. Pudera. O bolso é a parte mais sensível do corpo. Como dói!
Invejosos
Outras expressões seguem a receita do “a meu ver”. Formadas por pronome possessivo, mandam o artigo plantar batata na esquina. É o caso de a meu pedido, a meu lado, a meu modo, a meu bel-prazer: Fez o trabalho a meu pedido. Sentou-se a meu lado. Segui o roteiro a meu bel-prazer.
Leitor pergunta
Metade das laranjas está verde? Estão verdes? Nunca sei.
Elias Araújo, Recife
A regra da concordância é pra lá de conhecida. O verbo concorda com o sujeito em pessoa e número. Mas há casos especiais. Um deles é o partitivo. Expressões que indicam quantidade — grande número de, pequena quantidade de, a maioria de, a maior parte de, uma porção de, metade de — seguidas de complemento jogam em dois times.
O verbo pode concordar com o núcleo do sujeito (número, quantidade, porção, parte, metade) ou com o complemento. A escolha, claro, não é gratuita. O verbo valoriza o termo com que concorda. Se está no singular, dá ênfase ao núcleo do sujeito. Se no plural, ao complemento: Metade das laranjas está verde. Metade das laranjas estão verdes. A maior parte dos alunos saiu. A maior parte dos alunos saíram. A maioria dos eleitores está decepcionada. A maioria dos eleitores estão decepcionados.
Reparou? O verbo concorda com um ou com o outro. Quando só há um número (singular ou plural), não existe escolha. O verbo tem de concordar com ele: A metade está verde. A maior parte saiu. A maioria está decepcionada. A maioria da população votou na chapa diversificada.