Questão racial é tema da redação Segunda chamada do Enem foi encerrada ontem, com participação de cerca de 17 mil alunos em Pernambuco e absteção de 41% em todo o país

Publicação: 05/12/2016 03:00

Os participantes da segunda edição deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) fizeram, ontem, uma redação sobre Caminhos para combater o racismo no Brasil. O tema tem clara relação com o da primeira edição, de novembro, que foi Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil. O assunto foi bem recebido pelos feras, nos locais de prova e nas redes sociais. Em Pernambuco, cerca de 17 mil candidatos prestaram o exame.

No Brasil, o Ministério da Educação destacou oito eliminações em decorrência de descumprimento de regras. A abstenção foi de 39,7% no primeiro dia e de 41,4% no segundo dia de provas. Diante do percentual geral do Enem deste ano (30,4%), maior que o de 2015 (28%), o ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que o MEC gastou R$ 236 milhões com as abstenções.

Os professores do Colégio Boa Viagem ouvidos pelo Diario ressaltaram que as provas repetiram o nível da avaliação realizada em novembro e pontuaram, inclusive, melhorias em relação à segunda etapa, criada em função da impossibilidade de aplicar as provas para todos os alunos, por causa de ocupações em instituições de ensino.

No Recife, a Faculdade Frassinette do Recife (Fafire), na Avenida Conde da Boa Vista, foi um dos pontos de prova e de expectativas dos feras. Pela manhã, um grupo de estudantes da Escola Estadual Joaquim Távora aguardava a abertura do portão. Ánderson da Silva, 18, tenta uma vaga em direito. Já os amigos André Luiz Magalhães, 20, e Beatriz Mesquita, 18, querem psicologia e fisioterapia, respectivamente. “Me preparei no Prevupe e acho que tenho chances”, disse Ánderson, se referindo ao Pré-vestibular da Universidade de Pernambuco.

No sábado, os candidatos responderam a 90 questões de ciências humanas e ciências da natureza. Ontem, aconteceram provas de linguagens, códigos e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; e a redação. O tempo de duração foi maior, cinco horas e 30 minutos para responder a 90 questões de múltipla escolha e fazer o texto argumentativo de no máximo 30 linhas.

Para a redação, que representa uma pontuação importante, os participantes do Enem contaram com quatro textos motivadores para subsidiar o texto: um deles tratou da condição do homem negro; o segundo, um artigo de lei que tipifica o preconceito de raça ou de cor como crime; o terceiro, uma peça publicitária que distingue o racismo de injúria racial; e o quarto uma definição acerca do que são ações afirmativas.

“Não dava para falar de combate ao racismo sem citar a escravidão como causa. É por conta disso que ainda hoje tem branco querendo colocar negro em condição abaixo dele”, comenta Andreza Duarte, 17 anos, que fez o Enem por experiência. “Até cogitei que o tema seria racismo ou obesidade. São fáceis, mas o risco é ficar no debate comum ou não conseguir resumir bem”, ressalta Anne Steffany Freire, 18 anos.

Antony Feliciano, de 32 anos, sentiu o peso de quase cinco anos sem estudar conteúdos escolares. “Achei a prova difícil no geral, principalmente matemática”, disse, comentando buscar uma vaga no curso de administração.

Melhorias
O ministro da Educação disse que estuda lançar uma consulta pública sobre o Enem. Segundo ele, o objetivo é receber sugestões para melhorar a aplicação do exame. O governo pretende elaborar as questões ainda este mês e publicar as linhas gerais do debate em janeiro de 2017. Ele, no entanto, não descartou que a sociedade seja consultada sobre, por exemplo, a possibilidade de o Enem ocorrer apenas em um dia. (Com Agência Brasil)

Números
  • 8.627.195 alunos inscritos no país
  • 447.316 em Pernambuco (5,2% do total de inscritos)
  • 277.624 inscritos na segunda etapa no país
  • 17.155 inscritos na segunda etapa em Pernambuco
  • 163 municípios participaram da reaplicação no país
  • 418 foi o total de locais de prova
  • 8 municípios pernambucanos iveram provas
  • 20 locais funcionaram
Comentários

Português
Maria Pereira

“A prova, no geral, foi mais fácil que a primeira etapa porque apresentou mais diversidade de temas. Explorou vários gêneros textuais, abordou estratégias argumentativas. Fez o aluno pensar e observar as dinâmicas de interpretação, como de dedução, pressuposto ou de levantar hipóteses. Usou campanhas publicitárias, cartazes, músicas e várias formas de comunicação”

Literatura
Fátima Amaral

“O movimento modernista predominou. A primeira fase de Mário de andrade e Manoel Bandeira e a segunda fase, com Carlos Drumond de Andrade e Vinícius de Moraes. Assuntos bem tratados em sala de aula. Outro destaque foi Luis Fernando Veríssimo, que trata do humor com alguma crítica (caso de um velho com uma mulher nova), além de Machado de Assis”

Espanhol
Marcos Nascimento

“Permaneceu a temática da primeira prova. Tema abrangente, com textos tranquilos e pertinentes ao cotidiano do ensino médio. O enem usou textos de jornais (El País e Clarín) que cobraram interpretação. O aluno que teve a prática de leitura diária não teve preocupação na prova. O nível foi mediano, mas estava de acordo com o tratado no ensino médio”

Inglês
Marilson Corcino

“As questões ficaram dentro do esperado. Tratou de interpretação de texto nas linguagens verbal e não verbal. A prova testou o aluno em vários gêneros de texto. Uma prova muito boa que contemplou o estudante que se preparou, porque exigiu conhecimento de acesso à informação e testou se ele reconhecia função textual e vocábulos dentro de um contexto de imagem”

Matemática
Walfrido Campos

“Prova excelente. Melhor distribuída que a edição de novembro. Trabalhou mais questões de geometria e de matemática básica, como probabilidade e estatística. A dificuldade ficou no nível esperado. Se sairá bem quem fez o dever de casa”

Redação
Eduardo Pereira

“Foram duas edições com temas diferentes, mas de mesmo perfil. O Enem mostrou que quer levantar o debate e ouvir alternativas que os estudantes levantarão para discutir e enfrentar problemas sociais. Impossível algum estudante não ter tratado ou discutido o racismo neste ano. É um tema da realidade e é muito próxima”