O 'maligno vapor' da democracia

Publicação: 04/03/2017 09:00

O nascimento prematuro da Revolução, no Recife, foi a causa maior dos seus problemas. Alertado, o príncipe D. João sufocou rapidamente o movimento no Rio de Janeiro e o Conde dos Arcos fez o mesmo, na Bahia. Os pernambucanos tiveram, então, de enfrentar o poderio português acompanhados apenas pelos paraibanos e potiguares, poucos e de parcos recursos.

Havia aqui apenas uns seiscentos oficiais e praças mal pagos, mal armados e sem adestramento. Por isso os portos pernambucanos foram facilmente bloqueados por uma esquadra monarquista, no dia 11 de abril. E como nesta província só se plantava cana e algodão, lavouras muito lucrativas, e todo o feijão, farinha e carne de charque eram importados da Bahia e do Rio Grande do Sul, a fome logo começou a corromper o prestígio da República.

Em terra, as valentes as tropas revolucionárias, mesmo despreparadas, chegaram a vencer algumas batalhas travadas na Zona da Mata Sul contra milícias de senhores de engenhos monarquistas, receosos de perder seus escravos. Mas foram derrotadas no Engenho Trapiche, no dia 13 de maio, por um exército despachado da Bahia, engrossado por alagoanos. E já no dia 19 de maio a revolução acabou e uma terrível repressão teve início.

Dezenas de patriotas bons e honestos foram, então, mortos, e centenas foram presos ou degredados, tendo seus bens sequestrados e suas famílias lançadas na miséria. Pernambuco foi tratado como um país inimigo e ocupado por três mil tropas portuguesas, que aqui praticaram todo tipo de barbaridades. E, como castigo, ainda perdeu a comarca das Alagoas, declarada autônoma pelo príncipe D. João.

“De Pernambuco emana o maligno vapor da democracia”, escreveu um agente do príncipe, num relatório anônimo. Vapor que não cessou de emanar, em 1821, 1824, 1848 e em outros eventos revolucionários, ao longo das décadas seguintes.